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Júri histórico em MS condena réus por execução de estudante

ca em 20 de Julho de 2023

Henrique Kawaminami/Campo Grande News

Momento em que juiz lê a sentença dos réus, Jamilzinho (jaqueta azul), Vlad (ao centro) e Marcelo Rios

Após cerca de 32 horas ouvindo depoimentos de nove testemunhas, assistindo a cenas perturbadoras e aos debates entre defesa e acusação, júri popular decidiu condenar Jamil Name Filho, 46, a 23 anos e 6 meses de reclusão, pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e emprego de emboscada e porte ilegal de arma. A sentença deverá ser cumprida inicialmente em regime fechado.

Para a maioria dos cinco homens e duas mulheres que o julgou, “Jamilzinho”, como é conhecido o filho mais velho de Jamil Name, figura lendária na história de Mato Grosso do Sul, foi quem mandou matar o ex-policial militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, 52, e acabou sendo o responsável pelo fuzilamento de Matheus Coutinho Xavier, filho do alvo, aos 20 anos, morto por engano.

O juiz Aluízio Pereira dos Santos aplicou pena de 20 anos de prisão para homicídio qualificado e de 3 anos e 6 meses para o de porte ilegal de arma. Jamilzinho foi absolvido da acusação de receptação, em relação ao carro usado na execução.

Os jurados também condenaram o ex-guarda municipal Marcelo Rios, 46, e o policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, 64, apontados como os organizadores da execução. No caso de Olmedo, a condenação também foi por homicídio qualificado, 18 anos, e porte ilegal de arma, 3 anos e 6 meses. A pena foi de 21 anos e 6 meses.

Marcelo Rios foi condenado a 18 anos de prisão por homicídio qualificado, 3 anos e 6 meses pelo porte ilegal de arma e 1 ano e 6 meses pelo crime de receptação, tornado a pena total em 23 anos. 

A defesa dos três réus informou ao juiz que irá recorrer da decisão. "A defesa técnica respeita a decisão do egrégio Conselho de Sentença, entretanto não concorda, e vai até a Suprema Corte de Preciso for", disse Eugênio Malavasi.

Somadas as penas, “Jamilzinho” tem 46 anos e 8 meses para cumprir na cadeia. Dono de três outras condenações, ainda em grau de recursos, ele já havia sido sentenciado ao total de 23 anos e 2 meses de prisão pelos crimes de extorsão armada, formação de organização criminosa e porte ilegal de armas.

Esta é a primeira condenação de alvos da Omertà – operação batizada com nome que faz alusão ao pacto de silêncio e fidelidade cobrado pelos chefões da máfia italiana – em um Tribunal do Júri, instituição do Poder Judiciário responsável por julgar crimes dolosos (com intenção) contra a vida.

A força-tarefa, formada principalmente por policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros) e investigadores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crimes Organizado), mirou organização criminosa dedicada a ilícitos e execuções como forma de manter o poder.

O júri

Ao longo dos três exaustivos dias, o conselho de sentença, formado por pessoas comuns, representantes da sociedade sul-mato-grossense, ouviu os depoimentos de cinco testemunhas de acusação e quatro convocadas pelas defesas.

No primeiro dia do júri, foram ouvidas quatro testemunhas da acusação: os delegados Daniella Kades, Tiago Macedo e Carlos Delano e o investigador do Garras Giancarlos de Araújo e Silva.

O pai de Matheus, Paulo Xavier, falou aos jurados na condição de informante – por ter laço afetivo com a vítima - sem ser obrigado a fazer o juramento de “falar a verdade, somente a verdade”, já que o depoimento tende a ser mais emotivo. Ele lembrou de detalhes da noite da morte do filho, que morreu ao sair de casa para buscar os irmãos, função normalmente exercida pelo pai. Chorando muito, foi acompanhado na emoção pela mãe da vítima. 

O foco da defesa, em todos os casos, foi tentar desvencilhar a família Name dos crimes investigados pela Omertà, apontado para outros prováveis mandantes do crime, como membros PCC e citando, inclusive, ligação entre o major reformado da PM e o megatraficante Sérgio Roberto de Carvalho, o “Major Carvalho”.

Henrique Kawaminami/Campo Grande News

Mãe e pai de Matheus se abraçam no fim do julgamento

Morto por engano

O estudante de Direito, Matheus Coutinho Xavier, foi assassinado no dia 9 de abril de 2019. O ataque aconteceu por volta das 18h, quando ele saía da casa onde vivia com o pai e irmãos, no Jardim Bela Vista, bairro nobre de Campo Grande.

A investigação apurou que o universitário foi morto por engano, pois estava manobrando a caminhonete S10 do pai. O policial militar reformado Paulo Roberto Teixeira Xavier era considerado traidor pela família Name, por isso, seria o alvo.

O rapaz foi atingido com sete tiros de fuzil AK-47 e o disparo fatal foi na base do crânio. A morte foi o início de uma investigação jamais imaginada, que levaria a queda de um dos clãs mais tradicionais de Campo Grande.

Tem mais

Mas os julgamentos de Jamilzinho não param por aqui. O próximo, ainda sem data definida, é sobre a morte do empresário Marcel Colombo, conhecido como Playboy da Mansão, assassinado em 2018 em bar da avenida Fernando Correa da Costa, em Campo Grande. Jamil Filho também é acusado de ser mandante do crime, por conta de briga dentro de uma boate, cinco anos antes.