Campo Grande News em 25 de Junho de 2022
Reprodução
Policiamento foi mantido em Amambai depois de confronto que terminou com a morte de indígena e 10 feridos
A situação no entorno da fazenda, distante cerca de 20 quilômetros da zona urbana, é considerada delicada e ainda de tensão entre policiais e indígenas. Na cidade, o clima é de tranquilidade e aparente costume com os embates recorrentes na região de fronteira com o Paraguai. “Vira e mexe aqui o couro come”, disse um morador.
A assessoria da 3ª Companhia Independente da PM (Policia Militar) informou que a equipe do Choque está na sede e mantém policiamento constante no entorno, assim como na estrada que divide a propriedade da Aldeia Amambai. Não há previsão de saída dos policiais militares da fazenda.
Em nota, ontem, a PF (Polícia Federal) informou que foi ao local para “avaliar a situação”, mas a assessoria não atualizou se essas equipes permanecem na região.
Na cidade, os moradores souberam desde cedo de que teria ocorrido confronto, mas, certeza, só depois que começaram a veicular notícias sobre o ocorrido.
O farmacêutico, que preferiu não se identificar, disse que está acostumado com notícias de embates envolvendo indígenas, sem-terra ou repressão ao tráfico de drogas na linha de fronteira. “Aqui não é novidade um matar o outro, vira e mexe o couro come, aqui é fronteira”, disse. “Aqui é meio complicado”.
Outra comerciante, nascida e criada em Amambai, disse que os protestos dos indígenas eram pacíficos, como obstrução de rodovias. “Desde o ano passado começou a ficar mais assim”, disse. Ela soube dos boatos dos confrontos logo cedo, quando clientes da oficina mecânica relataram o que ocorria na zona rural. “Povo comentou, mas, nada oficial”.
Para a comerciante, mesmo sendo área de trânsito do tráfico, a cidade é tranquila. “O que tem muita é apreensão de droga”. Segundo ela, a situação é ruim para a economia da cidade.
Morte e grupo agressivo
No confronto ocorrido ontem de manhã, um indígena de 42 anos, identificado como Vito Fernandes, foi morto, e outros sete ficaram feridos. Dois deles foram transferidos do Hospital Regional de Amambai para unidade em Ponta Porã e um terceiro para Dourados.
A situação de tensão envolvendo indígenas brasileiros e paraguaios foi relatada e ofícios encaminhados pelo cacique João Gauto, da Aldeia de Amambai à Funai (Fundação Nacional do Índio). Nele, a liderança pede apoio para conter o “grupo agressivo” que estaria prejudicando a ação de retomada da área.
A comunidade indígena relata que há mais mortos e feridos, mas, oficialmente, apenas um foi identificado: Vito Fernandes.
Gauto confirmou que enviou os ofícios. Os relatos foram feitos nos dias 19 e 23 de junho. Os indígenas que foram até o local para ajudar na retomada na área denominada de Tekoha Guapo´y Mirim Tujury estariam sendo recebidos de forma agressiva por “alguns patrícios indígenas”.
O grupo agressivo estaria armado com facões, atirando em direção da sede da fazenda e praticando roubos. “As lideranças e a comunidade temem que os fazendeiros ataquem os indígenas, e que saiam alguém feridos, pois no local está ficando tenso”. Ele acrescenta que “o grupo de milícia está prejudicando seus próprios patrícios”.
O secretário Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, disse que a Polícia Civil fará perícia no helicóptero da PM que teria sido atingido por dois tiros. Videira diz que há briga política interna, antiga e atual liderança da aldeia.
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