G1 em 22 de Outubro de 2019
Ueslei Marcelino/Reuters
Membro das forças de segurança é visto em meio à fumaça provocada por gás lacrimogêneo em protesto de apoiadores de Carlos Mesa em La Paz
Houve relatos de confrontos em Sucre, Oruro, Cochabamba e La Paz, entre outras cidades. Uma contagem preliminar, que tinha sido interrompida na noite de domingo (21), foi retomada na segunda e chegou a apontar uma vantagem suficiente para garantir a vitória de Morales no primeiro turno, mas depois a vantagem diminuiu. Até as 22h45 (horário de Brasília) o resultado ainda era incerto, mas os apoiadores de Carlos Mesa foram às ruas para protestar.
Às 22h45, com 95,63% dos votos apurados na contagem preliminar, Evo Morales tinha 46,4%, e Carlos Mesa aparecia com 37,07%.
Já no sistema de contagem voto a voto, mais lento, no mesmo horário haviam sido apurados 89,40% dos votos, com Mesa liderando, com 42,29%, enquanto Morales tem 42,04%.
Na Bolívia, um candidato pode ser declarado vencedor no primeiro turno se tiver 50% dos votos mais um, ou se tiver 40%, com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado. O candidato opositor Carlos Mesa já declarou que não reconhecerá os resultados de uma apuração fraudada. "Não vamos reconhecer estes resultados, que são parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa e que está colocando a sociedade boliviana em uma situação de tensão desnecessária", declarou Mesa aos meios de comunicação de Santa Cruz, no leste do país. O tribunal eleitoral "fraudou a apuração e deu 10 pontos de diferença . Agora imagino que vão aumentar isto, consumando a fraude, consumando um roubo eleitoral inaceitável", denunciou Mesa.
A apuração continua e as autoridades governamentais fizeram um apelo para que se aguarde o resultado final.
Dois sistemas de contagem
O clima nas ruas se deteriorou depois que o sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares, batizado de Trep, teve o serviço suspenso no domingo no momento em que a contagem individual de votos começou a dar resultados muito distintos das atas de mesa da eleição. O ministro das Comunicações boliviano, Manuel Canelas, afirmou que o órgão eleitoral errou ao não deixar claro que havia duas contagens simultâneas.
“Uma vez que percebeu que a contagem dos votos estava dando outro resultado, resolveu interromper a das atas, para não causar confusão, e não explicou isso direito. Mas foi um erro, porque está dando espaço à oposição para dizer que houve uma fraude", reconheceu. A incerteza provocou temores entre observadores e diplomatas sobre possíveis manipulações dos votos para evitar um segundo turno e provocou inquietação sobre o que poderia ocorrer no país. A Organização dos Estados Americanos (OEA), que enviou um grupo de observadores, manifestou "profunda preocupação e surpresa" com o que chamou de "mudança drástica e difícil de justificar na tendência dos resultados preliminares conhecidos após o fechamento das urnas".
O chefe da missão da OEA, Manuel Gonzáles, afirmou que a alteração no resultado é inexplicável, modifica o destino das eleições e gera perda de confiança no processo eleitoral. “Pedimos à autoridade eleitoral para que defenda decididamente a vontade dos cidadãos bolivianos, com respeito à Constituição, de forma ágil e transparente.” Brasil, Argentina e Estados Unidos também expressaram preocupação com a interrupção da divulgação oficial de resultados.
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