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Presídio recebe mais detentos e continua superlotado

Com a interdição das celas da Polícia Civil, os presos são enviados diretamente ao Estabelecimento Penal Masculino, o que provoca um inchaço ainda maior na população carcerária de Corumbá

Nelson Urt em 10 de Junho de 2009

Diário Online

Estabelecimento Penal Masculino aguarda transferência de detentos para reduzir massa carcenária

As mudanças de infraestrutura na segurança beneficiaram a Polícia Civil, que ganhou um novo prédio, na antiga sede do Fórum, mas foram desfavoráveis ao sistema carcerário, já que agravam o problema da superlotação no Estabelecimento Penal. É que agora quem tem mandado de prisão está sendo enviado imediatamente para o presídio. “No máximo podem ficar aguardando uma noite na cela, mesmo assim em situações especiais”, afirmou ao Diário o delegado do 1º Distrito, Gustavo Bueno. Até 50 pessoas chegaram a ocupar as celas do DP, que agora passa por reformas e não recebe mais presos. Era uma situação provisória que acabou se transformando em rotina, mas todos foram transferidos para o Estabelecimento Penal. “A Polícia Civil não tem atribuição de cuidar dos presos, mas de investigar, apurar e prender os criminosos. É lógico que entendemos o problema, porque temos uma massa carcerária muito grande e a maioria dos presos não é do Estado. Mas cumprimos uma determinação judicial e de agora em diante não ficaremos mais com presos no 1º Distrito”, acentuou o delegado.

A transferência de presos para outros municípios é apontada como um remédio contra a superlotação. Quando participou em Corumbá do Fórum de Segurança, Justiça e Cidadania, o secretário de Justiça e Segurança Pública, Wantuir Jacini, prometeu transferir 50 presos para Dourados e outros 150 para Dois Irmãos do Buriti. No mês passado, foram transferidos 28 detentos para outros presídios do Estado. A população carcerária do Estabelecimento Penal, que era de 540 detentos, caiu para 512, mas logo voltou a aumentar quando recebeu os 38 presos que ocupavam as celas da Polícia Civil. O déficit permanece e hoje o presídio abriga 550 pessoas, quando possui capacidade para 170. 

Outra solução será a construção de uma Cadeia de Trânsito, própria para abrigar presos provisoriamente. Faz parte das promessas do secretário Wantuir Jacini, mas por enquanto a prioridade do Estado é a reforma do prédio do 1º Distrito Policial. Por causa da superlotação e outras falhas que ferem os direitos do cidadão, o Estabelecimento Penal Masculino de Corumbá correu o risco de ser interditado, a pedido do promotor de Justiça Gerson Eduardo de Araújo, em processo que tramita na 1ª Vara Criminal de Corumbá. Ele só retirou o pedido de interdição porque durante o Fórum de Segurança, Justiça e Cidadania foi assinado um Termo de Cooperação Mútua entre as prefeituras de Corumbá e de Ladário, Secretaria de Segurança e Justiça Pública, o Poder Judiciário, o Ministério Público Estadual (MPE) e Ministério Publico Federal (MPF) para providenciar a transferência de detentos e a nomeação de um médico permanente para o Estabelecimento Penal. Fontes informaram ao Diário que o médico já começou a atender os presos. A Prefeitura também se comprometeu instalar no presídio uma unidade do programa ESF (Estratégia de Saúde da Família).

A fiscalização e a segurança ainda são precárias. Uma das cláusulas de atribuições da Secretaria de Justiça e Segurança Publica foi a abertura de novo concurso para agente penitenciário, contemplando Corumbá com cinco vagas. Mas o presídio precisaria muito mais que isso e aguarda a chamada aos que já foram aprovados em concursos anteriores. O presídio conta hoje com 27 funcionários, entre agentes e oficiais. Durante os plantões, no período noturno, ou nos finais de semana, apenas quatro agentes penitenciários guarnecem toda a segurança. Contam com o apoio a guarnição da PM que fica na mureta e guaritas. 

Insuportável

O pedreiro P.B. contou que cumpriu pena no Estabelecimento Penal durante dois anos e três meses, antes de ser transferido para o regime semi-aberto. “A situação lá em cima está insuportável, o número de presos é ainda maior do que estão informando, já tem mais de 600”, afirmou ao Diário, nesta terça-feira, em frente ao prédio da Polícia Civil, onde solicitou a carteira de identidade. “Depois que fui preso, ficaram com meu RG e não me devolveram mais. Agora preciso do documento porque preciso voltar a trabalhar de pedreiro”, acrescentou. P.B. disse que cumpre pena por tráfico, mas assegura que era apenas usuário.