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Professora Constança: uma mulher que se dedicou a alfabetizar crianças

Foi a ela que diversos pais confiaram a alfabetização de seus filhos

Gabriela Winkler em 08 de Março de 2010

Gabriela Winkler

Professora Constança se lembra dos tempos de ensino com nostalgia

Arquivo Pessoal

Professora abriu primeira escola em 1957

Foi a ela que diversos pais confiaram a alfabetização de seus filhos. Constança  Proença Gomes da Silva teve a responsabilidade de mostrar aos pequenos as primeiras letras e ensiná-los algo que dificilmente será esquecido: a leitura. Um ofício que requer paciência e muito amor, mas com muita sabedoria e competência foi cumprido por esta mulher que correu atrás de sua vocação de ensinar crianças.

A vontade de ser professora veio desde cedo. Quando criança gostava de brincar de escolinha e o dom foi ficando cada dia mais forte, apesar de a família não gostar da ideia. “Estudava na escola Genic, das Irmãs. Depois fiz o colegial no Rio de Janeiro em um colégio interno. Na hora de escolher o vestibular, vi que não era isso que queria. Retornei para Corumbá em 1953 e comecei a lecionar com dona Nathércia na 2ª série e gostei muito, mas não queria fazer faculdade. Voltamos para o Rio de Janeiro e comecei a fazer um curso chamado 'Educadores da Infância' voltado só para a pré-escola. O que se encaixou muito bem, pois era isso que eu queria. Ensinar crianças”, revelou a professora.

Um pouco receosa Constancinha, como é chamada por alunos e amigos, abriu a primeira escola em 1957. “Preparei os móveis baixinhos, arrumei os armários, tudo conforme aprendi no curso. A escola chamava-se Pequenote. Tive muitos alunos, o sucesso foi grande, mas digo que foi através das outras pessoas, pois confiaram em mim a educação de seus filhos”, lembrou. Com uniforme que tinha laços nas cabeças, vestidos com bordados para as meninas e sapatos com meia branca, short e camisa para os meninos, os pequenos brincavam enquanto aprendiam o método ensinado na escola carioca e foi seriamente  aplicado. Como parte do processo de aprendizagem, os pequenos encenavam peças teatrais duas vezes ao ano. Os textos eram montados por Constança. “Eu imaginava uma história e começavam os ensaios. Uma festa. Eles vestiam os figurinos e na hora mesmo nunca saía da mesma forma que ensaiávamos, mas era uma gracinha”, lembrou.

O “Pequenote” funcionou até 1965, quando a professora se casou. A segunda escola foi aberta em 1979. Durante os 14 anos que ficou afastada das salas de aula, se dedicou a educação dos dois filhos. O “Reino Encantado”, a nova instituição de ensino a qual era sócia-proprietária contou com uma surpresa. “Os filhos dos meus alunos do Pequenote começaram a estudar no Reino Encantado. Achei bonito, pois se eles acharam tão importante o meu trabalho, entregaram os filhos para ter a mesma educação. Tive novamente um grande sucesso, agora em uma escola bem maior”, disse ao Diário.

Muitos alunos se formaram em curso superior. São médicos, psicólogos, engenheiros, advogados, jornalistas e outras diversas formações. “O mérito também é meu, brinco com as mães quando pergunto sobre a formação dos filhos, pois eu os ensinei as primeiras linhas.” Muitos a convidam para a formatura de faculdade.

O Reino Encantado alfabetizou gerações até início da década de 90. “Em 1993, meu marido adoeceu e tive que me afastar, não tinha como conciliar a escola com a vida em casa. Quando se tem uma escola tem que se dedicar, pois a criança pequena não pode  ficar sozinha esperando os pais. Foi quando vendi a  minha parte”, contou Constancinha. Para ela, a alfabetização é uma das fases mais importantes de uma criança. “É a hora que elas aprendem a socializar, a dividir um brinquedo, aprendem regras e a ter limites, não é somente ensinar letras”, afirmou.

A professora guarda com carinho as fotos dos alunos. Com nostalgia e muitas lembranças,  ela comentou momentos que passava com os pequenos alunos. Durante os desfiles cívicos militares, as crianças de sua escola desfilavam na avenida General Rondon com uma bandinha. “A banda do Exército começava a tocar bem baixinho para que todos pudessem ouvir a nossa bandinha.” “Era uma alegria muito grande quando chegava o fim do ano e eles já estavam lendo, sabendo escrever. Eles eram meus amigos, pois quando choravam era o nosso colo que eles tinham."