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Lula interferiu na indicação de Costa para diretoria da Petrobras, diz ex-deputado

G1/Brasília em 27 de Maio de 2016

Anexos da pré-delação do ex-deputado e ex-presidente do Partido Progressista (PP) Pedro Corrêa, firmada com o Ministério Público Federal (MPF), indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento sobre o esquema de corrupção desvendado na Petrobras e que interferiu diretamente na nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento por indicação do PP.

A delação de Pedro Corrêa ainda não foi homologada pela Justiça. Em um dos anexos, o ex-deputado relata uma reunião entre Lula e o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra para tratar da nomeação de Costa no setor. Paulo Roberto Costa é considerado pela força-tarefa da Lava Jato como peça-chave para as investigações. O esquema de corrupção na Petrobras envolveu contratos que somam R$ 89 bilhões. Costa foi um dos primeiros a fechar o acordo de delação premiada.

O trecho começa com Lula cobrando Dutra sobre a demora para a nomeação de Costa para assumir o setor. "Oh, Dutra, nós não nos comprometemos com o PP, que indicou o Dr. Paulo Roberto, já há algum tempo, para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Porque até agora ele não foi nomeado?".

Dutra, segundo Corrêa, respondeu que a mudança era um assunto complicado dentro da estatal. "Porque esta mudança de diretor é um assunto complicado dentro da Petrobras. Estão havendo resistências além de a competência não ser só minha para nomeá-lo".

Em nota, o Instituto Lula afirmou que "há mais de dois anos o ex-presidente Lula tem suas contas, impostos, viagens e conversas devassadas e não se encontrou nenhum fato que o associe aos desvios da Petrobras, porque Lula sempre agiu dentro da lei".

"O ex-presidente não participou, não foi conivente e muito menos organizou qualquer tipo de ação ilegal, e a os investigadores da Lava Jato sabem disso. Não se pode tomar como verdade a palavra de réus confessos, que negociam acusações sem provas em troca de sair da cadeia", diz a nota. O Instituto Lula ainda afirmou que "os advogados do ex-presidente Lula vão requerer acesso ao suposto depoimento do réu Pedro Correia, para tomar as medidas cabíveis".

Segundo reportagem da revista "Veja", publicada nesta sexta-feira (27), nesta pré-delação, o ex-deputado Pedro Corrêa contou que, em determinado momento, parlamentares do PP se rebelaram contra o crescimento da participação do PMDB nos contratos firmados na Diretoria de Abastecimento da Petrobras e procuraram o ex-presidente Lula.

Aos procuradores, os deputados chamaram este crescimento de "invasão". Segundo a "Veja", ainda conforme o relato de Corrêa, Lula teria dito que eles "estavam com as burras cheias de dinheiro" e que a diretoria era "muito grande" e tinha de "atender os outros aliados, pois o orçamento" era "muito grande" e a diretoria era "capaz de atender todo mundo".

De acordo com a revista, Corrêa acrescentou aos procuradores que Lula teria garantido que "a maior parte das comissões seria do PP, dono da indicação do Paulinho".

Com a ordem de Lula para que os partidos se entendessem, Corrêa disse ter se reunido com membros do PMDB para tratar da partilha. Um dos primeiros procurados "para buscar o melhor entendimento na arrecadação" teria sido o senador Renan Calheiros, acompanhado do deputado Aníbal Gomes. Ele fez a mesma coisa com o deputado Eduardo Cunha e o senador Romero Jucá - todos do PMDB. De acordo com a revista, acertados os termos com o PMDB, os negócios começaram a fluir a partir de 2006.

A "Veja" afirma que Pedro Corrêa também relatou que o PMDB cobrou para manter o apoio à permanência de Paulo Roberto Costa e de Nestor Cerveró - que na época também era diretor da Petrobras. Foi cobrada uma propina de US$ 18 milhões, que deveriam ser pagos a tempo de financiar a campanha eleitoral daquele ano - 2006. Receberam US$ 6 milhões.

De acordo com a revista, Corrêa disse que o atual ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, ficava com parte de tudo o que era arrecadado pelo esquema do MDB. Eduardo Cunha também teria recebido parte dos US$ 6 milhões.

Corrêa ainda afirmou que o ex-ministro e atual senador Edison Lobão tinha participação nos contratos com as grandes empreiteiras. Ainda de acordo com a revista, Corrêa também acrescentou que o Laboratório EMS pagava propina para os ex-ministros José Dirceu e Alexandre Padilha. Além disse, afirmou que vantagens também eram cobradas das empresas que se habilitavam a participar do programa "Minha Casa Minha Vida" e que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria negociado pagamentos para seu partido em uma obra de Furnas.

Dilma Rousseff

Em outro anexo do documento de pré-delação, o ex-deputado cita que a presidente afastada Dilma Rousseff se comprometeu a ajudar na nomeação de Paulo Roberto Costa para o cargo de diretor de Abastecimento da Petrobras.

A promessa teria sido feita em 2003, quando Dilma era ministra de Minas e Energia, em meio a uma reunião na casa de João Claudio Genu marcada para discutir reforma no setor elétrico. Dilma foi à reunião, segundo Pedro Corrêa, para conversar com um grupo de deputados do PP para verificar como o partido teria a indicação da relatoria da reforma.

Conforme o relato de Corrêa, o ex-deputado José Janene, morto em 2010, era presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara e o PP tinha interesse em assumir a relatoria. "O PP aproveitaria a oportunidade da relatoria para levantar valores de propina em troca de proposições específicas na Reforma para atender aos interesses dos empresários do setor para o pagamento de propina", diz trecho do anexo.

No anexo seguinte, a narrativa do ex-deputado traz fatos de 2010. A presidente afastada estava em uma reunião para prestigiar Paulo Roberto Costa na casa do deputado Pizzolati.

Corrêa afirma que Dilma Rousseff, que à época era candidata à Presidência da República, se comprometeu a manter Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento e a manter o Ministério das Cidades com o PP. Ainda de acordo com o ex-deputado, nesta mesma reunião, Dilma aproveitou para pedir apoio financeiro para a campanha.

Delcídio Amaral

A indicação de Delcídio do Amaral para a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) partiu, de acordo com o ex-deputado Pedro Corrêa, de Geddel Vieira Lima – atual ministro da Secretaria de Governo. Corrêa teria presenciado uma conversa em viva-voz entre Gedel e o ex-presidente FHC.

Trecho da conversa disponível na pré-delação

FHC: GEDDEL, eu preciso de um novo nome, um nome mais técnico para a Diretoria de Gás e Energia.
Geddel: Presidente, o Delcídio foi Diretor da ELETROSUL, da ELETROBRÁS, Secretário Executivo de Minas e Energia e Ministro de Minas e Energia. Ninguém é mais técnico do que o Delcídio para esta função.
FHC: Mas eu gostaria de mais um nome.
Geddel: Então o senhor escolha um REISCHUL (genro de FHC e Presidente da BR Distribuidora) da vida, que nós não temos outro nome. Só temos o de Delcídio.
FHC: (após alguns segundos): Está bem, até logo Gedel.

Corrêa afirmou que após Delcídio assumir o cargo, o ex-deputado José Janene ficou encarregado de receber a parte do PP da propina, que era repassada por deputados que haviam saído do PP e ido para PMDB.

“Delcídio cobrava a propina junto às empresas que tinham negócios na Diretoria, repassava uma parte ao PMDB que, através dos quatro deputados que tinham ido PP para o PMDB, repassava um pedaço menor ao deputado Janene. O valor entrava no caixa dois do PP para pagar as despesas e repassar aos parlamentares”, diz trecho do anexo.

No anexo, o ex-deputado contou que houve resistência em relação ao nome de Delcídio. De acordo com Corrêa, o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra recebia R$ 1 milhão de propina por mês do ex-diretor Rogério Manso.

Ainda de acordo com Corrêa, Delcídio do Amaral indicou Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional da Petrobras no primeiro governo Lula. O ex-deputado afirma ainda que houve um entendimento entre o ex-ministro José Dirceu e o PMDB de “que a Diretoria Internacional seria do partido”.

Coube ao deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), segundo Corrêa, as tratativas de negociação da propina junto a Cerveró. Ficou estabelecida, disse Corrêa, propina de U$S 700 mil por mês para o PMDB. Segundo Corrêa, ele soube destes fatos pelo ex-deputado José Janene. Tudo teria sido confirmado por Paulo Roberto Costa.

O ex-deputado afirma também ter conhecimento de que o esquema de corrupção na Petrobras desde os governos militares. Ele menciona o ex-diretor da estatal Shigeaki Ueki – considerado um dos brasileiros mais ricos do mundo.

Eduardo Cunha

Corrêa ainda afirmou que, com a saída de Nestor Cerveró do cargo, o nome de Jorge Zelada foi indicado com o aval do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB). O ex-deputado afirmou que Nestor Cerveró não estava cumprindo com o pagamento mensal de US$ 700 mil e por isso o PMDB deixou de apoiá-lo. O novo nome indicado pelo partido foi o de João Augusto Henriques, que não pode assumir o cargo em virtude de condenação no Tribunal de Contas da União (TCU).

Pedro Corrêa disse que foi procurado para interferir junto ao TCU para resolver a questão de Henriques, porém, o julgamento já havia ocorrido. Quem assumiu o cargo, então, foi Jorge Zelada, igualmente com a indicação do PMDB.

“Em função deste fato, João Henriques não pode ser nomeado e indicou para o seu lugar a pessoa de Jorge Zellada, com o aval do PMDB e de Eduardo Cunha, que manteve negócios com o PMDB, PT e com o Senador Delcídio Amaral”, diz trecho.

Sem dar maiores detalhes, a "Veja" afirmou que outros políticos também foram citados na delação de Corrêa: o ex-ministro Aldo Rebelo; o ex-ministro Alfredo Nascimento; o ex-ministro Aloizio Mercadante; o ministro do TCU Augusto Nardes; o deputado José Guimarães; o deputado Paulo Maluf; a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney e o senador Valdir Raupp.

Outro lado

Em nota, o Partido Progressista afirmou que não admite a prática de atos ilícitos e reafirma confiar no trabalho da Justiça.

Através de sua assessoria de imprensa, o senador Renan Calheiros negou as alegações e afirmou que continua à disposição da justiça para quaisquer novos esclarecimentos. Já o advogado de Romero Jucá, Roseana Sarney e Edison Lobão afirma que Pedro Corrêa faz uma "não delação". "Conta uma história de 40 anos, sem fatos e sem datas. Uma irresponsabilidade estas acusações terem qualquer validade. Recria diálogos de 10 anos atrás, inventa. É a desmoralização da delação", disse Antonio Carlos de Almeida Castro.

O ministro Henrique Eduardo Alves classifica a citação como absurda, mentirosa, irresponsável e cretina. Alves afirma que nunca tratou desses assuntos com Corrêa ou com quem quer que seja, em qualquer tempo ou lugar.

Corrupção 

A Operação Lava Jato investigava transações de milhões de reais. O salto para os bilhões veio com a prova da ligação entre Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Os dois foram descobertos por causa de um carro registrado no endereço de Alberto Youssef, em nome de Paulo Roberto Costa. A placa era o ano de nascimento do ex-diretor da Petrobras.

O carro custou R$ 250 mil e, segundo a investigação, foi o pagamento de uma propina pendente. O endereço na nota é de um apartamento de Youssef, na Vila Nova Conceição, em São Paulo, um dos metros quadrados mais caros do país.

Condenação de Pedro Corrêa

Em outubro do ano passado, Pedro Corrêa foi condenado pela Justiça Federal do Paraná pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro a 20 anos, 7 meses e dez dias de prisão. Em dezembro, o juiz Sérgio Moro corrigiu a sentença e reduziu em quatro meses a pena, que agora é de 20 anos, três meses e dez dias de reclusão.

A alteração foi feita após o Ministério Público Federal (MPF) alertar o juiz de que ele havia errado o cálculo da pena relativa aos crimes de lavagem de dinheiro cometidos por Pedro Corrêa.

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