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Para defender título, Mocidade traz enredo crítico, reflexivo e conta com tia “Ro” que “roda a baiana” pela agremiação

Leonardo Cabral em 08 de Fevereiro de 2023

Cheia de brilho, cores e alegria. Quem vê a escola de samba passando pela avenida, não imagina o trabalho que dá para apresentar esse espetáculo. Dentro da agremiação, cada um tem a sua função, mas há muitas pessoas que trabalham por amor. Por isso, esse ano, o Diário Corumbaense abre as “cortinas”, para mostrar o trabalho de pessoas que ficam no anonimato, mas que são fundamentais para que as escolas de samba busquem a nota 10 em todos os quesitos. É o quadro “Eu amo a minha escola”. 

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

“Amor, garra e luta. Rodo a baiana literalmente pela minha Mocidade”, diz tia "Ro"

“Amor, garra e luta. Rodo a baiana literalmente pela minha Mocidade”. É assim, que Rosangela Figueiredo, de 67 anos, mais conhecida como tia “Ro”, define o sentimento pelo Grêmio Recreativo Mocidade Independente da Nova Corumbá.

Há 23 anos, tia Ro, como também gosta de ser chamada, ajuda a colocar na avenida a escola de samba do coração. Ela diz que começou a ganhar gosto pelo Carnaval com a Mocidade.

“Não há explicação para tanto amor que sinto pela minha Mocidade. Me recordo desde o início, como trabalhamos (comunidade) para colocar a agremiação na avenida, que faz parte da minha história e trajetória no Carnaval. Antes cuidávamos de tudo, hoje, como a escola cresceu e é uma das grandes, cada qual tem sua função, mas sigo aqui sempre, cuidando da Nova Corumbá, seja no barracão ou de casa”, falou.

Ela é a responsável pela ala das baianas, há 10 anos vem à frente, como diretora, “organizando, fazendo as fantasias, os ajustes necessários, tudo é feito aqui, nada é de fora”, mencionou. Ainda segundo ela, quando necessário, “coloco a fantasia de baiana e saio também desfilando. Uma vez, para a escola não perder ponto, saí de baiana também, brigo pela minha Mocidade, rodo a baiana, brigo mesmo por ela”, completou.

Uma das grandes recompensas para Rosangela Figueiredo, é quando o cronômetro começa a valer para a Nova Corumbá. É um momento especial. “Inexplicável, vontade de chorar, muito emocionante, arrepio de cima a baixo. Não tem como definir essa sensação. É um momento o qual fazemos de tudo para que saia como planejamos e ver a escola passar sob aplausos do público que se contagia com a apresentação não tem nada que pague”, destacou.

Saúde

Com a voz um pouco trêmula, tia “Ro” revelou que vem enfrentando um problema de saúde, mas, mesmo assim, o amor que sente pela escola é maior e estará lá mais um ano acompanhando a Mocidade.

“Meu médico, durante a consulta, disse: 'se a senhora não estiver lá na Avenida à frente das baianas e com a Mocidade, não será a mesma coisa, então vai e desfila'. Ao escutar isso dele, chorei, pois ele sabe o quanto amo a minha escola e jamais a largaria. Enquanto tiver forças, lá estarei à frente da minha Nova Corumbá”, afirmou.

“Com as baianas, tenho seis Esplendores do Samba, tenho maior orgulho, mas sempre falo que isso não consigo sozinha e divido os prêmios com a escola. O que mais acho lindo é ter aquelas pessoas que desde o início somam e aos novos que chegam e trabalham para isso, humildade sempre dentro da escola”, afirmou. 

Enredo para defender o título

A Mocidade Independente da Nova Corumbá traz para a passarela do samba o enredo: “No grito dos oprimidos a voz do povo ninguém vai calar e no toque do meu tambor a arara voa ensinando o amor para quem não sabe amar”, crítico, reflexivo sem desafiar o divino ou ousar retratar o humano e seus retalhos da alma, na forma de como o ser humano analisa e se posiciona diante de fatos sociais, onde Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós?

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Enredo da agremiação será crítico, reflexivo, diz carnavalesco Edilson

“É um enredo que fala sobre os abandonados, os menos favorecidos, sobre julgar e ser julgado, a questão da LGBTQIA+, o preconceito de cor, raça e religião, e quem nós somos? Quem eu sou? Quem você é? Onde tudo se interliga, o porquê de ter menos favorecidos? Por que outras pessoas querem se beneficiar de certas situações? Esse enredo crítico e reflexivo será puxado nessa questão do porquê existem pessoas que não tem uma situação financeira estável, a falta de trabalho, por exemplo; a questão de furar a fila, você tira o direito da outra pessoa. A escola vem determinada, focada, mostrando a realidade não só do Brasil, mas que o mundo passa. Na última ala ‘a voz do povo é a voz do samba’ será um grito de socorro e falar que estamos aí sempre”, explicou resumidamente o carnavalesco Edilson Oliveira.

A Mocidade está 90% pronta. Ainda conforme o carnavalesco, a agremiação vem com 21 alas, 800 componentes e a bateria com 100 ritmistas. Ao todo, a escola se apresentará com quatro carros alegóricos e um tripé. “Iremos retratar a desigualdade em todos os gêneros e em todos os sentidos”, finalizou Edilson.

A Mocidade da Nova Corumbá é uma das dez escolas de samba que irão concorrer na 13ª edição do Esplendor do Samba, realizado pelo Diário Corumbaense

Ficha Técnica

Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente da Nova Corumbá

Fundação: 22/06/1999

Presidente: Reinaldo (Bá)

Cores: Verde, Vermelho e Branco

Carnavalesco: Edilson Oliveira

Enredo: "No grito dos oprimidos a voz do povo ninguém vai calar e no toque do meu tambor a arara voa ensinando o amor para quem não sabe amar"

Samba-enredo: "No grito dos oprimidos a voz do povo ninguém vai calar e no toque do meu tambor a arara voa ensinando o amor para quem não sabe amar"

Compositores: Jorginho Moreira / Rodrigo Cavanha / Sidney De Pilares

Intérpretes: BraguinhaIvonete, Hellen, Helder e Hiltinho

Mestre de Bateria: Marcigley Santana

Número de componentes: 800

Número de alas: 20

Número de carros alegóricos: 4 + 1 tripé

Componentes da bateria: 100

Porta-bandeira: Lorrainny

Mestre-sala: Wellinton Mocidade

Rainha da bateria: Carol Castelo

Informações: (67) 99916-6883


Letra do samba-enredo

QUEM SOU EU?

UM QUALQUER ENTREGUE A SORTE

DE UM CRIADOR DESAFIANDO A MORTE

UM ANJO CAÍDO, SEM ALMA E CORAÇÃO

UMA CRIANÇA SEM DESTINO E DIREÇÃO

QUE EU SEJA O PORTA-VOZ DESSA DESIGUALDADE

QUERO LUTAR POR NÓS, SEM MEDO DA VERDADE

ABANDONADO NUNCA DEIXO DE SONHAR

HOJE MEU CLAMOR VAI ECOAR

 

ENSINAR O AMOR A QUEM NÃO SABE AMAR

DIVIDIR! QUEM NÃO PODE DIVIDIR?

APRENDER E SABER PERDOAR

REFLETIR

 

NÃO FECHE OS OLHOS PRA COVARDIA

ALIMENTANDO A AMBIÇÃO

SIGO CARREGANDO ESSA CRUZ

NA FÉ, A LUZ DA NOSSA SALVAÇÃO

CHEGA DE INTOLERÂNCIA

HÁ ESPERANÇA EM CADA OLHAR

OH! CORUMBÁ, ONDE O SAMBA FAZ MORADA

OUÇA NOSSA BATUCADA

TAMBÉM SOMOS FILHOS DE DEUS

SOU RESISTÊNCIA, FORÇA SOBERANA

O CANTO FORTE QUE MANTÉM ACESA A CHAMA

 

A VOZ DO POVO NINGUÉM VAI CALAR

NEM O TOQUE DO MEU TAMBOR

SOU MOCIDADE, TEM QUE RESPEITAR

A ZONA SUL É O MEU AMOR