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Prédio do Eco Parque Cacimba da Saúde volta a ser depredado

Caline Galvão em 02 de Maio de 2016

O prédio localizado no Eco Parque da Cacimba da Saúde, que está sediando o Geopark Bodoquena-Pantanal núcleo Corumbá e a Educação Ambiental da Fundação de Meio Ambiente, voltou a ser depredado. Desde 2013, a Prefeitura de Corumbá vem desenvolvendo projeto de revitalização da Cacimba da Saúde. Em 2015, houve nova reforma, quando foi renovado telhado, todos os vidros do prédio foram trocados, pintura artística foi realizada, mas na noite de quinta-feira (28) vândalos voltaram a danificar o patrimônio, quebraram grades e conseguiram furtar objetos de dentro do prédio.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Vândalos depredaram prédio quebrando vidros, furtando objetos, pichando paredes e quebrando grades, mostra vice-prefeita, Márcia Rolon

Segundo a vice-prefeita Márcia Rolon, a pia teve que ser trocada há cerca de um mês, porque estava completamente quebrada. “O pessoal (funcionários) ficou assustado com o vandalismo e saiu, mas agora não vamos mais sair daqui. O coordenador do Geopark já está aqui e a sede do núcleo de Corumbá vai ficar aqui. A gente está fazendo reuniões com toda a comunidade para que entenda o conceito do Geopark e a importância internacional desse lugar por causa da Corumbella. O Centro de Educação Ambiental também vai ficar aqui, nós já temos quatro voluntários, o presidente do bairro está conosco, já começamos a ter capoeira aqui, rodas de conversa, tudo relacionado à comunidade e ao Geopark”, afirmou Márcia.

Ela falou que o município tem realizado palestras explicando à comunidade o que é o Geopark e porque o local tem tanta importância internacional. Estudantes da Universidade Federal de Dourados visitaram o local na semana passada e em março o descobridor da Corumbella, pesquisador alemão Detlef Wald, visitou o lugar e vai voltar em julho, quando a cidade vai começar a receber pesquisadores do Japão, além de outros europeus que vão vir por conta da Corumbella.

“A ideia é formar guias de turismo local, queremos que as crianças sejam orientadas, aqui tem contação de histórias todos os dias para elas, o Massabarro vai começar a ensinar as crianças a fazer Corumbella com barro, como se fosse um fóssil, então esse lugar é um produto turístico e de educação e a gente está trazendo a comunidade para isso”, disse Márcia Rolon.

O biólogo Anderson Palmeira está morando há cinco dias em Corumbá e assumiu a coordenação dos núcleos do Geopark nos geossítios de Corumbá e Ladário. Ele explicou ao Diário Corumbaense que o Geopark é uma marca atribuída à UNESCO, a locais que têm formação de parques em regiões que tenham peculiaridades geológicas. O Geopark trabalha em um tripé: geoconservação do patrimônio geológico; a geocomunicação, que é disponibilização de informações adquiridas a partir das pesquisas; e o geoturismo, quando o turista é atraído a conhecer esses parques geológicos.

Detalhe do vidro quebrado, em um ambiente que vai receber pesquisadores estrangeiros e de todo o País

“No Geopark Bodoquena-Pantanal, núcleo Corumbá, a gente trabalha muito a questão da Corumbella, que é um fóssil que foi descoberto na década de 1980 por um pesquisador alemão, sendo um dos fósseis mais antigos das Américas. É um metozoário, que hoje seria um tipo de cnidário, seria um animal mais próximo aos corais, e é um fóssil que data cerca de 550 milhões de anos”, explicou Anderson Palmeira.

Para o prefeito Paulo Duarte, a região tem importância no aspecto turístico, geológico, histórico e o que está sendo feito pelo município no local é tentar trazer a comunidade vizinha para que elas tenham sentimento de pertencimento do espaço. “Esse era um espaço que estava abandonado e que recuperamos. Sabemos que temos grandes desafios pela frente, mas é importante a comunidade compreender o que significa a Corumbella, como um dos fósseis mais antigos do mundo, para que isso não fique restrito a área científica. A gente tem trabalhado intensamente a educação ambiental, é um local muito bonito, mas que precisa ser mais bem cuidado”, disse o prefeito, afirmando que a ideia é que a Fundação de Meio Ambiente se mude definitivamente para o local.

Falta conscientização por parte dos moradores e dos jovens

O que se observa por todo o percurso do prédio da sede do Geopark até a região da Corumbella é que falta conscientização ambiental por parte dos moradores que insistem em jogar lixo a céu aberto. A população que mora no alto da morraria também joga restos de resíduos que descem pelas rochas e permanecem espalhados por toda a extensão da morraria. As rochas onde o pesquisador alemão Detlef Walde encontrou os fósseis estão inacessíveis por causa do mato e do lixo acumulado.

O coordenador do núcleo do Geopark em Corumbá, Anderson Palmeira, contou que a sede do projeto está localizada em local estratégico porque está perto do afloramento rochoso onde foi descoberta a Corumbella e propicia aos visitantes ir até o núcleo, conhecer um pouco do trabalho do Geopark e fazer a visita, através da Cacimba da Saúde, e chegar até o local onde há a Corumbella. Ele já realizou visitação pelas casas vizinhas e vai ajudar também no trabalho de conscientização, para que os moradores passem a compreender melhor a importância do lugar.

No prédio que abriga o núcleo do Geopark em Corumbá, há ambiente para educação geológica aos visitantes

Morando há 50 anos na região vizinha onde está localizado o prédio, dona Amância Basã afirmou saber da importância do local onde vive. “Nós entendemos a importância desse lugar, desde que aquele alemão apareceu e descobriu a Corumbella. Naquela época, na década de 1980, o pessoal da Prefeitura veio, cuidou do local, mas agora está sujo, abandonado, o pessoal que mora lá em cima joga lixo. Falta consciência dos moradores para cuidar porque é um local que atrai turistas e cientistas do mundo todo”, frisou.

Ela acredita que os jovens que depredam o local não moram na região porque, segundo ela, os garotos que jogam bola na quadra voltam para suas casas por volta das 21h, porém, na madrugada aparecem pessoas que não moram na vizinhança e fazem arruaça no local. “Todos aqui trabalham, então na madrugada aparecem pessoas de outro lugar para acabar com tudo. O que precisamos aqui é de um bom guarda para ficar na madrugada”, sugeriu a moradora.

Ana Sofia Amaral mora na circunvizinhança há 40 anos e durante essas décadas já viu passar pela região pesquisadores de Universidades e cientistas estrangeiros. Ela credita que falta mais conscientização dos jovens e fiscalização no local para preservação do ambiente. “À noite, o local fica sozinho e o pessoal entra e faz o que quer. Os jovens precisam de uma orientação bem severa”, disse. Ana Sofia compreende que o local é importante, mas ainda não sabe por que. “Já vi várias pessoas pesquisando nas pedras, mas nunca parei para perguntar o que era”, confessou. Ela acredita que os moradores precisam ser mais conscientes e lembrou que antigamente muitos turistas frequentavam o local, quando era mais limpo.

A vice-prefeita Márcia Rolon informou que há guardas municipais que fazem a vigia no local das 18h às 06h. Ela ressaltou que a área tem vários acessos, o que facilita a ação dos vândalos.