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Os motivos da disputa pela vaga no TCE: salário, cargo vitalício e poder

Campo Grande News em 18 de Janeiro de 2015

Quem não quer receber um salário de cerca de R$ 26 mil, ter cargo vitalício com direito a carro oficial, assessores, prerrogativas de desembargador de Justiça e poder para fiscalizar as contas do governo do Estado e dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul? A disputa pela vaga em questão, de conselheiro do TCE-MS (Tribunal de Contas Estadual), nunca foi tão almejada e esteve tão em evidência como agora. Há quem fale em armação, conspiração e jogo de interesse, mesmo que em um jogo de cartas marcadas.

Toda a novela em torno da busca do “concorrido” assento na Corte de Contas teve início com o pedido de aposentadoria do conselheiro José Ricardo Pereira Cabral, que por sua vez abre uma nova vaga e acirra os ânimos entre os postulantes. A verdade é que o cargo acima de tudo traz alto prestígio político, e são eles que decidem quem estará lá.

José Ricardo assumiu em novembro passado a presidência do TCE em função da aposentadoria do conselheiro Cícero Antonio de Souza. Cícero, por sua vez, veio a ser substituído pelo então presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Jerson Domingos (PMDB), que teve a indicação referendada e aprovada pela maioria dos deputados.

Com a vaga garantida, Jerson Domingos passou a articular a ascensão de um outro aspirante ao cargo, o deputado Antônio Carlos Arroyo (PR), que inclusive deixou de disputar a vaga deixada por Cícero, “pertencente” a Assembleia, e até mesmo a reeleição a deputado. Arroyo passou então a almejar a vaga que posteriormente seria deixada pelo José Ricardo. Para esta, a indicação caberia ao então governador André Puccinelli (PMDB).

Arquivo

Osmar Jeronymo, durante posse no TCE, ao lado do atual presidente, Waldir Neves

Nos bastidores, fontes ligadas aos dois lados revelaram que o nome de Arroyo nunca agradou Puccinelli, e inclusive foi cogitada a hipótese dele indicar o deputado federal licenciado Edson Giroto (PMDB). Giroto é um dos homens fortes de André e esteve ao seu lado durante o mandato chefiando a Secretaria de Obras.

No entanto, os planos de Puccinelli em nomear o companheiro de longa data caíram por terra quando Jerson Domingos, por influência do decano Londres Machado (PR), referendou a indicação de Arroyo. A partir daí, as cartas começaram a ser marcadas e o jogo favorecer um só lado. Só o que ninguém imaginava é que do outro lado do tabuleiro haviam adversários articulando de tal maneira que o jogo poderia virar a qualquer momento. E foi o que aconteceu.

O processo de aposentadoria de José Ricardo, pivô de todo esse imbróglio, foi travado, parou na mesa do corregedor-conselheiro José Chadid, e não saiu do lugar. Isso incomodou, gerou demissão, e ele passou a ser pressionado. O próprio Jerson Domingos, acompanhado do então procurador-geral do Estado, Rafael Coldibelli, visitou Zé Ricardo por diversas vezes e apesar de ambos negarem, a fim de pressioná-lo para destravar sua aposentadoria.

Isso levou a levantarem inúmeras hipóteses, que até mesmo envolvem o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Há quem diga que “seguraram” José Ricardo para deixar a vaga a disposição de Azambuja, e até mesmo para servir ao próprio TCE. E hoje, outro nome já é ventilado, o do deputado tucano Flávio Kayatt.

O fato é que, pressionado ou não, conivente ou não com esse jogo de interesses, aos 45 do segundo tempo, o próprio José Ricardo decidiu assinar a autorização de sua aposentadoria, e remeteu para o governador. O processo seguiu, a aposentadoria foi publicada no Diário Oficial do Estado e logo Puccinelli anunciou a já esperada indicação de Arroyo para a vaga, e logo a indicação foi aprovada na Assembleia Legislativa.

Em tempo de nem deixar Arroyo pensar como seriam os anos gloriosos dali para frente, o TCE se pronunciou classificando o ato como “ilegal, inconstitucional e imoral”. Os conselheiros alegaram que José Ricardo, mesmo que presidente, não poderia ter “antecipado” sua aposentadoria, a qual o processo estava engavetado, enquanto José Chadid nem aqui estava.

O TCE foi além e para o desespero de Arroyo, entrou com pedido de suspensão da sua indicação no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), tendo em vista que o processo de aposentadoria do conselheiro José Ricardo foi considerado nulo. Não contente, o governo do Estado, ainda na gestão de André, foi até o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) tentar derrubar a decisão contrária a indicação de Arroyo. No entanto, o STJ se pronunciou referendando a liminar contrária a Arroyo.

Agora, as cartas mudam e o jogo deve continuar. O mais provável é que volte a estaca zero e a Assembleia indique um novo, agora, com o aval das novas forças no poder. O mais cotado é o tucano Flávio Kayat.

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