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O típico sotaque dos corumbaenses

Coluna Coisas da Língua, com Rosangela Villa(*) em 13 de Setembro de 2019

Caros leitores

O aniversário de Corumbá se aproxima, e a data leva-nos a recordar a história da nossa formação como município, os grandes personagens e seus contributos, e, principalmente, o momento é de reverenciar os corumbaenses e os migrantes e imigrantes que escolheram a nossa cidade para chamar de sua. Nesse dia especial, importante destacar a marca mais característica da identidade cultural dos corumbaenses, que é a sua linguagem, considerando o jeito típico de pronunciar o /S/, que nos distingue dos demais sul-mato-grossenses, e os vocábulos peculiares ao nosso repertório. Juntos, sotaque e léxico, nos orgulham de pertencer a este lugar e a chamá-lo de nosso, nossa Corumbá, nossa cidade branca! E é com amor que nos identificamos com a cidade e com as pessoas que aqui vivem. Formamos, todos, uma teia identitária que reflete a nossa cultura, e o nosso jeito próprio de pensar, de sentir, de agir e de falar.

Nesse contexto, as palavras e o modo de pronunciá-las nos representam e dizem muito daquilo que somos. A linguagem dos corumbaenses aponta sua crença e a esperança que as coisas vão melhorar, reflete expectativas, sustenta opinião e pontos de vista na defesa de suas ideias e de seus ideais. É inegável o orgulho que todos têm de ser corumbaense e de ter esse sotaque exclusivo. Lembramos que tal pronúncia já foi objeto de estudo de pesquisadores e rendeu o nosso livro Aspectos da pronúncia do /S/ em Corumbá-MS: uma abordagem sociolinguística. Campo Grande, 2004, editora UFMS, disponível na biblioteca do Câmpus do Pantanal.

A pesquisa explica que o som chegou ao Brasil na bagagem da Família Real portuguesa, e sendo uma pronúncia de prestígio logo se difundiu pela costa brasileira, em Salvador/BA, no Rio de Janeiro/RJ, em Santos/SP e outras localidades litorâneas onde realeza e sua comitiva se inseriram. A curiosidade fica em torno da passagem dessa pronúncia para Corumbá, tão distante do litoral. Contudo, a explicação vem com o movimento das Bandeiras e do caminho percorrido pelos bandeirantes, já que Corumbá estava na rota da expansão dos limites geográficos da coroa portuguesa na busca de riquezas minerais no interior da América do Sul e em ponto estratégico de defesa da fronteira Oeste do país.

Posteriormente, a pronúncia se ampliou com a chegada de muitos militares oriundos do Rio de Janeiro, a partir da instalação do 6º Distrito Naval da Marinha do Brasil, em Ladário, e do 17º Batalhão de Fronteira do Exército brasileiro e da 18º Brigada de Infantaria de Fronteira em Corumbá. Nesse cenário, ainda hoje predomina a pronúncia chiada do /S/ em Corumbá, Ladário e fazendas do Pantanal, como por exemplo, ao pronunciarmos dox, trêx, excola etc.

Outra característica da linguagem local são vocábulos do acervo corumbaense, como vôte, com significado de admiração ou rejeição a alguma coisa; e expressões como corre duro, azeite, vou no Maria, ala e outras, cada qual com seu significado e contexto específico. Minha gente, é hora de rendermos homenagem a essa maravilhosa cidade, as palavras não são suficientes para expressarmos toda a importância que essa Terra e seu povo tem pra nós. Parabéns Corumbá!!

(*) Rosangela Villa é professora associada da UFMS e colaboradora do Diário Corumbaense.