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Vendedor enfrenta dependência, retoma vida e encara tratamento “de cabeça erguida”

Da Redação em 01 de Julho de 2016

“Eles insistiram muito comigo, acreditaram em mim. Talvez, tenham pensado em desistir. Mas não desistiram. Foi muito importante a presença deles lá e na minha vida”. Com essa frase, o vendedor campo-grandense Flávio Soares de Araújo, 35 anos, definiu o momento em que reconheceu que precisava de ajuda para salvar a própria vida. Flávio é dependente químico e passou praticamente uma semana longe dos familiares – que moram na Capital do Estado – preso a essa dependência. Ao afirmar: “eles acreditaram em mim”, o rapaz se referiu ao assistente social Sebastião Henrique Ramos da Silva Júnior e à psicóloga Deniz Alves Tibúrcio de Moraes. Os dois foram ao encontro de Flávio, embaixo do viaduto da rua 13 de Junho, para resgatá-lo daquele momento obscuro em que vivia o auge de sua dependência química.

Fotos: Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Flávio disse que ajuda do assistente social e da psicóloga foi fundamental para conseguir forças para retomar a vida

“Estava numa situação difícil, sem esperança nenhuma, com autoestima baixa. Você não tem iniciativa, força nenhuma para sair da onde você está. A não ser que tenha ajuda de alguém. Sozinho ninguém consegue. Sozinho eu não estava conseguindo, até tentava, mas não estava conseguindo, até que chegaram esses dois anjos, que são o Júnior e a Deniz. Com muita paciência foram lá, me encontraram. Resisti um pouco, mas eu queria . Eles vieram, conversaram comigo. Escutei, mas não estava preparado para ir naquele momento. Estava com vergonha, numa situação em que não estava legal, combinei com eles três horas da tarde de ontem . Eles perguntaram se eu estaria lá mesmo, e às três horas da tarde lá estavam eles. Enrolei um pouco, estava naquela luta, é uma luta isso. Mas, eles não desistiram e hoje estou aqui. Me levaram para a Casa de Passagem, onde eu dormi, fui muito bem recebido pelo senhor Iber, um homem muito sábio e muito inteligente, que me passou uma mensagem muito boa. No CRAS 3, na Cervejaria, me acolheram muito bem, participei do aniversário de uma funcionária, a Jaqueline.  Foi muito importante a acolhida lá. Hoje em dia a sociedade repudia o dependente químico porque tem pessoas que assustam, impõem medo, na verdade esses são os zumbis de hoje”, disse Flávio ao Diário Corumbaense. Júnior e Deniz são funcionários da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (SMASC) e trabalham no CRAS III do bairro Cervejaria, próximo de onde o vendedor campo-grandense estava vivendo em condições de total vulnerabilidade.

Pai de dois filhos – um de 11 e outro de 6 anos – e com pouco tempo de casado, Flávio volta para Campo Grande na noite desta sexta-feira, 1º de julho, para recomeçar a vida ao lado dos familiares. “Eu só precisava de uma oportunidade de sair de lá . Sou determinado quando quero alguma coisa. O que me falta é persistir, fazer a manutenção e hoje, através deles , vou dar continuidade ao meu tratamento no CAPS em Campo Grande, pois tive o contato com o CAPS ad aqui de Corumbá. Vou dar continuidade sim, de cabeça erguida, não posso negar, esconder que é uma doença. Em constante tratamento. Minha família está feliz, eles sabem a pessoa que eu sou. Tive várias oportunidades e não fui para o crime porque tive uma família que me criou muito bem. Iniciei duas faculdades, mas não terminei, não continuei”, contou. A passagem para a Capital do Estado foi liberada pela Assistência Social do Município.

Para Flávio, Júnior e Deniz foram "anjos" que surgiram na vida dele para resgatá-lo do momento difícil que enfrentava

Flávio de Araújo explicou que passava por um período complicado na vida. Essa fragilidade foi o que fez a dependência química agir. “Vim a trabalho para Corumbá, por uma empresa, é a segunda vez que venho a Corumbá. Estava com problemas pessoais. Fui à festa de São João no Porto, nunca tinha visto o banho de São João, até gravei. Comi comidas típicas e também bebi, de repente me vi sozinho naquela festa. Não estava bem psicologicamente. Fui embora para o hotel e vi um rapaz usando droga na minha frente, ele achou que estava de carro e pediu uma moeda por guardar carro e eu vi droga na mão dele. Foi aonde tudo começou”,  contou.

Longe de casa, há mais de uma semana, o vendedor afirmou a este Diário que tem na cabeça o pensamento único de dar sequência ao tratamento para mostrar ao assistente social e à psicóloga de Corumbá que valeu a pena terem se preocupado em trazer-lhe de volta ao convívio social.

“Em princípio quero dar ênfase ao meu tratamento, dar continuidade porque se não seguir, não adianta. Futuramente quero desenvolver um projeto meu. Sou um cara bastante empreendedor. Valeu a pena me resgatarem, isso vai ficar marcado para o resto da minha vida, eu estava em outra cidade, em outro mundo, com pessoas que jamais imaginava me envolver. Hoje, só tenho a agradecer, estou bem e estou vivo. Lá eu poderia estar morto, estava acabando com minha saúde. Eles insistiram muito comigo, acreditaram em mim. Talvez tenham pensado em desistir, mas não desistiram. Foi muito importante a presença deles lá e na minha vida. Fizeram o impossível e em dois dias conseguiram fazer com que eu voltasse para Campo Grande. Vou voltar hoje 23 horas e amanhã cedo é família, abraçá-los e retomar a vida”, afirmou ao lembrar que enfrentou um “momento muito delicado, numa situação que eu nunca quis para mim. Situações que aconteceram por conta de um tipo de doença, que eu tenho, que a medicina diz que é uma doença que não tem cura, mas que tem tratamento, que é a dependência química. É uma doença que é progressiva, incurável e fatal, se não tratar, ela gradativamente leva a pessoa à morte devido ao uso e abuso de drogas”, concluiu.

Comentários:

Nadja chauvet: Quando li esta reportagem fiquei feliz pelo rapaz, mas emocionada com o trabalho da minha colega de profissao que nao conheco pessoalmente e o meu amigo de tantos anos terem feito um trabalho brilhante e tao difícil. Obrigada por termos essas pessoas na nossa cidade e com tanta competencia. Sucesso pra voces dois e reconhecimento meu para sempre. Parabenssssssssssssss

vasconeves: É uma vida difícil muito ruim se a pessoa não tiver amor próprio fica difícil sair fé em Deus que ele é justo

maria moraes: A vida é feita de escolhas. Que bom que vc optou pela sobriedade. Vai na fé e n?o na sorte