Campo Grande News em 21 de Janeiro de 2016
Os técnicos que formam o comitê que implantou o projeto-piloto de combate à dengue em Mato Grosso do Sul pediu detalhes sobre a eficácia da tecnologia de combate ao Aedes aegypti, desenvolvida pela empresa inglesa Oxitec, que tem filial no interior paulista. O método envolve o uso de mosquitos machos que têm a genética alterada em laboratório. A partir do momento em que cruzam com a fêmea selvagem, eles geram filhotes que morrem ainda no estágio de larva, ou seja, não chegam a fase adulta, freando a transmissão da dengue, zika e chikungunya.
O gerente de negócios da Oxitec, Cláudio Fernandes, esteve na quarta-feira (20) na Sala de Situação do Governo do Estado, responsável pelo monitoramento da epidemia nos municípios, para explicar os projetos que estão sendo desenvolvidos na Bahia e na cidade paulista de Piracicaba, que contratou a empresa. Apesar de mostrar gráficos e estudos que apontam a redução em até 92% a infestação do mosquito nos locais que adotaram a tecnologia, os técnicos da Secretaria de Saúde do Estado preferem manter cautela quanto a adoção da técnica.
Fernando Antunes/Campo Grande News
Comitê se reuniu ontem com representante da Oxitec, que apresentou tecnologia envolvendo mosquitos transgênicos
"Queremos mais dados de órgãos federais comprovando a eficiência e também vamos até a fábrica que produz os mosquitos transgênicos para conhecer ao vivo todo o processo. Nossa preocupação é saber se há impacto na natureza, já que o método consiste em inserir milhares de novos mosquitos no ecossistema", destaca o coordenador de vetores do Estado, Mauro Lucio Rosa.
Já a superintendente substituta da Vigilância em Saúde, Edna Salgado, diz que é essencial a aprovação da Anvisa ou algum outro órgão regulador para adotar o método, que por enquanto vem sendo utilizado como projeto teste nas cidades em que foi aplicado. Cláudio Fernandes assegura que a empresa vem mantendo contato com a Anvisa, porém, a informação é de que o órgão não decidiu se será o responsável pela aprovação final que irá permitir o uso comercial da tecnologia. "Pode ser que seja algum outro ministério, como o da Agricultura", ressaltou.
No entanto, ele diz que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão ligado ao Ministério da Ciência, já aprovou a liberação comercial do mosquito transgênico para controlar a população do Aedes aegypti selvagem. Quanto a eficácia do método, Cláudio ressalta que é preciso tomar apenas alguns cuidados para garantir que o mosquito transgênico morra durante a aplicação de fumacê. "Basta aplicar o inseticida em horários diferentes da soltura dos mosquitos no bairro", diz.
Com exceção do fato de produzir filhotes que não chegarão a vida adulta, o "Aedes do Bem" tem período de vida de cerca de quatro dias e características semelhantes ao Aedes selvagem, ou seja, também voa 150 metros de distância e a uma altura de até três metros. Assim como o selvagem, ele também não transmite a dengue, zika ou chikungunyha, já que a transmissão cabe apenas à fêmea.
Mosquito transgênico pode ter custo médio de R$ 40 mil por mês
Durante explicação sobre a tecnologia dos mosquitos transgênicos no combate à dengue para os técnicos da Secretaria de Estado de Saúde, o gerente de Negócios da empresa Oxitec, Cláudio Fernandes, disse que o custo para implantar o projeto em uma determinada área selecionada pelo poder público, tem um custo mensal de pelo menos R$ 2,50 por habitante.
Ele ressaltou que o total de mosquitos soltos na área delimitada, também depende do número de habitantes que residem na região, mas o cálculo médio é de que é preciso soltar entre 100 e 200 mosquitos machos por habitante. Como o mosquito modificado geneticamente vive apenas quatro dias, é preciso realizar solturas semanais para garantir a eficácia do método.
Uma vez solto na natureza, o "Aedes do Bem" vai copular com a fêmea selvagem, mas devido a sua genética alterada em laboratório, fará com que a fêmea procrie filhotes que não passarão do estágio de larvas.
De acordo com Mauro Lucio Rosa, coordenador estadual de vetores, o custo da tecnologia será analisado, mas não deve ser um fator que influencie de forma negativa a decisão do Estado em adotar os mosquitos transgênicos. "O que importa é salvar vidas. Já investimos milhões no combate e toda ajuda é bem vinda mas precisamos detalhar melhor os impactos desse método para o meio ambiente e sua eficácia", diz.
Ele também ressaltou que a utilização do mosquito transgênico no combate ao Aedes aegypti não substitui os métodos de controle de infestação e eliminação de focos já usados pelo poder público no combate à epidemia de dengue e outras doenças transmitidas pelo inseto.
Segundo ele, população não pode interromper as ações de limpeza nas residências. Nem a administração pública irá cancelar os diminuir as visitas domiciliares feitas pelos agentes de endemias, complementa. "É preciso ter em mente que essa tecnologia é um apoio, apenas mais um método que vai somar forças", ressalta.
As ações tradicionais de combate, como o fumacê, mutirões para limpeza de terrenos e campanhas de conscientização da população são mantidas, já que a tecnologia é adotada apenas em bairros com alta incidência do mosquito e por um período determinado. "O nosso carro-chefe será sempre a atuação do agente. Ele é quem, de fato, muda o comportamento das pessoas, mostrando a importância de evitar o surgimento de criadouros em casa, evitando a epidemia", diz Mauro Lucio.
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