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Estudo retrata a hedionda cultura de matar mulheres em MS

Campo Grande News em 02 de Junho de 2022

Direto das Ruas/Campo Grande News

Na maioria dos crimes, o autor é o homem enciumado e inconformado com o fim da relação

O retrato dos feminicídios em Mato Grosso do Sul, expressão maior da violência de gênero, mostra vítimas de 11 a 80 anos, com a maioria morta a facadas e reflete a cultura machista. Os dados são do Relatório de Feminicídio 2021, divulgado pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). O levantamento traz dados de 2017 a 2021, relativos a 89 ações penais de feminicídios. 

A vítima mais jovem morreu menina. A adolescente de 11 anos foi assassinada por um tio, alguns primos e um desconhecido para ocultar o crime de estupro. A mais velha tinha 80 anos e foi morta pelo companheiro de 76 anos, que alegou ciúmes.

A maioria das mulheres (59%) é assassinada dentro de casa. Já a forma do crime revela a extrema violência. A maioria morre a facadas, seguido por arma de fogo, objetos (madeira, ferro, pedra, tijolo), facão, fogo, asfixia, força física, tesoura e atropelamento.

"Os resultados sugerem que existem elementos culturais em nosso Estado associados ao feminicídio e à violência doméstica contra a mulher, ou seja, esse tipo de violência não acontece em casos isolados ou localizados, mas apresenta-se como expressões de uma estrutura cultural (e mental) mais ampla, decantada entre as pessoas e em suas práticas cotidianas. Presumivelmente, a violência contra a mulher faz parte de uma estrutura cultural que existe em Mato Grosso do Sul”, afirma Asher Brum, professor doutor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). 

O professor destaca que o relatório mostra que as dinâmicas da violência acontecem de forma generalizada e não apenas em localidades específicas.

“Os resultados sugerem que existem elementos culturais em nosso estado associados ao feminicídio e à violência doméstica contra a mulher, ou seja, esse tipo de violência não acontece em casos isolados ou localizados, mas apresenta-se como expressões de uma estrutura cultural (e mental) mais ampla, decantada entre as pessoas e em suas práticas cotidianas. Presumivelmente, a violência contra a mulher faz parte de uma estrutura cultural que existe em Mato Grosso do Sul”.

De acordo com o Tribunal de Justiça, o documento também traz a motivação desses crimes, alinhada ao tipo de relacionamento entre a vítima e agressor. A maioria dos feminicidas são companheiros e ex-companheiros. Em 56% dos casos, percebe-se que o sentimento de propriedade que homens nutrem em relação às companheiras se traduz em ciúmes e inconformismo com o fim do relacionamento como motivadores para a prática do crime. 

Outra situação que se destaca é a incidência de questões financeiras como desentendimento sobre o pagamento por serviços sexuais prestados, posse sobre cartões bancários e de benefício assistencial, cobrança de dívidas e destruição de bem patrimonial da vítima como desencadeadores do crime. Esse fator pode ser reflexo da insegurança financeira da população com a pandemia em 2020 e 2021. 

O Tribunal de Justiça realizou na tarde ontem o Seminário Estadual de Combate ao Feminicídio.

“Estou na 1ª Vara da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Capital, onde realizamos aproximadamente mil audiências por ano. Trabalhamos muito, com a pretensão de cumprir uma meta: evitar que ocorram mais feminicídios, para que chegue um dia em que não será necessário estarmos aqui debatendo o combate ao feminicídio”, afirmou a juíza Helena Alice Machado Coelho.

Primeiro de junho é o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. E a data não passou sem sangue. Daniela Luiz, de 30 anos, e o filho dela, de 14 anos, foram assassinados a facadas em Ribas do Rio Pardo. -