Silvio Andrade - site Lugares em 30 de Junho de 2022
Alexander de Oliveira/foto cedida ao Diário Corumbaense
Casal de tuiuiús no ninho artificial, mas a seca no Pantanal deve inibir o processo reprodutivo
"O casal adotou o ninho", garante o pesquisador. "Por dois anos consecutivos (o casal) preparou o ninho com materiais vegetais, e continuou usando para dormir mesmo após o período de reprodução", acrescenta, com base em monitoramento. No entanto, a ausência das aves no local por longo período, notada por quem trafega pela rodovia durante o dia, deixou a impressão de que a tentativa de garantir uma nova morada aos tuiuiús não vingou.
Há uma semana, finalmente o casal foi visto no ninho artificial, reacendendo a curiosidade e a torcida para que volte a habitar diuturnamente o local, que se tornou um atrativo turístico. "Não se trata de retorno. Neste período deveriam estar colocando material no ninho, e se for o caso, haverá produção de ovos. Mas as chances são muito baixas, em função da seca extrema na região onde o ninho se localiza", atesta Tomas, mestre em Vida Selvagem e doutorado em Ecologia e Conservação.
Fogo destruiu um símbolo
Localizado entre o Buraco da Piranha e a ponte sobre o rio Paraguai, num raio de 50 km, o ninho construído pelos tuiuiús era observado desde a década de 1980 e resistiu a alguns impactos, como a presença de acampamento de operários na obra de pavimentação da rodovia. Foi tombado em 2011 como patrimônio pela Prefeitura de Corumbá, por meio do decreto municipal, porém não teve a devida proteção e acabou destruído pelo fogo.
Arquivo/Fundação do Meio Ambiente de Corumbá
Estrutura metálica foi instalada ao lado da árvore que sustentava o ninho
Como o tronco da árvore foi comprometido, o veterinário da Embrapa Pantanal, sugeriu à Fundação de Meio Ambiente de Corumbá o projeto alternativo, que foi aprovado com a construção de uma torre, ao lado, em outubro de 2020. Com a parceria da empresa Energisa, a estrutura de concreto de 12 metros de altura deu suporte ao ninho artificial metálico, que ganhou material inicial (gravetos) para induzir o casal de tuiuiús a reconstruí-lo e adotá-lo.
Reprodução ocorre na cheia
Tomas se inspirou nos ninhos artificiais na Europa, onde são comuns, e no projeto das araras azuis conduzido pela bióloga Neiva Guedes, para criar a alternativa de substituição da morada das aves símbolos do Pantanal. O início foi uma incógnita: a aceitação do ninho dependia de vários fatores, um dos quais, e imprescindível, seria a presença de água no entorno da área para garantir alimentação. O local, no entanto, havia sido impactado pelos incêndios.
Arquivo/Silvio Andrade
Ninho no ipê florido: parada obrigatória para contemplação por quem viajava pelo Pantanal, entre Miranda e Corumbá
Para que não ocorram destruição de novos ninhos é fundamental o uso do fogo de forma correta, nos ambientes certos, na época certa e na frequência correta, alerta o biólogo. "É o melhor mecanismo de proteção destes ninhos. A reprodução (nascimento e crescimento de filhotes) ocorre exatamente no período mais seco, e o fogo pode destruir ninho, ovos e filhotes, como foi observado em várias ocasiões nos três anos anteriores", completa.
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