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Quase centenária, dona Cecília se curou da covid-19, mas perdeu o filho para a doença

Leonardo Cabral em 02 de Outubro de 2020

Leonardo Cabral/Diário Corumbaense

Dona Cecília é devota de Nossa Senhora Aparecida

Aos 99 anos e agarrada à fé em Nossa Senhora Aparecida – as imagens da Santa no altar da casa atestam a devoção – dona Cecília Arruda Leite, agradece pela vida após vencer a covid-19, mas ao mesmo tempo lamenta a partida do filho, de 67 anos. Ele não teve a mesma resposta em relação ao tratamento da doença e acabou falecendo no dia 04 de setembro.

Dona Cecília, que é hipertensa, contou ao Diário Corumbaense, que jamais pensou enfrentar uma situação como a que passou nos últimos dias. Com muita devoção, pedia para voltar ao lar, um apartamento, onde vive com uma das filhas, no bairro Nova Corumbá, parte alta da cidade. Foi lá que viu o filho pela última vez.

“Com a morte do meu filho, sem poder me despedir, eu fiquei internada no hospital. Eu pedia para que pudesse voltar logo para casa. Estava triste por dentro, mas ao mesmo tempo seguia com a força e devoção para logo me recuperar, mesmo sabendo que meu filho havia partido”, falou dona Cecília frisando sobre as saudades do filho. “Vou sentir falta das visitas dele”, disse emocionada. 

Quando o filho, que não tinha comorbidade, morreu, ela ainda estava em casa. Ele chegou a ser levado ao médico em Corumbá, mas foi transferido para Campo Grande, onde não resistiu e perdeu a luta para o vírus.

Leonardo Cabral/Diário Corumbaense

Ilda (no centro), que também teve covid, e a bisneta de dona Cecília: o alívio da volta para casa

Sem poder se despedir, dona Cecília permaneceu em casa e depois de apresentar sintomas da covid-19, foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Lá ficou por três dias até que os exames apontaram que estava infectada pelo vírus e foi transferida para o CTI Covid, da Santa Casa, onde permaneceu internada por duas semanas. A idosa teve 50% dos pulmões tomados pela doença.

Além da devoção, dona Cecília disse que ao saber que estava com o novo coronavírus, foi assustador, assim, como para toda a família, mas que resolveu enfrentar a situação de forma diferente.

“Resolvi enfrentar com uma ‘pitada’ de entusiasmo. Não deixei a alegria de lado. Até mesmo pelo fato que desde que entrei no hospital, fui bem tratada, bem medicada. Carinho ali, não me faltava, estava longe da família e isso me ajudava a querer vencer cada dia que eu passava no hospital”, lembrou Cecília agradecendo a equipe medica e de enfermeiros, “dedicados e atenciosos. Não tive o que reclamar”, completou.

“Rainha dos nossos corações”

Em nenhum momento, dona Cecília deixou de pensar no filho e pedia a Nossa Senhora, para voltar para casa. “Eu estava lá, mas ao mesmo tempo, pensando em meu filho. Dos dez, agora só estão nove aqui comigo”, lamentou a idosa, que  teve cinco homens e cinco mulheres durante o casamento com o “seu”  Francisco Pereira Leite, falecido há mais de 20 anos.

Arquivo familiar

Dona Cecília, quando deixou o hospital: "rainha dos corações"

Depois de receber a notícia da alta médica, dona Cecília saiu aplaudida pelos corredores do hospital, levando o carinho de todos e, acima de tudo, sendo aclamada a “Rainha dos corações” da equipe que cuidou dela. “Fui aclamada Rainha. Fiquei muito feliz. Mas eles é que merecem as homenagens por tanta dedicação e amor com todos. Eu só quero estar ao lado dos meus agora”, disse.

Dias de muita aflição para a família

Enquanto no hospital tudo caminhava para a recuperação e alta médica, em casa, filhos, netos, bisnetos, genros e noras, se agarravam à esperança de ter a matriarca da família Leite de volta. A neta, Thaís Leite Bezerra, conta que cada dia era um sofrimento. Sem notícias, a aflição aumentava, mas sem perder a esperança de que a avó voltaria.

“Estávamos apreensivos, pois já tínhamos perdido o meu tio e como tanta coisa passa pela cabeça, a cada informação era desespero em primeiro momento e alívio por saber que ela estava respondendo ao tratamento. Ela ficou aqui em casa com tosse e isso foi se agravando e depois a tomografia apontou 50% dos pulmões tomados. Estávamos vivendo um pesadelo mesmo”, lembrou Thaís a este Diário.

Após as duas semanas internada, o telefone tocou e Thaís ficou apreensiva. “Atendi com medo, mas depois de tantas orações, recebemos a notícia de que minha avó tinha tido alta médica. Foi uma sensação de alegria e emoção. Não esperamos nem mais um segundo e fomos direto pegá-la, e para nossa surpresa, ela foi homenageada pela alegria e a vontade de viver que teve. Isso nos deixou muito satisfeitos. Foi só agradecimento pela vida dela”, mencionou a neta que também teve a mãe, Ilda Leite Bezerra, que mora com a avó, infectada pela doença.

Ilda, emocionada ao lado da mãe, apenas agradeceu. “Eu só tenho a agradecer pela vida da minha mãe. Vivemos com sentimento de alegria por ela e tristeza pela partida do meu irmão. Quando soube que também estava com o vírus, fiquei assustada e me isolei aqui no apartamento. Como a minha mãe estava internada, fiquei aqui assintomática, seguindo todas as orientações e hoje, estamos juntas”, disse feliz.

Esperando os 100 anos

Sem perder o sorriso no rosto, dona Cecília reforçou que  não esperava passar por todos esses percalços e que jamais imaginou chegar aos 100 anos. “Quero celebrar essa data especial, claro que com todos os cuidados. Afinal, não é todos os dias que chegamos aos 100 anos de vida. Isso é uma dádiva, ainda mais pelo que enfrentei nesses últimos dias”, falou com o coração apertado pensando no filho que se foi.

Cecília Arruda Leite nasceu em 1° de fevereiro de 1921, é natural de Corumbá, teve 10 filhos. São 27 netos, 35 bisnetos e 12 tataranetos. 

Comentários:

Rozeli Bueno: Que história linda... Parabéns continue abençoando sua vida sempre ????

Cláudio de Moraes : História com um misto de sentimentos. Se por um lado a Dona Cecília perdeu um pedaço dela, por outro ela se recuperou e voltou inteira para suas outras partes,sua família. A partida de um filho é um golpe muito duro para uma mãe e um pai, porém a família ainda assim tem uma grande alegria com a sua volta Dona Cecília. Sabemos que ninguém preenche o vazio deixado por alguém, mas a essa família unida eu desejo dias muito melhores. Glória a Deus primeiramente e a Nossa Senhora por lhe conceder essa benção Dona Cecília.

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