Sílvio Andrade - Site Lugares em 18 de Agosto de 2022
Divulgação/Corpo de Bombeiros Militar
Redução das queimadas no Pantanal, segundo os produtores, está relacionada diretamente às ações de prevenção e combate e às chuvas de agosto
Esses dados fazem parte da nova versão do Monitor do Fogo, que o MapBiomas lançou em sua plataforma. O novo sistema difere e complementa o monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) porque avalia as cicatrizes do fogo, e não os focos de calor.
O MapBiomas é iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas.
Governo e chuva
A redução das queimadas no Pantanal, segundo os produtores pantaneiros, está relacionada diretamente às ações conduzidas pelo Governo do Estado, por meio da Semagro (secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), com o plano estadual de prevenção e combate ao fogo.
O setor destaca os investimentos na estruturação do Corpo de Bombeiros, com a compra de uma aeronave Air Tractor, viaturas e equipamentos e capacitação dos bombeiros, totalizando mais de R$ 57 milhões. Também enfatiza as ações de prevenção no monitoramento das áreas críticas e, com apoio do Senar, a formação de brigadas rurais com o treinamento de funcionários das fazendas.
Divulgação/Corpo de Bombeiros Militar
Além de monitorar áreas críticas, os bombeiros atuam no treinamento das brigadas rurais, formadas por funcionários das fazendas
“Está derramando água”, afirma Luciano Aguilar Leite, ex-presidente do Sindicato Rural e secretário-adjunto da secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Corumbá. Segundo ele, a chuva tem sido intensa nos últimos três dias em todo o Pantanal Sul. No Porto São Pedro, região da Serra do Amolar (Norte de Corumbá), caiu 120mm de chuva em 48h.
“Em algumas regiões, como na Nhecolândia, choveu 70mm em um dia, uma bênção, vamos ter seguramente um ano melhor em relação às queimadas”, disse.
Amazônia e Pampa
A área queimada do Norte ao Sul do país, embora maior que o estado de Alagoas, é 2% menor do que a que foi consumida pelo fogo no ano passado. Porém, na Amazônia e no Pampa a situação é diferente: esses são os únicos biomas com aumento na área afetada pelo fogo.
Na Amazônia o fogo atingiu uma área de 1.479.739 hectares, enquanto que no Pampa foram 28.610 hectares queimados entre janeiro e julho de 2022. Nesse período, foi registrado um aumento de 7% (ou mais de 107 mil hectares) na Amazônia e de 3372% no Pampa (27.780 ha).
Divulgação
Em julho, o governador Reinaldo Azambuja decretou estado de emergência no Pantanal: mais controle no combate ao fogo
Metade das cicatrizes deixadas pelo fogo localizam-se no bioma Amazônia, onde 16% da área queimada corresponderam a incêndios florestais, ou seja, áreas de floresta que não deveriam queimar.
O Mato Grosso foi o estado que mais queimou nos sete primeiros meses de 2022 (771.827 hectares), seguido por Tocantins (593.888 hectares) e Roraima (529.404 hectares). Esses três estados representaram 64% da área queimada afetada no período.
No Cerrado, a área queimada entre janeiro e julho de 2022 (1.250.373 hectares) foi 9% menor que no mesmo período do ano passado, porém 5% acima do registrado em 2019 e 39% maior que em 2020.
O mesmo padrão foi identificado na Mata Atlântica, onde houve uma queda de 16% em relação a 2021 (ou 14.281 hectares), porém um crescimento de 11% em relação a 2019 e 8% na comparação com 2020.
Dentro os tipos de uso agropecuário das áreas afetadas pelo fogo, as pastagens se destacaram com 14% da área queimada nos sete primeiros meses de 2022.
O primeiro e o segundo lugar da lista de municípios que mais queimaram entre janeiro e julho de 2022 são ocupados por Normandia e Pacaraima, ambas em Roraima. Em julho de 2022, os municípios de Formosa do Araguaia e Lagoa da Confusão, no Tocantins, foram os que tiveram maior área queimada. Neste último, fica parte do Parque Nacional do Araguaia.
Mais informação
A nova versão do Monitor do Fogo passará a fazer uso de imagens do satélite europeu Sentinel 2, que tem duas importantes características para esse tipo de mapeamento: ele passa a cada cinco dias sobre o mesmo ponto, aumentando a possibilidade de observação de queimadas e incêndios florestais; além disso, tem resolução espacial de 10 metros. Isso acrescenta cerca de 20% a mais na área queimada em relação aos dados do Mapbiomas Fogo coleção 1, que traz o histórico de fogo anualmente desde 1985. Também permite que a partir de agora os dados sejam divulgados mensalmente.
Anteriormente, os dados de focos de calor representam a ocorrência de fogo (e potencialmente contribuem para seu combate) mas não permitem avaliar a área queimada. O Monitor de Fogo, por sua vez, revela em tempo quase real (diferença de um mês) a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição que é apontada pelos focos de calor da plataforma do INPE.
“Este produto é o único nessa frequência e resolução a fornecer esses dados mensalmente, o que facilitará muito a prevenção e combate aos incêndios, indicando áreas onde o fogo tem se adensado”, explica Ane Alencar, coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas. “Além do poder público, é uma ferramenta de grande utilidade para a iniciativa privada, como o setor de seguros, por exemplo”, completa.
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