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Curiosidades da língua inglesa em adaptações e traduções

Coluna English Corner, com Regina Baruki e Naudir Carvalho em 27 de Julho de 2020

Com a utilização da língua inglesa em novos instrumentos, aplicativos, meios de divulgação etc, muitas adaptações e traduções peculiares podem ocorrer. O aplicativo WhatsApp é um exemplo curioso. O som da letra s, em WhatsApp, é s mesmo, não z. No Brasil, por uma tendência da nossa língua, pronunciamos whatzap, que acabou virando zap. Dizemos: “Manda um zap pra mim.” Ficou tão distante do nome original que, às vezes, pode haver falha na comunicação, se alguém resolver dizer, com a pronúncia correta: “Manda o endereço por WhatsssApp!” Para ilustrar, uma explicação: o nome do aplicativo é inspirado na frase What’s up?, que quer dizer “E aí?” ou “O que há de novo?”

Outra situação digna de nota é a maneira como nos referimos aos cartazes de propaganda a céu aberto, que chamamos de outdoor. Outdoor advertisement significa ‘propaganda ao ar livre’, na língua inglesa. Trata-se de uma identificação do meio de divulgação de um produto. Na língua inglesa, não se refere ao meio como outdoor – trata-se de um adjetivo, que tem que acompanhar uma outra palavra, como exercise, activity etc. A propaganda ao ar livre é billboard em inglês americano e hoarding em inglês britânico.

Quando se usam as palavras em inglês para produtos diversos, sem traduzir, ocorrem adaptações curiosas no português, como closet, que se pronuncia mais ou menos como clózit, e no Brasil ouvimos algo como clouze. No calçado peep toe, a palavra toe deve ser pronunciada quase como se escreve, letra por letra. O significado do nome em inglês é interessante: o verbo peep quer dizer ‘espreitar’ e toes são os dedos dos pés, alguns dos quais ficam expostos, à espreita! Por um motivo difícil de pesquisar, costuma-se ouvir a pronúncia de tú para a palavra toe, daí pipitú. O engraçado é que costumamos reclamar da pronúncia do inglês, porque realmente não tem muito a ver com a maneira como se escreve. Mas, quando se aproxima, ‘inventamos’ um distanciamento.

De modo semelhante, ouvimos constantemente as pronúncias adaptadas como weifou (aqui, reduzindo o l para u, como é comum em português, em palavras como ‘igual’, ‘cruel’, ‘farol’ etc)) e isquésh (com acréscimo de uma sílaba antes do primeiro s, previsível porque na língua portuguesa não temos palavras começadas por s + outra consoante), referentes a waffle e squash, palavras que são pronunciadas com um som semelhante ao nosso o aberto.

Em outro fenômeno, muitas confusões podem se suceder quando as palavras são parecidas em duas línguas, mas têm significados diferentes. Há inúmeros exemplos de situações desse tipo. Palavras parecidas, com as traduções previstas, são chamadas de cognatas, como sofa e sofá, object e objeto, por exemplo. Mas há uma lista de falsos cognatos, como actual, que não tem nada a ver com ‘atual’, na tradução. Em um jantar de executivos de uma empresa, em Brasília, um convidado argentino comentou que a maionese estava exquisita. Foi um rebuliço na cozinha, até alguém explicar que ele quis dizer ‘requintada’. Interessante que, em inglês, o termo se aproxima do significado do espanhol: exquisite também significa ‘requintado’, ‘gracioso’.

Tendo em vista os casos de falsos cognatos e tantos outros assuntos relacionados às línguas, reforçamos: a responsabilidade do tradutor é maior do que imaginamos, principalmente se levarmos em consideração a infinidade de textos traduzidos o tempo todo: livros, poemas, filmes, episódios de séries etc. E aplaudimos o trabalho de bons intérpretes: quanta agilidade e conhecimento são precisos! 

Regina Baruki-Fonseca é professora do Curso de Letras do CPAN. Tem Mestrado em Língua Inglesa pela UFRJ e Doutorado em Educação pela UFMS. 

Naudir Ney Carvalho da Silva é acadêmico do Curso de Letras Português/Inglês do CPAN.