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Ritmo latino, a cúmbia ganha cada vez mais espaço em Corumbá e reforça a identidade fronteiriça

Leonardo Cabral em 16 de Julho de 2022

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Grupo Swing Latino na noite do Flash Back, na Boate 1054, em Corumbá

Quem nunca foi a uma festa, desde um simples churrasco, aniversário ou até um casamento ou formatura e se embalou ao som da cúmbia? O ritmo envolvente e até sensual que coloca todos os convidados para dançar, vem da Bolívia, representa um traço forte da identidade cultural entre Corumbá e as cidades bolivianas, na fronteira, e está cada vez mais caindo no gosto musical nas festas do lado brasileiro.

O ritmo ganhou mais aceitação, até nas casas noturnas, onde o pagode, funk, sertanejo e axé costumavam ser o “carro chefe” nas noitadas do município pantaneiro. Hoje, os DJ’s corumbaenses se rendem ao ritmo musical que é pedido durante as apresentações.

Com essa preferência, grupos musicais das cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suárez estão mais requisitados em baladas. No último final de semana, por exemplo, dois grupos bolivianos marcaram presença. O Swing Latino que comandou a animação no tradicional Flashback da Boate 1054, e o Potência Tropical, atração em uma festa junina no bairro Cristo Redentor.

De acordo com Sergio Aguilera Toledo, líder do Swing Latino, grupo que existe há 24 anos, o interesse dos brasileiros pela cúmbia é visto com grande satisfação pelos músicos do outro lado da fronteira.

“Sempre que podemos, estamos tocando e animando festas em Corumbá. A maioria, casamentos e aniversários. Porém, tocar na Boate 1054 é uma grande oportunidade para mostrar o nosso trabalho e levar a cúmbia para alegrar os corumbaenses. É prazeroso ver o brasileiro se arriscar nos passos, mesmo aqueles que ainda têm dificuldades nos movimentos”, disse Sergio que também destacou a importância da troca de culturas e a necessidade de inserção do ritmo no calendário dos grandes eventos.

“Quando começamos, éramos apenas três integrantes no grupo, já tocamos em evento nas cidades de Miranda e em Campo Grande. É sempre uma honra estar animando as festas do lado do Brasil. É uma importante troca de cultura, nós aqui admirando o samba e os brasileiros a cúmbia. As bandas bolivianas estão preparados para representar a Bolívia em grandes eventos, como, por exemplo o próprio Festival América do Sul Pantanal, levando o que de fato é a nossa identidade fronteiriça, como a própria cúmbia e tantos outros ritmos latinos como: salsa, merengue, rumba, que com toda certeza, animam qualquer público”, declarou Sergio ao Diário Corumbaense.

Apaixonado pela cumbia, o turismólogo, Luiz Ricardo Julião Rocha, quando soube que o grupo boliviano iria tocar na boate, não perdeu tempo, organizou um grupo de amigos e foi curtir a noite.

“Como um bom corumbaense, ouço a cúmbia e aprendi a dançá-la desde pequeno. Mesmo não tendo descendência boliviana, tocamos cúmbia nas festas familiares, em todas as oportunidades, assim como o chamamé, a polca paraguaia e o samba. É um ritmo que me encanta, que quando é tocada, não tem como pelo menos não cantar ou balançar os ombros”, disse Luiz Ricardo, que enalteceu a apresentação internacional na casa de shows.

“Ouvir e dançar cúmbia ao som de música ao vivo é um show. O estilo da banda com instrumentos de percussão e sopro são encantadores. Acho incrível os grupos da Bolívia tocarem aqui, trazendo uma energia muito boa e um visual cultural muito bacana. Sou a favor de sempre ter show de cúmbia ao vivo”, opinou o turismólogo.

Cúmbias no gosto dos corumbaenses

Mesmo consideradas fora de moda em outros países, algumas músicas são consideradas inesquecíveis no lado brasileiro e estão entre as faixas que não podem deixar de ser tocadas nas festas em Corumbá.

Entre as “preferidas” três são destaque, dentre elas, duas interpretadas pela atriz e cantora mexicana Laura Leon: Suavecito - de 1992, considerada canção ícone da cultura pop mexicana em sua década de lançamento; “Dos Mujeres, un Camino” que também foi tema de telenovela mexicana e "Pasito Tun Tun", o sucesso dos anos 90 interpretado originalmente pelo grupo peruano feminino Agua Bella.

“Se não tocamos essas músicas é como se não tivéssemos subido ao palco. Mesmo fora de moda na Bolívia, esses três temas são presença forte ainda em Corumbá. Os corumbaenses exigem essas músicas e nós, claro, mesmo com tantos outros temas e ritmos, não podemos negar”, explica Sergio.

Para a produtora cultural e mestre em Estudos Fronteiriços, Lívia Gartner, a música, assim como a gastronomia, é um importante elemento que constrói essa identidade fronteiriça na região pantaneira.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Grupo é da cidade de Puerto Suárez e está há 24 anos no mercado musical fronteiriço

“As celebrações de vida, de fé e do cotidiano moldam-se numa constante intermitência, alternando o meu, o seu, até um ponto onde surge o nosso. Uma relação que quando incorporada na vivência geral, o que podemos chamar “fronteiriço” com elementos de ambas culturas. A saltenha, por exemplo, é uma receita boliviana, mas quem se atreve a dizer que ela não é também de Corumbá? A cúmbia é um ritmo presente em muitas festas e bares da cidade, sendo pedida, apreciada por muitos brasileiros, principalmente”, disse Lívia.

Origens

A cúmbia é a música típica nacional da Colômbia. De início, surgiu na região norte do país, na zona rural e somente depois chegou às grandes cidades.

O ritmo se disseminou por todos, ou quase todos, os países falantes do castelhano na América Latina e, atualmente, é considerado um dos ritmos musicais mais populares na Argentina, México, Peru, Equador, Bolívia, entre outros.

É um dos principais marcos da expressão africana na América, já que os "fundadores" foram descendentes de escravos colombianos vindos da África. A palavra cúmbia viria de cumbé, que significa festa.

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