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Leia artigo "Respeito ao povo corumbaense", de Cléber de Oliveira Júnior

Fonte: Cléber de Oliveira Júnior* em 30 de Setembro de 2010

A grande maioria da sociedade corumbaense acompanha estarrecida, a forma truculenta com que o governador do Estado, senhor André Puccinelli tenta se impor na Cidade Branca, tratando de maneira deselegante os políticos que lhe são contrários e todos aqueles que não coadunam com seu pensamento gerencial, enquanto governador, eleito democraticamente.

Não obstante ser o senhor governador, um cidadão que merece respeito, é também um ser humano com defeitos e que reconhecidamente comete erros, sem que isso possa desdizer sua conduta de bom administrador que já provou ser, quando, por longos oito anos, administrou a Capital do Estado, cidade que o adotou e que o elegeu, mesmo desconhecendo sua maneira de pensar e agir, e sem conhecer de fato sua origem.

No entanto, há que se reparar que o stress de governante em um Estado que possui características distintas, políticos e aliados desmemoriados e antiéticos, e dificuldades inerentes aos avanços necessários ao desenvolvimento, fique talvez o governador, aparvalhado com os acontecimentos, e, na tentativa de não ceder o comando de seus interesses, perde-se em meio a confusas atitudes, que são corroboradas por seus aliados.

Tem agido o senhor governador, de forma a molestar a paz de uma cidade que lhe é somente hospitaleira, quando interfere negativamente na receita da cidade e seus secretários manipulam números de ICMS, prejudicando investimentos e criando anteparos  entre co-cidadãos, no intuito de assegurar seu espaço, o que por certo não conseguirá, enquanto agir com o destempero típico de alguém que não mede consequências para conseguir seus objetivos, seguindo a cartilha de Maquiavel.

Ao retirar da cidade parte da cota de seu ICMS, declarando guerra ao prefeito de Corumbá, que detém de sua gente total aprovação à gestão eficiente de administração pública, sendo considerado um marco do retorno de Corumbá ao cenário político e social, faz o governador uma política mesquinha e autoritária, afetando o povo, que só quer viver em paz. Ao buscar a todo custo construir casas para entregar a cupinchas, desmerece o esforço dos demais cidadãos; ao barrar recursos previstos em lei, impede a cidade de seguir crescendo e sedimentando o progresso e a melhoria da qualidade de vida de sua gente.

Ao deixar correr solta a administração que afundou o Hospital de Corumbá e não interferir positivamente para que seus aliados mantivessem funcionando a instituição, com as credenciais éticas necessárias, desmereceu a cidadania e corroborou para que a história pioneira de atendimento hospitalar à região chegasse ao fundo do poço, deixando de atender milhares de cidadãos com os direitos assegurados pela Constituição Federal.

Os corumbaenses em sua maioria, sabe, o que significa raiz, amor ao chão onde pisa, sabe o valor do cheiro da terra, onde pioneiros iniciaram o ciclo que hoje se consolida, com a autoestima elevada e a capacidade de acreditar que o presente levará a cidade e sua gente à superação das dificuldades e à conquista definitiva de seus anseios, por anos esquecidos. Nesse chão, a terra é mais branca, nesse céu tem mais estrelas, o verde traz mais esperança, as águas transmitem mais paz, o ar é mais puro e o povo não é melhor ou pior do que outros povos, mas é diferente, com certeza e sabe o valor da terra.

O povo da Cidade Branca gosta de ser chamado de corumbaense, não se envergonha de ter laços com os irmãos bolivianos, recebe com hospitalidade os visitantes e adota os “estrangeiros” que se estabelecem como filhos legítimos. As pessoas  sentem orgulho de sua origem pantaneira e sul-mato-grossensse, e com todo respeito ao senhor governador e à instituição “Governo Estadual”, esse é um valor intrínseco de ter berço. Aqui onde a miscigenação é aclamada, onde a alegria do abraço fraterno é uma realidade, é possível viver sem ranço e com dignidade.

Ao trilhar por caminhos difíceis e conhecer a igualdade, a fraternidade e a liberdade, muitos aprendem que o respeito aos semelhantes é uma poderosa arma de amor e doação, mas nem todos entendem o significado profundo de respeitar, mesmo as diferenças. Não é oportuno, não é ético, não é moral e nem democrático favorecer os aliados, estando eles em trincheiras da malversação, mas infelizmente o Brasil padece desse mal desde a época do descobrimento.

 “Corumbá destes meus sonhos e dos meus primeiros dias”, traz em cada gesto, em cada coração corumbaense o respeito à Pátria, traz em sua rica história, a capacidade de superação, fortalece na sua arte, na sua gastronomia, na sua paisagem de morros e rios, a confiança de vencer as barreiras interpostas, afinal nem tudo são flores, mas a resistência é uma qualidade alicerçada em valores cidadãos.

Em respeito ao povo corumbaense, é prudente rever conceitos, buscar alternativas que permitam entender que a democracia não obriga a maioria a votar em um só candidato, sobretudo se esse candidato não fala a verdade e mascara intenções. Um governante deve ter em seu íntimo a clareza de governar para todos em igualdade de condições, deve saber que a capacidade humana absorve as contradições e principalmente, não pode imaginar que a inteligência só faça parte de um único universo, até porque toda paciência tem limite.

Os corumbaenses não podem separar os interesses coletivos da necessidade de contínuo desenvolvimento, porque a cidade precisa estar preparada para as futuras gerações, razão pela qual é preciso consciência. Ao subverterem os valores de cidadania, ao desmerecerem os conceitos de bairrismo de um povo digno, aguçam os mais profundos sentimentos de justiça e lealdade ao chão pantaneiro, e o povo que sabe dignificar a hospitalidade, que sabe honrar compromissos, também sabe como estalar um “piraim”. 

*Cléber de Oliveira Júnior é articulista.