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Rio Paraguai repete vazante extrema no Pantanal, aponta monitoramento

Rosana Nunes em 14 de Julho de 2021

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Monitoramento do rio Paraguai, que banha o bioma Pantanal, confirma patamares entre os menores já registrados nesta época do ano

Pelo segundo ano consecutivo, o rio Paraguai, que drena a Bacia do Alto Paraguai e o bioma Pantanal, vem apresentando valores de nível d’água significativamente abaixo da média. Com tendência de declínio de seu nível até o mês de outubro, quando normalmente termina o processo de vazante, o rio Paraguai preocupa em todas as estações monitoradas pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). 

O comportamento dos rios na bacia vem confirmando o prognóstico divulgado pelo órgão desde o início de junho (06/06/2021), quando ficou claro que o processo de vazante havia iniciado antecipadamente em 2021.

 

De acordo com o último Boletim de Monitoramento Hidrológico da bacia, publicado pelo SGB-CPRM, em Mato Grosso do Sul, na estação de Ladário, que é considerada um termômetro para medir o grau da estiagem no bioma Pantanal, o rio Paraguai está com apenas 1,26 metro nesta quarta-feira (14). Será o terceiro ano consecutivo em que o Pantanal não apresenta a habitual cheia, condição em que o nível d’água supera os 4 metros em Ladário. A última vez foi em 2018, quando o rio atingiu o pico de 5,35 metros. Para os próximos 28 dias, o SGB-CPRM prevê que o nível do rio deva ficar em 88 cm na estação localizada no município, ao lado de Corumbá.

 

O pesquisador em Geociências Marcus Suassuna destaca que a previsão para a cota mínima ao final do período seco é que o rio Paraguai oscile próximo ao nível de -40 cm em Ladário. A estimativa é a mesma do início de junho e essa redução de mais de um metro deve ser observada em torno do dia 20 de outubro. O estudo estatístico considera as vazantes mais próximas a que está sendo observada neste ano.


"Esse prognóstico foi comunicado aos possíveis interessados, como as companhias de saneamento, que vêm se preparando para utilização de bombas móveis para captar água do rio Paraguai e produtores agrícolas para o planejamento de embarques antecipados. Inclusive instituições internacionais têm nos procurado, pois a mobilização para enfrentar essa situação adversa não impacta somente no Brasil", relatou.

 

Reprodução

Prognóstico para o pico da estiagem no rio Paraguai em 2021

Nas estações de Bela Vista do Norte (Cáceres), Porto São Francisco (Corumbá), Ladário, Forte Coimbra (Corumbá) e Porto Murtinho, o nível do rio permanece na zona de atenção para mínimas, que compreende a faixa de valores de nível d’água situados entre os 10% menores registros de nível e os valores mínimos ocorridos em cada série histórica das estações (para este período do ano). Comparando com o histórico de monitoramento na região, a vazante que ocorre no ano 2021, tal qual a de 2020, aproxima-se significativamente das vazantes observadas no período compreendido entre os anos de 1967 e 1973.

 

De acordo com o pesquisador Marcelo Parente Henriques, a variação natural sazonal dos níveis dos cursos d’água da bacia do rio Paraguai, o pulso de inundação, constitui o fator principal que rege o funcionamento de rios com a planície de inundação e condiciona a vida da população e as atividades econômicas na região.

 

"Historicamente agosto é um dos meses mais secos da região, quando dificilmente chove. No ano passado, o nível do rio chegou a atingir dois metros no período máximo da cheia, neste ano chegou apenas a 1,80m, começando a baixar mais cedo, cerca de dois meses antes. Comparando com o mesmo período do ano passado, o nível atual do rio Paraguai está aproximadamente 50 centímetros mais baixo. Esse cenário traz mais preocupação, porque a seca este ano aparenta ser mais severa do que a que ocorreu ano passado, quando foram vivenciados vários impactos negativos na região", relatou.

 

Estimativas de chuvas por satélite indicam que não houve precipitação nos últimos 7 dias na bacia do rio Paraguai, considerando a área de drenagem delimitada pela estação de Porto Murtinho e sobre o bioma Pantanal. Para as próximas semanas, não estão previstas precipitações com acumulados significativos na área da bacia do rio Paraguai. A partir da semana seguinte, chuvas de pouca intensidade deverão incidir aleatoriamente sobre a bacia, provavelmente apresentando as maiores concentrações na região localizada mais ao sul de MS.

 

Impactos da estiagem

 

A bacia do rio Paraguai abrange uma das maiores extensões de áreas alagadas do planeta: o Pantanal. O período de estiagem tem implicações para navegação no rio Paraguai, hidrovia por onde escoa principalmente produção de grãos e minérios para exportação. Desde o dia 01/06 Ladário atingiu 1,50m, que é considerado o limite do nível de restrição para navegação pela Marinha do Brasil.

 

Outro problema que ronda a região é o abastecimento de água. Alguns municípios estão planejando captação de água alternativa com o uso de bombas móveis. As queimadas também preocupam. Com base no prognóstico de vazante extrema, o Governo de Mato Grosso do Sul decretou emergência ambiental por 180 dias, com objetivo de prevenir a propagação de incêndios em áreas que historicamente deveriam permanecer alagadas, mas que na seca favorecem a queima de turfa.

 

O rio Paraguai nasce na Chapada dos Parecis, e segue na direção sul, percorre o limite entre os biomas da Amazônia e do Cerrado, adentrando no Pantanal, na região de Cáceres, por onde segue até deixar o Brasil para o Paraguai. Desde sua cabeceira, o rio Paraguai drena para as regiões de depressão da planície do Pantanal, sendo o principal canal de drenagem da Bacia do Alto Paraguai (BAP). Possui uma extensão total de 2.621 km, dos quais 1.693 km se dão na RH-Paraguai, desde sua nascente até a foz do Rio Apa. 

Com informações da assessoria de imprensa do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM).


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