Leonardo Cabral em 19 de Maio de 2022
Anderson Gallo/ Diário Corumbaense Antes da descida do cortejo, houve rápida celebração na Catedral
E para celebrar a conquista, a Prefeitura, por meio da Fundação da Cultura e Patrimônio Histórico do Pantanal e o Iphan realizaram um cortejo, com andores de São João Batista, uma prévia do que vai ser a festa na noite de 23 para 24 de junho, após dois anos sem a grande celebração por causa da pandemia da covid-19.
O prefeito Marcelo Iunes; o diretor-presidente da Fundação da Cultura, Joílson da Cruz e o chefe do escritório II do Iphan/MS, Cléber Ribeiro Dias, participaram do ato junto alguns festeiros que mantêm viva a tradição na região pantaneira.
“Depois da pandemia, voltamos a fazer o Banho de São João. Mas, esse ano, é uma festa especial, pois é a primeira com o título de Patrimônio Imaterial do Brasil. É tradicional em nossa cidade, a quinta maior do Brasil e a única que mantém a tradição de banhar o santo nas águas do rio, em todo o País. Agora, com esse título, a responsabilidade ficou maior ainda. Corumbá é o berço da cultura do Estado e se duvidar é o berço da cultura do centro-oeste brasileiro. É uma festa que mexe com a devoção”, falou o prefeito.
Anderson Gallo/ Diário Corumbaense Prefeito falou sobre o empenho e responsabilidade que aumentaram após o reconhecimento
Anderson Gallo/ Diário Corumbaense
Cleber Ribeiro Dias, chefe do escritório II do Iphan/MS, destacou que o registro vale por dez anos
Já Joílson Silva da Cruz, diretor-presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, falou da grande importância da celebração desse um ano de Patrimônio Imaterial do Brasil.
“É importante celebrar essa conquista, não só para a cidade, mas para todo o Estado, esperamos durante anos por esse reconhecimento. Então, tem uma importância relevante, é a nossa história, tradição que é mantida e preservada mais do que nunca. Um registro como esse, após tantos estudos, pesquisas, quando saiu, só marcou a trajetória de todos que colaboraram para esse registro. Daqui pra frente segue o trabalho de pesquisa junto aos festeiros para preservar a tradição e manter a chama viva, que é a descida dos andores até o rio Paraguai para banhar o santo”, frisou.
Representando Ladário, o diretor-presidente da Fundação de Cultura, Cleber Miranda, falou também da importância da festa. "A religiosidade se mistura à animação e ao calor humano do povo. O tombamento pelo Iphan é o reconhecimento de uma rica história passada em gerações de famílias e das cidades irmãs que ajudam a construir a rica cultura do Mato Grosso do Sul", ressaltou.
O padre, Júlio César Silva Mônaco, pároco da Catedral Nossa Senhora da Candelária, de onde saiu o cortejo, fez uma rápida celebração antes da descida do cortejo. Após as bênçãos aos andores, todos saíram em direção ao Porto Geral, descendo a Ladeira Cunha e Cruz, com destino ao escritório do Iphan, embalados pelo tradicional canto: “Se São João soubesse que hoje era seu dia, descia do céu a terra com prazer e alegria...”.
Anderson Gallo/ Diário Corumbaense Cortejo com os andores descendo a Ladeira Cunha e Cruz
“Essa tradição da festa vem de família, da época do meu avô. Fez por sete anos e depois que se cumpriu, o que era uma promessa virou tradição. Ele faleceu, minha avó com minha mãe deram continuidade. Mas há 11 anos, com a partida da minha mãe, tomei a frente e nos últimos quatro anos, estou com a minha comadre, Audenice. São cerca de 65 anos mantendo viva essa tradição e espero que meus filhos possam seguir, já pedi isso a eles”, mencionou Eliane ao Diário Corumbaense.
Um dos mais tradicionais festeiros de Corumbá. Alfredo Ferraz, que foi com parte de sua comunidade participar da comemoração, relembrou a saudosa Helô Urt, ativista cultural que faleceu em 2011.
“Para nós, esse título foi uma grande vitória e algo que esperávamos há tanto tempo. Era um sonho de Helô Urt, que tanto lutou. Por isso é muito especial. Temos a expectativa de uma grande festa, com muita alegria, gratidão e fé. Temos aqui, uma festa mágica e envolvedora que é o Banho de São João”, destacou Alfredo.
O pedido inicial foi realizado em 2010 pela Prefeitura de Corumbá, por meio da então Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal, e a partir daí, uma série de estudos, pesquisas, festejos, interações, entrevistas, coleta de materiais e cooperação geral, envolvendo o próprio Iphan, Prefeitura, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Conselho Municipal de Políticas Culturais, entre outros.
Os primeiros registros do Banho de São João em Corumbá e Ladário são datados do final do século XIX em jornais da época que já relatavam a forma singular dos festejos juninos nas duas cidades pantaneiras. Estudiosos afirmam que os festejos reúnem uma miscelânea de influências de povos, entre eles, os árabes e portugueses. Também marcam os festejos, o sincretismo religioso, sobretudo entre o catolicismo e as religiões de matrizes africanas.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense Festeiros mantêm tradição secular, passando por gerações de dezenas de famílias
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