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A matemática da folia no Carnaval de Corumbá

Por Dário Ferreira Sousa Neto (*) em 30 de Abril de 2022

O próximo Carnaval começa no momento em que o último termina. Mal encerra a apuração e já começam as conversas, os projetos e as expectativas. Como afirmou Graciliano Ramos, uma das certezas que o brasileiro tem na vida é o carnaval do próximo ano. Apesar da pandemia que nos impossibilitou dessa festa em 2021, a expectativa é de que tenhamos uma boa folia em 2023. O carnaval de Corumbá é conhecido como o melhor do centro-oeste. Esta fama certamente traz benefícios à cidade, pois agita o comércio, lota os hotéis e torna-se fonte de renda para muitas famílias corumbaenses.


Para quem assiste das arquibancadas e dos camarotes, inegavelmente sente a alegria contagiante dos foliões a espalhar-se entre fantasias não tão elaboradas e carros alegóricos criativos, bem construídos, mas que poderiam ser melhores. Mas para quem assiste dos bastidores, como eu tive a oportunidade de assistir este ano, descobre o milagre que é feito pelos presidentes, carnavalescos e toda a comunidade envolvida com os Blocos e Escolas de Samba para fazer as alas e as alegorias brilharem na avenida.


O investimento dado pelo Governo do Estado e pela Prefeitura não é suficiente para abrilhantarmos ainda mais o nosso carnaval corumbaense. Sabemos o quanto essa festa carnavalesca é rentável para Corumbá e, por isso, podemos fazer uma matemática simples: quanto mais a abrilhantarmos, mais rentável será para toda a população corumbaense. Infelizmente, parece que os nossos políticos não conseguem ver essa simples matemática da folia. Talvez, porque ainda insistem em ver o carnaval como gasto.


O desfile deste ano evidenciou que o dinheiro investido pelo Estado e Prefeitura não é suficiente para garantir o mínimo de quinze baianas na avenida. Várias escolas perderam ponto por uma coisa tão básica. O desfile também mostrou que o dinheiro não consegue fazer brilhar ainda mais as alas e as alegorias. Mas o desfile mostrou o potencial de nossos foliões para garantir a beleza e a energia contagiante da passarela. Nossos carnavalescos têm tanto potencial quanto quaisquer outros carnavalescos do Brasil, quem acompanhou os bastidores viu isso muito bem. O que lhes falta não é competência, mas grana.


Das dez Escolas de Samba, apenas três têm barracão para se preparem pro Carnaval: Mocidade Independente de Nova Corumbá, A Pesada e Vila Mamona. Não coincidentemente, das três, duas alcançaram o título. Setenta por cento das Escolas de Samba precisam improvisar espaços para fazerem seu carnaval. No bairro Dom Bosco, antes dos desfiles de carnaval, via-se na calçada de um bar um dos carros alegóricos da Marquês de Sapucaí sendo preparado. Tentem imaginar por um minuto a dificuldade que é construir o desfile nessas condições. Sem um lugar apropriado, não é possível para as escolas buscarem outras formas de renda para implementar e enriquecer seus desfiles. A pandemia de 2021 nos mostrou o que é uma Corumbá sem carnaval – todos perdem. Dê-lhes um espaço adequado e aguardem por um desfile mais qualificado para 2023.


Este texto não pretende ser uma crítica, nem uma denúncia, mas um exercício matemático. Como dois e dois são quatro, diria Ferreira Gullar, sei que o carnaval corumbaense vale o investimento. Se, com tantas dificuldades, o desfile de Blocos e Escolas de Samba traz foliões do Brasil inteiro, um investimento substancial não apenas no mês do carnaval, mas em todo o seu preparo, fará da nossa festa um investimento mais rentável ainda, digna de competir de igual com as festas carnavalescas mais famosas do Brasil.


Certamente, quem ganhará com isso não serão apenas os Blocos e as Escolas de Samba, mas as redes hoteleiras, os restaurantes, o comércio em geral, todo cidadão corumbaense, a Prefeitura e o Governo do Estado. Basta apenas que os políticos e a Associação Comercial corumbaense entendam essa simples matemática da folia: cultura não é gasto, mas investimento.


*Dário Ferreira Sousa Neto é Doutor em Literatura Brasileira e Professor dos cursos de Letras da UFMS-CPAN