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Ladário é finalista em prêmio nacional de patrimônio com ações voltadas à viola de cocho

Lívia Gaertner em 16 de Agosto de 2017

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Mestre cururueiro, Sebastião Brandão, participou de editais e recebeu título de mestre do saber

Dois projetos executados em Mato Grosso do Sul são finalistas da 30ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Promovida pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a premiação visa reconhecer iniciativas de excelência em técnicas de preservação, proteção, salvaguarda, promoção e gestão dos bens culturais.

Um dos finalistas sul-mato-grossenses é da cidade de Ladário e foi submetido pela produtora cultural Wanessa Pereira Rodrigues, proprietária da empresa de consultoria Saber Cultura, que esteve à frente da gestão cultural do município por vários anos.

“Foi um exercício muito bom organizar tudo o que fizemos na área do patrimônio, de refletir. Fiz portfólio com fotos e textos, matérias jornalísticas desde 2011 quando iniciamos esse trabalho em Ladário”, contou Wanessa ao Diário Corumbaense ao explicar o tema do projeto finalista, “Ações Fomento, Valorização e Difusão do Patrimônio Cultural Imaterial: Modo de Fazer a Viola de Cocho, no município de Ladário – MS”.

“O diferencial dessas ações foi que buscamos trabalhar as questões de base, de envolver a população, de fazer as pessoas se entenderem como participantes do processo, buscarem uma independência, então  quem acabou se destacando foi o senhor Sebastião (mestre cururueiro) porque sempre está disponível“, disse a finalista. “Além das ações que foram feitas, nos preocupamos em fazer política pública mesmo para que não se tornasse apenas uma ação de Governo, mas que ficasse realmente para a população”, completou.

Enquanto esteve à frente da Cultura em Ladário, Wanessa evidenciou a viola de cocho juntamente como o "seu"  Sebastião de Souza Brandão ao inseri-lo em editais nacionais como da Funarte com o qual ministrou oficinas para jovens; do Ministério da Cultura que lhe outorgou o título de mestre do saber com Prêmio Culturas Populares; e do projeto Revelando Brasis que rendeu o curta-metragem “O Trem Fantasma”, em alusão também à antiga profissão do cururueiro, que foi ferroviário.

O conjunto de ações desenvolvidas em Ladário se encaixou como um dos 12 finalistas na categoria IV do prêmio nacional que reúne “iniciativas de excelência em gestão compartilhada do Patrimônio Cultural”. De acordo com o edital, elas visam valorizar e promover iniciativas referenciais que demonstrem o compromisso e a responsabilidade compartilhada para com a preservação e/ou salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro.

Wanessa Rodrigues esteve à frente da gestão cultural de Ladário por alguns anos

De forma geral, 296 projetos se inscreveram nesta edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, porém apenas 68 ações chegaram à etapa final. Eles irão passar pela análise da Comissão Nacional de Avaliação, que ocorrerá nos dias 21 e 22 de agosto, na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. No encontro, serão anunciados os oito projetos vencedores, ou seja, dois em cada categoria, que deverão receber R$ 30 mil cada um.

Modo de fazer a viola de cocho passa por revalidação

O modo de fazer a viola de cocho é considerado pelo Iphan como patrimônio cultural imaterial. Diferente dos patrimônios materiais que se apresentam em sua forma física, o patrimônio imaterial destina-se ao intangível e por isso mesmo, o Instituto, ao conceder o registro prevê que a cada 10 anos seja feita uma revalidação do mesmo para saber se ainda essa expressão continua presente na região. O registro do modo de fazer da viola de cocho é compartilhado entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sendo neste último, as cidades de Corumbá e Ladário, os locais onde se manifestam.

Wanessa, que também deve realizar o Seminário de Viola de Cocho ainda este ano com recursos do FIC/Pantanal, em Corumbá, esclarece que nunca são demais ações voltadas à temática, já que, segundo ela, ainda é preciso fazer com que a sociedade de modo geral “incorpore” essa manifestação popular.

Por muitos anos vista como algo ultrapassado e até mesmo brega por parte da população, a viola de cocho e todas as manifestações oriundas dela, como o cururu e o siriri, passaram a ganhar uma nova forma de visão com o registro em 2005 e que, agora, passa pelo processo de revalidação. “Temos que fazer com que as duas cidades assumam compromissos de investir mais em ações que sejam constantes e não pontuais”, avaliou Wanessa.

Chefe do escritório técnico do Iphan/MS em Corumbá, Edivânia Freitas, explicou a este Diário que o processo de revalidação está em Brasília e correndo dentro do prazo estipulado. “Geralmente, a revalidação é um processo que exige tempo mesmo e está agora em Brasília”, informou.

“Ações como essas apresentadas pela Wanessa para concorrer ao prêmio RMFA são de suma importância, elas contribuem e colaboram com ações de salvaguardas. É necessário investir mais em ações de educação patrimonial, nossos mestres cururueiros estão envelhecendo e é de suma importância que os jovens aprendam a recolhê-los”, disse Edivânia.

Iphan 80 anos

A 30ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade faz homenagem aos 80 anos de uma das mais longevas instituições públicas brasileiras e a primeira dedicada à preservação do patrimônio cultural na América Latina, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Ao longo dessas oito décadas de atuação do instituto, a política nacional de patrimônio foi expandida e se relaciona hoje com diversos campos como gestão urbana, gestão ambiental, direitos humanos e culturais – atuando desde o poder de polícia até a educação–, formação profissional e pesquisa, e crescente envolvimento internacional.

Nesses 80 anos de atividade foram tombados 87 conjuntos urbanos (o que implica em cerca de 80 mil bens em áreas tombadas e 531 mil imóveis em áreas de entorno já delimitadas) e três estão sob o tombamento provisório.

Além disso, o Iphan tem sob sua proteção 40 bens imateriais registrados, 1.262 bens materiais tombados, oito terreiros de matrizes africanas, 24 mil sítios arqueológicos cadastrados, mais de um milhão de objetos arrolados (incluindo o acervo museológico), cerca de 250 mil volumes bibliográficos e vasta documentação de arquivo.

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