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Necessidade de ajudar o pai, fez de Célia a primeira mulher a tirar CNH em Corumbá

Leonardo Cabral em 08 de Março de 2022

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Hoje, com 75 anos, Célia mostra fotos da época em que tirou a CNH

A necessidade de ajudar no negócio do pai, que vendia leite, fez com que Célia Sebastiana Colman, hoje, com 75 anos de idade, se tornasse a primeira mulher, em Corumbá, a tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Foi em 1965, logo que completou 18 anos.

Por essa conquista, Célia recebeu em sua casa, no bairro Dom Bosco, homenagem da equipe do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/MS), nesta terça-feira, 08 de março, Dia Internacional da Mulher.

Célia contou que a CNH foi necessária para que pudesse ajudar no trabalho do pai, que era o sustento da família da época. A mais velha de quatro irmãos, sendo três mulheres e um homem, que é o caçula, ela afirmou que foi com muita fé e coragem para tirar a CNH, mas não imaginava que era a primeira mulher habilitada na cidade pantaneira. 

“Além de ajudar no trabalho, eu também aproveitava para ficar do lado do meu pai, foi por isso que fui tirar a CNH. Eu não tive medo não, encarei na fé e na coragem, mas antes de fazer o teste, claro, tive umas aulas com um amigo do meu pai na época, que ajudava a mulher dele também a dirigir, para me explicar como fazer. Aprendi e fui fazer o teste (hoje prova prática). Minha nota foi nove”, relembrou frisando que antes não havia provas escritas.

Com sorriso no rosto, Célia disse que teve um único erro, e, por isso, não conseguiu a nota 10. “Subi no carro junto com o guarda, ele foi me mostrando o trajeto, estava indo tudo bem, mas meu único erro foi tocar a buzina em frente ao hospital. Não me recordo o motivo, mas fiz. O restante das manobras fiz tudo certo”, falou com muitos risos.

A vida no Pantanal

Com idas e vindas pelo Pantanal, onde o pai tinha criação de gado e vendia leite para moradores da cidade, Célia foi vendo a necessidade de ajudar no negócio da família. Além disso, por alguns problemas de saúde do pai, ela decidiu somar com o empreendimento da época.

Logo depois de conseguir a CNH, era ela que tinha o controle do carro da família. A família tinha uma charrete, mas ela só pegava o carro e, do lado dela, sempre estava o pai.

“Sempre quis aprender, nunca fiquei nervosa, vinha com fé e coragem, tudo que aprendi, foi com isso. Vivi no Pantanal, meu pai era criador de gado, teve alguns problemas, era eu, minha mãe e os peões. Aprendi a remar canoa, laçar, tirar leite de gado, ordenhar, fiz de tudo um pouco. Tudo por causa do meu pai. Desde que tirei a carteira de motorista era eu que andava com ele pra cima e para baixo. Levava ao médico para fazer exames, levava a produção de leite, fazia a entrega, sempre ao lado dele. Fiz todo esse esforço para poder estar junto com ele”, disse Célia contando ainda que a área do Aeroporto Internacional de Corumbá foi onde aprendeu a dirigir junto com o amigo do pai.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

A CNH de Célia junto com a Carteira de Identidade: lembrança de uma época boa que viveu com o pai

A "estrada de boi", era um dos grandes desafios, pelo movimento e também pela estrutura. Célia diz que foi ali realmente que aprendeu a ser segura no volante. Os condutores da época brincavam com ela.

“Quando eu estava na estrada, eu 'podava' mesmo. Os motoristas ficavam falando: ‘A Célia vem aí atrás’. A estrada era de chão batido, às vezes meu pai mesmo perguntava se o carro não tinha motor, falando para eu pisar fundo no acelerador e ultrapassar, pra gente não comer poeira. Eu colocava o pé no acelerador e ia embora, algumas vezes até perdia o controle da direção, mas rapidamente colocava o carro alinhado e ia perfeitamente”, relembrou com um pouco de nostalgia.

Homenagem

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Equipe do Detran em Corumbá entregando homenagem à Celia

A equipe do Detran/MS, composta por Carlos David Jimenez Paz, gerente da agência em Corumbá e  Silvia Souza da Silva, assistente administrativa, entregaram uma singela homenagem a Célia neste Dia Internacional da Mulher.

Foi uma postagem através das redes sociais da família da homenageada, que fez com que o ato acontecesse. Após um levantamento, ficou de fato, comprovado que Célia foi a primeira mulher habilitada em Corumbá.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Silvia falou sobre a conquista da homenageada, que representa muito para as mulheres

“Primeiro parabenizar as mulheres. A nossa evolução é constante, estamos lutando pelo nosso espaço, já conquistamos muitos segmentos, no trânsito também muitas mulheres habilitadas, centenas delas, a nossa luta é constante e temos muito a conquistar ainda mais nessa sociedade sexista. E vendo esse exemplo de dona Célia, ela representa inúmeras mulheres que necessitam da habilitação para trabalhar. Só temos sim, que agradecer a Célia”, disse Silvia Souza.

Já Célia agradeceu e deixou um recado às mulheres que ainda não conseguiram a habilitação. "Tenham fé, coragem e muita atenção, primordial ao estar conduzindo um veículo. Não tenham medo, sejam vocês mesmas e conquistem seu espaço. É necessário. Foi uma grande surpresa, nunca esperava receber homenagem do Detran. Eu estou muito feliz”, finalizou.

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