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Professora de Corumbá recebe do Iphan título de Mestra Cururueira

Leonardo Cabral em 05 de Dezembro de 2023

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Leidiane Garcia, que recebeu do Iphan o título Mestra do Saber

A região do Pantanal passou a ter a primeira mulher mestra cururueira, a professora que também é mestra em educação, Leidiane Garcia, que recebeu do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o título Mestra do Saber.

Ela é reconhecida por desenvolver projetos relacionados à educação musical e cultural junto aos estudantes da escola municipal Cássio Leite de Barros, onde leciona a disciplina de arte e música.

O título, bastante comemorado, foi entregue pelo superintendente do Iphan, em Mato Grosso do Sul, João Henrique dos Santos, durante inauguração da Casa de Memória Sebastião Brandão, em Ladário, um dos mestres cururueiros mais conhecidos em todo o Estado.

Leidiane Garcia contou que está muito lisonjeada com o título de mestra e vê como a valorização do trabalho desenvolvido desde 2014, quando começou a desenvolver o projeto. “O trabalho começou em 2008, quando vim para Corumbá, para trabalhar como educadora musical e pesquisadora do campo da cultura popular. Só em 2014, consegui repassar esses conhecimentos que aprendi com os mestres. Acima de tudo, agora ser reconhecida como Mestra Cururueira, me faz entender a condição para a manutenção da cultura local”, disse ao Diário Corumbaense

Ela ressalta sobre ser a primeira mulher a conquistar o título, que é muito importante para a cultura local, com peso de visibilidade em todo o Brasil.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Professora é reconhecida por desenvolver projetos relacionados à educação musical e cultural

“Acho que é emblemático por ser mulher, não ter vindo de família de cururueiros e não pertencer à tradição de Corumbá, Ladário ou de Mato Grosso do Sul. Sou de Campo Grande e minha formação específica é a música. Eu não cresci vivenciando o siriri do cururu como meus mestres, mas me sinto envolvida e com obrigação maior de defender o título, com a responsabilidade de fazer constantemente a manutenção dos meus conhecimentos para entender o que a referência que o título me traz, que é o compromisso maior de estimular a manutenção dessas práticas fora e dentro da escola”, frisou Leidiane Garcia.

Na sala de aula

O trabalho junto aos estudantes ressalta ainda mais a relevância do título, pois são eles que irão ajudar a difundir ainda mais essa tradição secular, que está enraizada na cultura local, como representatividade da região para todo o mundo.

É através do trabalho dentro e também fora da sala de aula, que os estudantes se veem envolvidos com as atividades de confeccionar, de aprender a cantar, a tocar os instrumentos, como a viola de cocho, o ganzá, entre outros.

A viola de cocho é um instrumento musical singular quanto à forma e sonoridade, produzido exclusivamente de forma artesanal, com a utilização de matérias-primas existentes na região Centro-Oeste do Brasil. Sua produção é realizada por mestres cururueiros, tanto para uso próprio como para atender à demanda do mercado local, constituída por cururueiros e mestres da dança do siriri. O Modo de Fazer a Viola de Cocho foi registrado no Livro dos Saberes, em 2005.

“É se sentir pertencente a cultura que é deles (estudantes) e até então não acessavam através da escola, disciplina arte, ou outras atividades, porque é muito distante. Então, trazer isso para a escola, trazer os mestres, ter trazido o ‘seo’ Sebastião, mestre cururueiro, para dividir os conhecimentos foi grandioso. Esse momento de ter o retorno desse trabalho de valorização dos mestres e da cultura local inserida na disciplina arte dentro da escola, também agregou valor ao que a gente já faz. Perceber que todos esses conhecimentos que nós apresentamos em sala, que a minha pesquisa já de muitos anos,  fez e faz sentido no cotidiano deles, é muito importante. Na verdade, acho que isso impulsiona as crianças a quererem estudar, a entender mais, a defender o trabalho que já conhecem e está no cotidiano deles”, ressaltou a educadora.

Entre os estudantes, há alguns que são parentes de grandes nomes da cultura do siriri e do cururu, como José, tocador de ganzá, da família do centenário Agripino Magalhães (in memoriam). “Responsabilidade é dos alunos também, então, somos resistência, até comentei com eles todos, os conhecimentos dependem da gente em continuar produzindo, registrando, trabalhando de diferentes formas”, falou.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Sobrinho-neto de "seo" Agripino, Máximo Teixeira (2º a direita) também tomou gosto pela viola de cocho durante aulas com a professora

Sobrinho neto de Agripino, Máximo da Silva Teixeira, de 13 anos, e que está cursando o 8° ano na escola Cássio Leite de Barros, segue os mesmos passos. Agarrado com a viola de cocho, ele e os colegas, desenvolvem os cantos e também aprendem a tocar os instrumentos.

“Aprendi a tocar a viola com a professora. Fico muito feliz em poder fazer o que meu tio avô fazia, sei que é muito importante, ainda mais poder ajudar a difundir essa cultura tão bonita que é a nossa. Por isso, é importante estar aqui participando. Eu ouvia falar do meu tio avô, e quero seguir os mesmos passos que ele”, afirmou Máximo.

Já o estudante Davi, de 07 anos, disse que começou a fazer parte do grupo pelo pedido de uma tia. Até um ganzá, instrumento fabricado artesanalmente de taquara ou bambu, que acompanha a viola de cocho na execução musical do cururu e do siriri, ele ganhou.

“Eu toco ganzá, foi difícil aprender, mas depois que pega o jeito fica fácil, acho muito legal estar aqui. Vim para a escola e minha tia pediu para eu participar”, disse Davi, que domina o instrumento com propriedade ao acompanhar os colegas durante a apresentação.

V.P.D.S.

Ano que vem, em 2024, o grupo Vocal de Percussão e Dança do Siriri (V.P.D.S.), idealizado pela professora Leidiane, completa 10 anos. 

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Grupo V.P.D.S., completa 10 anos na Escola Cássio Leite de Barros

“Logo que vim para a escola Cássio Leite de Barros, senti a necessidade de repassar conhecimentos adquiridos como pesquisadora, e, a disciplina arte e a escola, foi o espaço onde tive a possibilidade de realizar esse trabalho, seguir com a pesquisa, produzindo música e repassando esses conhecimentos. Então, foi com as crianças do ensino fundamental 1 e 2 desde 2014, que comecei a desenvolver essas atividades de ensino coletivo de música, já com  iniciação instrumental,  técnica vocal, inseridas na disciplina arte, como bolsistas no final de semana”, concluiu a professora.

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