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Mas por que os porquês são os mais duvidosos?

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa (*) em 15 de Outubro de 2021

Caros leitores

Atire a primeira pedra quem nunca teve dúvidas em relação ao uso das coisas da língua: pronomes, verbos, objetos, locuções, conjunções, advérbios, preposições, complementos, acentuação, pontuação e até ao escrever numerais. Mas, no âmbito da ortografia, a palavrinha porque tem provocado hesitação em muita gente. Isso se deve ao fato desse vocábulo ser escrito de várias formas, dependendo da ideia que representa. Assim, surgem dúvidas de quando escrever por que, porque, porquê e por quê.

Esse é um assunto que merece a nossa atenção. No português, o uso comum que se faz do por que separado ocorre nas orações interrogativas diretas ou indiretas, em que se combinam a preposição por + o pronome interrogativo ou indefinido que. Nesse caso, a expressão possui o significado por qual razão ou por qual motivo: Por que Corumbá é tão quente?; Não sei por que Corumbá é tão quente.

Utiliza-se também por que no caso da junção da preposição por + pronome relativo que com o significado de pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais: sei bem por que motivo voltei ao Brasil. Por outro lado, a palavra porque justaposta é conjunção explicativa ou causal, e poderá substituir as expressões: pois, uma vez que, para que: vou-me embora mais cedo porque tenho que estudar para a prova; não faça intriga porque prejudicará a você mesmo.

Nessa esteira, por quê separado e com acento deve ser usado quando vier antes de ponto de interrogação, de exclamação, de ponto final ou de reticências, e significa por qual motivo, por qual razão: você não gosta de inverno por quê?. Vamos de carro, caminhar cinco quilômetros por quê? E, nesse caso, ainda, acentua-se o vocábulo por quê, pois, devido à posição na frase, o monossílabo que passa a ser tônico.

E, finalmente, o porquê justaposto e com acento é substantivo e assume o significado de motivo ou razão, sendo antecedido de pronome, artigo, adjetivo ou numeral: com esse porquê, até eu mudaria de opinião; diga-me um porquê para não fazer o que é certo; desconheço o porquê daquele comportamento; existem muitos porquês para justificar essa atitude. Assim, existe um porquê para cada caso, pois a ideia comanda a forma de escrever.

Coisas da língua! Bom fim de semana.

(*) Rosangela Villa da Silva, Profa. Titular da UFMS, Mestre e Dra. em Linguística pela UNESP, com Pós-Doutorado em Sociolinguística pela Universidade de Coimbra/Portugal.