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Nicotina pode causar dependência como o crack, alerta psicólogo

Caline Galvão em 31 de Maio de 2016

Nesta terça-feira (31), diversas nações celebram o Dia Mundial Sem Tabaco, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1987. No Brasil, as ações alusivas à data são realizadas pelos Estados e municípios e têm como objetivo alertar a população sobre os riscos relacionados ao tabagismo. De acordo com o Ministério da Saúde, 10,8% da população brasileira é fumante, no entanto, em dez anos houve diminuição de 30,7% no número de tabagistas. Em 2006, 15,6% dos brasileiros fumavam. O tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Cigarro é a principal causa de morte evitável do mundo

Em Corumbá, ações de prevenção ao fumo estão sendo realizadas desde a semana passada, por causa do Dia Mundial Sem Tabaco. O trabalho é coordenado pelo psicólogo Gleidson Fontes da Rosa, responsável pelo Programa de Prevenção Primária de Câncer/Tabagismo no município. Por meio de palestras em postos de saúde, ele explica sobre os malefícios que o vício causa no organismo e como as pessoas podem se livrar do cigarro.

De acordo com Gleidson, o tabaco pode ser utilizado de forma aspirada, inalada, cigarro industrializado, cigarro de palha, fumo, cachimbo, charuto, rapé e narguilé. “A partir do momento em que a pessoa coloca o cigarro na boca, ela está inalando mais de 4.700 substâncias, dentre elas acetona, fósforo P4 P6 que é usado em veneno para ratos, naftalina, alcatrão, que na realidade é um composto de mais de duas mil substâncias, entre elas o piche e uma substância altamente radioativa que causa câncer”, afirmou o psicólogo ao Diário Corumbaense.

Essas 4.700 substâncias, catalogadas em um só cigarro, estão relacionadas a 80 tipos de câncer. Entre os principais malefícios que o cigarro pode provocar estão os diversos tipos de câncer (laringe, faringe, esôfago, pulmão, pâncreas, bexiga, de colo de útero, de próstata, etc), doenças cardíacas, respiratórias e acidente vascular cerebral (AVC). “Eu costumo dizer que se pegar uma pessoa que possa me trazer um benefício que o cigarro possa oferecer, a não ser para a grande indústria tabagista, eu posso começar a divulgar isso, mas na realidade só traz doenças e diminui a qualidade de vida. Também tem a questão financeira porque hoje em dia, uma carteira de cigarro custa em média seis reais, uma pessoa que fuma um maço por dia, no final do mês está gastando 180 reais”, lembrou o psicólogo.

Ele afirmou que o fumante passivo, que é aquele que convive com quem fuma, está tão vulnerável a doenças provocadas pelo vício quanto o fumante, sendo essa condição a segunda principal causa de morte que pode ser evitada. “A pessoa que fuma conta com o filtro do cigarro que altera um pouco das substâncias na sua fase gasosa, sendo o filtro o primeiro lugar onde ficam as substâncias, depois o pulmão da pessoa. Já a pessoa que convive com o fumante acaba inalando aquela substância da fumaça que sai da ponta do cigarro e não passa pelo filtro, então o filtro vai ser o próprio pulmão dela”, explicou o Gleidson Fontes.

Município disponibiliza tratamento para quem pretende parar de fumar

O Ministério da Saúde tem parceria com o Instituto Nacional do Câncer José Gomes de Alencar que disponibiliza em todo o país o Programa de Prevenção Primária de Câncer/Tabagismo, do qual o psicólogo Gleidson Fontes da Rosa é o responsável em Corumbá, atuando na Secretaria Municipal de Saúde. Esse programa possui atividades previstas ao longo do ano, sendo a primeira delas o tratamento do fumante que deseja sair do vício. Há atividade para conscientização da população através de ações educativas e há o subprograma Saber Saúde e prevenção dos fatores de risco de câncer nas escolas.

Tratamento inclui acompanhamento psicológico, nutricional, físico e com medicação, explica psicólogo

Aos 23 anos, Pedro Cleve fuma uma carteira de cigarro por dia. Ele começou no vício há três anos, quando resolveu, por conta própria, experimentar o primeiro cigarro em uma balada. Segundo ele, já tentou parar de fumar uma vez, mas sem ajuda médica e acabou não tendo sucesso. O objetivo era poder voltar a dançar, já que com o vício a respiração é prejudicada e, por isso, para quem dança o melhor é não fumar. Ele contou que nunca se preocupou com possíveis doenças que pode contrair com o cigarro. “Eu penso que essas doenças por causa do cigarro só começam daqui a alguns anos, quando eu ficar mais velho”, acredita o rapaz.

O psicólogo confirmou que não é tão fácil deixar o cigarro. “No senso comum, a gente se depara com pessoas que falam que outras deixaram de fumar sem precisar de nada, mas a gente dá muito pouca atenção à questão da nicotina. O grau de dependência que ela causa é às vezes comparado ao de drogas mais pesadas como cocaína, crack, heroína, maconha, tive vários pacientes desses anos do programa que já tinham largado álcool e outras drogas, mas não havia largado o cigarro por conta da nicotina. Na maioria das vezes, não é um processo fácil”, advertiu.

Estatisticamente, em nível mundial, de dez pessoas que tentam parar de fumar, três conseguem, mas pelo resto da vida apenas uma, ou seja, apenas 10%. O tratamento, disponibilizado no município, conta com ajuda psicológica com abordagem terapêutica e comportamental. “Nós temos três tipos de dependência nos fumantes: a física, por causa da nicotina; as associações de comportamento que a pessoa faz e a dependência psicológica, sendo essa muitas vezes complicada”, explicou Gleidson.

O tratamento tem duração de um ano e, se necessário, o paciente faz uso de medicamento para diminuir a sensação de abstinência. Há também acompanhamento com nutricionista e encaminhamento para atividade física. Com as capacitações que vão ser realizadas pelo município, até o final do ano todas as Unidades de Saúde estarão oferecendo o tratamento. Até ano passado, apenas a Unidade de Saúde da Ladeira oferecia o tratamento.

O barbeiro Lucas Soares dos Santos, de 35 anos, fuma há cerca de 16 anos e já tentou parar com o vício uma vez, mas acabou não conseguindo. Ele iniciou tratamento no município e passou de dois a três meses sem colocar um cigarro na boca. “Tive uma recaída. Hoje não fumo com aquela vontade que eu tinha antigamente, eu fumo bem pouco, mas ainda sinto falta do cigarro”, confessou Lucas que afirmou fumar aproximadamente seis cigarros por dia.

Por causa da profissão dele, Lucas não fuma durante o dia, deixando o hábito para logo cedo da manhã e à noite. Por ser barbeiro e por ter filhos em casa, não quer que o ambiente do trabalho fique desagradável e não quer ser mau exemplo aos filhos, por isso, quer deixar o cigarro. Ele admitiu também que tem medo de contrair doenças provocadas pelo cigarro. “Eu tenho casos na família. Perdi meu avô por causa do cigarro. Ele teve insuficiência respiratória, câncer no pulmão, meu pai também, eu tenho um tio que tem muita dificuldade de falar e tosse muito por causa do cigarro. Eu me preocupo”, disse Lucas a este Diário.

Ele lembrou que era atleta, jogava basquete, mas depois que passou a fumar, sua respiração ficou ruim. Hoje, ele faz corrida, mas não tem o pique de antigamente e o ar falta com frequência. O barbeiro retornou esta semana à Unidade de Saúde do município para tentar fazer novamente o tratamento e deixar de uma vez por todas o cigarro.