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Mulher integra quadro do Corpo de Bombeiros de Corumbá

Pela primeira vez desde a criação o 3º Grupamento de Corpo de Bombeiros, há mais de 30 anos, uma mulher integra o efetivo da corporação. Simone Santos de Oliveira, 26, é soldado bombeiro

Gabriela Winkler em 08 de Março de 2010

Gabriela Winkler

Simone prefere o trabalho operacional ao administrativo

Pela primeira vez desde a criação o 3º Grupamento de Corpo de Bombeiros, há mais de 30 anos, uma mulher integra o efetivo da corporação. Simone Santos de Oliveira, 26, é soldado bombeiro e não gosta de serviços administrativos. A futura médica trabalha no setor de resgate e salvamento. A missão de salvar vidas é o que motiva seu trabalho.

Simone fez o Curso de Formação de Soldados em 2008. Ela trabalhava em um quartel de Campo Grande antes de pedir transferência para Corumbá. “Minha vinda pra cá aconteceu devido a uma necessidade particular, pois comecei a fazer faculdade de Medicina na Bolívia”, comentou. A principal dificuldade em trabalhar em um local composto exclusivamente de homens foi a questão de alojamento. “Muitos quartéis dos Bombeiros em Mato Grosso do Sul já têm mulheres na corporação. Alguns ainda não têm porque não possuem alojamento específico, então fica complicado. Quando mudei pra cá não tinha alojamento pra mim, então tiveram que adaptar. Foi uma coisa imediata, porque a minha vinda pra Corumbá foi muito rápida”, disse a soldado bombeiro ao Diário.

E não foi só o alojamento o problema. “Em Campo Grande a aceitação foi mais fácil. Quando cheguei aqui, as pessoas estranharam muito, até mesmo nas ruas. Dentro da corporação houve um pouco de resistência, mas é aceitável, porque quando chega uma mulher eles precisam mudar certas atitudes”, salientou. A forma como os colegas de trabalho viam Simone foi mudando quando ela começou a mostrar que apesar de ser mulher não tem problemas com o serviço pesado. “Depois que me conheceram melhor viram que nem toda mulher não consegue fazer o que eles fazem. No meu caso gosto do serviço operacional, dirijo as viaturas e opero as máquinas. Não tenho problema em quebrar a unha ou digo que não sei fazer. Acabei somando com o pessoal. Agora eles não me veem como uma mulher e sim militar”, afirmou.

“Durante o curso de formação todo mundo é tratado da mesma maneira, não tem distinção de sexo. O que o homem faz, a mulher também deve fazer. Quando eu vim pra cá, vim com este intuito. Se fomos formados igualmente, então o tratamento tem que ser assim também”, complementou. A escolha de trabalhar como bombeiro foi para exercer uma profissão próxima daquela tão sonhada. “Eu nunca tive o sonho de ser bombeiro, a minha vontade sempre foi ser médica. Por falta de condições financeiras e outros motivos nunca tinha conseguido começar o curso. Quando surgiu o concurso dos bombeiros eu tive a ideia de fazer, pois estaria ajudando a salvar vidas da mesma maneira. Quando entrei na corporação comecei a pegar gosto. Eu não me vejo fazendo outra coisa agora”, disse Simone, salientando também que é preciso ter vocação para exercer a função de salvar vidas.

Por gostar de trabalhar com o salvamento, Simone já atendeu diversos casos. Entre os que tiveram maior destaque, o primeiro dia como soldado bombeiro. “Quando chegamos no local não tinha mais nada para ser feito, pois o homem tinha levado três tiros na cabeça. Deu aquela sensação de ‘será que eu vou conseguir?’. Depois fui me acostumando com o trabalho”, comentou a futura médica.  Outro caso foi o de um senhor que estava desmaiado e a equipe na qual ela trabalhava, na Capital do Estado, conseguiu reanimá-lo. “Ele chegou com vida ao hospital, infelizmente faleceu 3 dias depois”, lamentou.

“Em Corumbá, uma vez fomos chamados para atender um acidente de trânsito na BR-262. No meio do caminho tivemos que retornar para atender um homem que estava com um corte no pescoço. Na hora não tinha muito o que fazer, fizemos o curativo e o colocamos na viatura rumo ao pronto-socorro. Ele tinha perdido muito sangue e o corte era profundo. A boa notícia veio quando soubemos que ele sobreviveu.”  A soldado tem como desejo profissional participar de um parto. “Eu nunca tive a oportunidade de fazer um. Uma vez fui chamada para atender uma mãe que estava em trabalho de parto, mas quando chegamos o bebê já tinha nascido. Mesmo assim já foi uma grande emoção.”

Apesar de fazer faculdade de Medicina, Simone deseja permanecer na corporação após formada. A intenção é continuar ajudando a população nos serviços realizados pelos bombeiros. Na especialidade deseja se formar em Traumatologia. Para conquistar o diploma a rotina ficou apertada. O período de aulas é das 07h30 até  14h de segunda a sábado. Para conciliar estudo e trabalho ela dá plantão em dias alternados.

“Saio da faculdade e às 16h entro de serviço, fico até às 06h da manhã do outro dia e já vou direto para a aula na Bolívia. Quando estou no quartel o dia que não acontece tanta ocorrência eu durmo um pouco melhor. Nos dias de  folga, chego em casa após a aula e durmo até às 18h e estudo até às 22h”. Apesar da correria,  ela já se acostumou com a rotina. “É cansativo, mas fazendo isso quatro ou cinco meses direto. Você acaba acostumando. Ainda bem que tem uma trégua da faculdade durante as férias.” Determinada, ela acredita que este esforço será recompensado com a conclusão do curso de Medicina.