PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Dia do Patrimônio Histórico é lembrado com o saber dos mestres cururueiros do Pantanal

Lívia Gaertner em 16 de Agosto de 2017

“Você é como dizem na Europa, o luthier, é o luthier do Pantanal”. Foi assim, associando o mestre cururueiro ao profissional que trabalha na confecção de instrumentos, que o músico Carlinhos Brown se referiu a Sebastião de Souza Brandão, mestre do saber popular, detentor do conhecimento do modo de fazer e tocar a viola de cocho, instrumento tipicamente pantaneiro.

Esse recado, que emocionou o homem que vive em Ladário e herdou o saber do pai, era inédito e foi captado ano passado durante a passagem do artista baiano pela cidade no Festival América do Sul Pantanal, momento quando Brown conheceu a viola e o mestre cururueiro, e se encantou com a riqueza cultural atrelada ao instrumento cujo modo de fazer é registrado pelo Iphan como patrimônio imaterial.

“Seu” Sebastião, como é mais conhecido, participou nesta quarta-feira (16), das comemorações do Dia Nacional do Patrimônio Histórico, celebrado em 17 de agosto, promovido pela Superintendência do Iphan em Mato Grosso do Sul, através de seu escritório técnico em Corumbá.

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

"Seu" Sebastião é um dos poucos que ainda detêm conhecimento sobre o modo de fazer e tocar a viola de cocho

Além do seu Sebastião, integraram a mesa-redonda “Modo de Fazer Viola de Cocho: o ofício do mestre”, Gabriel Morais, diretor do curta-metragem “O Cururueiro”; esta jornalista do Diário Corumbaense que integrou o projeto de curtas “História de Nossa Gente” com um episódio dedicado ao mestre cururueiro Agripino Magalhães; e José Gilberto Garcia Rozisca, representante da Fundação de Cultura e Patrimônio Histórico do Município e que realizou pesquisa em nível de pós-graduação sobre o fazer do cururueiro.

“Há uma série de valores que estão agregadas a esse modo de fazer. Se a pessoa só sabe fazer o instrumento, ela é um artesão. O que está intrínseco a isso: comungar os mesmos valores religiosos, éticos, é que fazem realmente a pessoa ser um cururueiro. Em todas as falas, durante minha pesquisa, o termo companheirismo ficou muito forte, por exemplo”, comentou Rozisca ao abrir gancho para observações do mestre Sebastião.

“Hoje, eu canto sozinho, mas se tivesse mais uma pessoa comigo ia soar diferente. Até o jeito de tocar e a voz muda. Eu espero que a gente consiga trazer mais pessoas para nossa cultura”, declarou o cururueiro que ainda é um dos poucos que realizam todo o ofício do mestre que vai desde o corte da árvore, passando pelo entalhe, colocação das cordas, afinação, tocá-la e cantar.

Mesa-redonda abordou o ofício do cururueiro e ações de salvaguarda

Compartilhado em conjunto com o estado de Mato Grosso, o registro do modo de fazer a viola de cocho como patrimônio imaterial, está passando por revalidação pelo Iphan, processo previsto pelo órgão a todos os títulos concedidos a cada dez anos, pois se entende que é preciso verificar se aquela manifestação intangível ainda se faz presente e importante dentro da região.

“Eventos como esse, são importantes para a salvaguarda e proteção de nosso patrimônio cultural. Em relação ao patrimônio imaterial, é importante essa valorização dos nossos mestres artífices, promoção na transmissão dos saberes para as novas gerações”, avaliou a chefe do escritório técnico do Iphan em Corumbá, Edivânia Freitas de Jesus.

A programação segue nesta quinta-feira, 17, a partir das 08 horas com a exibição de Curtas do DVD Tradição Oral: Lendas, Histórias e Depoimentos de quem vive no Pantanal, com mediação de Cleber Dias. Na sequência, haverá a apresentação do Grupo de Teatro Tesouro Pantaneiro de Ladário e roda de capoeira dos mestres de Corumbá.

PUBLICIDADE