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Tuiuiús ocupam ninho artificial, mas reprodução é improvável, diz pesquisador

Silvio Andrade - site Lugares em 30 de Junho de 2022

Alexander de Oliveira/foto cedida ao Diário Corumbaense

Casal de tuiuiús no ninho artificial, mas a seca no Pantanal deve inibir o processo reprodutivo

Desde que o ninho natural sobre a copa de um ipê roxo foi queimado no grande incêndio que ocorreu em 2020, no Pantanal, o casal de tuiuiús visto até então com frequência na beira da rodovia BR-262, que corta o bioma, não mais se reproduziu no local. O fato estaria relacionado ao período de seca, desde 2019, e não a recusa ao ninho artificial instalado ao lado, garante Walfrido Tomas, veterinário da Embrapa Pantanal. 

"O casal adotou o ninho", garante o pesquisador. "Por dois anos consecutivos (o casal) preparou o ninho com materiais vegetais, e continuou usando para dormir mesmo após o período de reprodução", acrescenta, com base em monitoramento. No entanto, a ausência das aves no local por longo período, notada por quem trafega pela rodovia durante o dia, deixou a impressão de que a tentativa de garantir uma nova morada aos tuiuiús não vingou.   

Há uma semana, finalmente o casal foi visto no ninho artificial, reacendendo a curiosidade e a torcida para que volte a habitar diuturnamente o local, que se tornou um atrativo turístico. "Não se trata de retorno. Neste período deveriam estar colocando material no ninho, e se for o caso, haverá produção de ovos. Mas as chances são muito baixas, em função da seca extrema na região onde o ninho se localiza", atesta Tomas, mestre em Vida Selvagem e doutorado em Ecologia e Conservação.   

Fogo destruiu um símbolo     

Localizado entre o Buraco da Piranha e a ponte sobre o rio Paraguai, num raio de 50 km, o ninho construído pelos tuiuiús era observado desde a década de 1980 e resistiu a alguns impactos, como a presença de acampamento de operários na obra de pavimentação da rodovia. Foi tombado em 2011 como patrimônio pela Prefeitura de Corumbá, por meio do decreto municipal, porém não teve a devida proteção e acabou destruído pelo fogo. 

Arquivo/Fundação do Meio Ambiente de Corumbá

Estrutura metálica foi instalada ao lado da árvore que sustentava o ninho

O ninho era um símbolo de conservação e do comportamento da vida selvagem no Pantanal, além de se configurar como um dos mais interessantes atrativos turísticos naturais da região. Quem não se sentiu seduzido por aquele "troféu", trafegando pela estrada, e fez seu registro fotográfico ou, simplesmente, contemplou um presente da mãe natureza? Na floração do ipê, era um espetáculo. Em 2019, o ninho revelou o nascimento de quatro filhotes.     

Como o tronco da árvore foi comprometido, o veterinário da Embrapa Pantanal, sugeriu à Fundação de Meio Ambiente de Corumbá o projeto alternativo, que foi aprovado com a construção de uma torre, ao lado, em outubro de 2020. Com a parceria da empresa Energisa, a estrutura de concreto de 12 metros de altura deu suporte ao ninho artificial metálico, que ganhou material inicial (gravetos) para induzir o casal de tuiuiús a reconstruí-lo e adotá-lo.   

Reprodução ocorre na cheia     

Tomas se inspirou nos ninhos artificiais na Europa, onde são comuns, e no projeto das araras azuis conduzido pela bióloga Neiva Guedes, para criar a alternativa de substituição da morada das aves símbolos do Pantanal. O início foi uma incógnita: a aceitação do ninho dependia de vários fatores, um dos quais, e imprescindível, seria a presença de água no entorno da área para garantir alimentação. O local, no entanto, havia sido impactado pelos incêndios. 

Arquivo/Silvio Andrade

Ninho no ipê florido: parada obrigatória para contemplação por quem viajava pelo Pantanal, entre Miranda e Corumbá

Segundo o biólogo da Embrapa Pantanal, o monitoramento por visitas eventuais e os registros fotográficos têm ajudado a reconhecer o uso contínuo do ninho. "Os tuiuiús, em anos muito secos, tendem a não reproduzir, por conta da falta de alimentos. Os levantamentos aéreos realizados pela Embrapa Pantanal, periodicamente desde 1991, mostram essa relação entre cheias no Pantanal e o número de ninhos ativos. O maior número já estimado foi de pouco mais de 20 mil ninhos, mas este número variou para baixo dependendo da intensidade e duração das cheias. É um fenômeno natural", afirma Tomas. 

Para que não ocorram destruição de novos ninhos é fundamental o uso do fogo de forma correta, nos ambientes certos, na época certa e na frequência correta, alerta o biólogo. "É o melhor mecanismo de proteção destes ninhos. A reprodução (nascimento e crescimento de filhotes) ocorre exatamente no período mais seco, e o fogo pode destruir ninho, ovos e filhotes, como foi observado em várias ocasiões nos três anos anteriores", completa. 

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