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Marília Mendonça: líder do movimento que colocou as mulheres como protagonistas da música sertaneja

G1/Goiás em 05 de Novembro de 2022

Will Dias/Futura Press via Estadão Conteúdo

Marília é apontada como um divisor de águas no gênero musical e como uma lacuna que jamais será preenchida

Do microfone do barzinho aos maiores palcos do Brasil, Marília Mendonça não inspirou apenas fãs, mas também mulheres que usam o poder da voz para cantar o que vai muito além da música, a representatividade.    

Considerada por músicos e especialistas como a líder de um movimento transformador dentro do sertanejo, que trouxe as mulheres para um local de protagonismo, Marília é apontada como um divisor de águas no gênero musical e como uma lacuna que jamais será preenchida.   

Apesar de ter estreado em 2015, com um EP homônimo, foi a partir de 2016, com o lançamento do DVD “Marília Mendonça Ao Vivo” que a rainha da sofrência começou a tocar o coração dos admiradores com ainda mais intensidade. Nesse período, Marília também iniciou uma extensa quebra de recordes que se estende até mesmo após sua morte, em 05 de novembro do ano passado.  

Cantoras que estão começando a carreira e já despontam em Goiás contam que Marília é inspiração para uma longa caminhada. Elas relatam sobre o que a jovem voz encantadora da rainha da sofrência deixou e cantam seus sucessos. 

A cantora Yasmin Santos que tem um timbre de voz perceptivelmente parecido com o de Marília, realizou o sonho de cantar com sua musa inspiradora do sertanejo em 2019. Ela é um exemplo de novo destaque da música, já com grandes sucessos disparados como: "Para, Pensa e Volta", gravada com Marília.  

Reprodução/Redes Sociais

Marilia Mendonça e Yasmin Santos durante show

“No meu primeiro DVD tive a oportunidade de gravar uma música com a Marília e realizar meu grande sonho. Ela me inspirou de várias formas: pela carreira que ela construiu e consolidou, pelo ser humano que ela era e por quebrar várias barreiras super importantes”, disse Yasmin. 

Ainda que grandes cantoras do sertanejo já estivessem em atividade quando Marília lançou seu primeiro trabalho, a transformação que a sertaneja trouxe para o sertanejo, segundo as próprias cantoras, ultrapassa a própria carreira dela, abrindo portas para um novo subgênero da música sertaneja: o feminejo.   

Para Ana Christina de Pina Brandão, que é doutoranda em estudos da linguagem pela Universidade Federal de Catalão (UFCAT), e cujo trabalho de mestrado teve como um dos principais objetivos refletir sobre o empoderamento nas canções interpretadas por Marília Mendonça, o “feminejo” foi um dos maiores acontecimentos da música sertaneja.   

Ela ainda explica, no entanto, que o feminejo não foi um acontecimento isolado, mas devido a uma série de avanços sociais nas pautas feministas que ocorreram anteriormente a ele próprio.   

“O sertanejo sempre foi um segmento musical preponderantemente masculino, mas Marília Mendonça conseguiu ser um acontecimento ainda maior do que próprio 'feminejo'”, complementa Ana.

Compositora de milhões 

Além de interpretar várias canções de outros compositores, Marília criou um vasto repertório de 335 obras musicais autorais e 444 gravações de composições suas e de outros artistas cadastradas no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Seu hábito de compor as próprias músicas e ter lançado músicas autorais foi o que a diferenciou dentro do sertanejo.    

Para o diretor de filmes Anselmo Troncoso, o fato de a Rainha da Sofrência compor grande parte das músicas que cantava foi o que contribuiu com a popularização de músicas com o ponto de vista feminino. 

“Ela escrevia as músicas com o olhar feminino, olhar que até então na música sertaneja você não tinha muito. A maior parte era muito mais masculina do que uma visão feminina. Com isso ela traz todas essas coisas que muitas vezes as pessoas não imaginavam que fosse dessa forma”, explicou Anselmo.   

Ele ainda explica que esse movimento se deu com tamanha intensidade devido ao contraste de quando cantoras utilizavam majoritariamente composições masculinas, que colocava as mulheres em uma posição diferente da que elas exercem atualmente no gênero musical, que é a de protagonistas. O diretor ainda falou sobre o empoderamento que a cantora trouxe, de modo a incentivar as demais mulheres a “serem elas mesmas” e agir da forma que achassem mais convenientes.   

"Ela começa a trazer um empoderamento maior para as mulheres, porque muitas tinham vergonha de falar que às vezes chorava por um homem, que às vezes bebia, ia para o bar”, pontuou. 

Essa ampliação de visões de mundo, segundo ele, permitindo uma ampliação de horizontes e, consequentemente, uma transformação do que se entendia por sertanejo até o surgimento de Marília Mendonça.

A pesquisadora Ana Christina também ressalta o ato de compor da Rainha da Sofrência, ao pontuar a pequena quantidade de compositoras mulheres dentro da música popular brasileira, em especial o sertanejo, quando comparado com o número de homens.   

"Eu acho que não apenas como intérprete, mas como compositora, Marília abriu um espaço de importância para as mulheres nesse segmento musical”, complementou Ana.

Para sempre, Marília 

A dona de uma das vozes mais poderosas do Brasil nasceu em 22 de julho de 1995, em Cristianópolis, cidade a 90 km de Goiânia. Marília ganhou fama ao compor e gravar a música “Infiel”, no seu primeiro DVD lançado em 8 de junho de 2015. Desde então, foi e segue sendo sucesso nas paradas musicais e nos corações dos fãs. 

Ela chegou a gravar o álbum "Todos Os Cantos", onde fez shows abertos ao público em todas as capitais. O que admirava, é que ela mesma ia para as ruas dias antes para divulgar a gravação dos clipes. 

A eterna rainha da sofrência morreu aos 26 anos, após o avião em que ela estava cair em Caratinga (MG), onde faria um show. Além da cantora, outras quatro pessoas também faleceram - entre elas, o tio e assessor dela, Abicelí Silveira Dias Filho.

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