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Saque de Ouro oferece a jovens carentes de Corumbá a prática do tênis

Caline Galvão em 12 de Maio de 2016

Adolescentes carentes estão mudando de vida através do projeto “Saque de Ouro”, que oferece a esses jovens a oportunidade de praticar o tênis. Idealizado pelo juiz titular da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal de Corumbá, Emerson Ricardo Fernandes, a iniciativa busca ocupar o tempo ocioso dos jovens com o esporte e alertá-los, através de palestras, sobre os perigos das ruas. O projeto existe desde o final de 2012 e conta com apoio do Ministério Público, Defensoria Pública e Conselho da Comunidade, além da colaboração da Associação dos Tenistas de Corumbá e de dois profissionais que ministram as aulas.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Aulas são ministradas uma vez por semana e nova seleção abrirá 40 vagas

“Para mim, o esporte é formador de caráter e educação”, afirmou ao Diário Corumbaense o juiz Emerson Ricardo, que desde criança sempre esteve envolvido com o esporte, mas só começou a praticar tênis depois que se mudou para Corumbá, em 2009. O magistrado contou que a ideia surgiu com o objetivo de tirar as crianças das ruas e de uma eventual vida de criminalidade e drogas. Ele lembrou que todos os seus amigos que praticavam esportes quando criança e adolescente tornaram-se adultos socialmente saudáveis.

Segundo o juiz, todo o material para os treinos como calçados, raquetes, bolinhas e demais acessórios são oferecidos pelo projeto, não sendo necessário nenhum recurso financeiro por parte das famílias dos alunos. O projeto social é financiado com dinheiro proveniente das transações feitas pelo Juizado Especial Criminal. “Para isso há apoio do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública para destinar esses recursos ao Conselho da Comunidade que repassa o pagamento que precisa ser feito ao professor de tênis e para comprar materiais para a prática do esporte”, explicou Emerson Fernandes.

As aulas são realizadas pelo professor Eduardo Cabral com auxílio de um assistente dentro da sede da Associação Médica de Corumbá. Os estudantes que estão matriculados na escola no período da manhã praticam o esporte pela tarde e vice-versa. Os alunos têm uma hora de aula de tênis por semana, sendo pela manhã nas terças-feiras, das 09h às 19h, e à tarde nas quartas-feiras, das 17h às 18h. Atualmente não há meninas no projeto, mas, segundo o magistrado, o objetivo é que ambos os sexos participem das aulas.

Caline Galvão/Diário Corumbaense

Juiz Emerson Ricardo Fernandes teve a iniciativa em 2012

Eduardo Cabral, que cobra mensalidade bem abaixo do valor normal para ministrar as aulas, confessou que sempre quis trabalhar com crianças carentes e, por isso, logo que o juiz foi conversar com ele sobre a possibilidade do projeto, ele abraçou a ideia. “Você acaba ganhando um certo afeto e respeito dessas crianças, tem algumas coisas que aconteceram, como uma dessas crianças que se meteu com crime, mas hoje já está aqui de novo, recebendo uma segunda chance e a gente vê que ela realmente mudou. É uma expectativa de trabalho para elas. Pode ser que saiam grandes jogadores de tênis do projeto, mas não é esse o maior objetivo”, disse Eduardo.

Projeto realizará seleção para novas 40 vagas

O juiz Emerson Fernandes afirmou que o “Saque de Ouro” iniciou com crianças entre 08 e 12 anos, mas ele começou a perceber que os mais novos passaram a faltar muito e o projeto agora vai passar a atender adolescentes entre 12 e 16 anos. Outra dificuldade que o magistrado observou foi sempre que há férias escolares os alunos deixam de participar das aulas de tênis. No projeto, há dois adolescentes que estão desde o início e que já estão treinando bem e participando de torneios, conforme o juiz.

Por causa das desistências, haverá nova seleção que será realizada no dia 31 de maio, das 09h às 11h e das 13h às 15h, no mesmo local onde ocorrem as aulas, no interior do prédio da Associação Médica, localizada na rua Campo Grande, nº 411, entre a Major Gama e Firmo de Matos, próximo à Escola Estadual Octacílio Faustino da Silva. O objetivo é abrir 40 novas vagas.

“De preferência, a criança deve estar acompanhada de um dos pais para que o projeto possa pegar os dados delas para poder ser realizada a seleção de quem pode participar. A gente analisa a condição socioeconômica da família, o projeto é aberto para crianças que não podem arcar com o custo da aula de tênis ou do clube”, explicou o juiz. O projeto é voltado apenas para famílias de baixa renda, que vivem com até três salários mínimos.

Adam Ixion, de 18 anos, está no projeto desde 2014. Ele disse que o esporte o ajudou na interação com outras pessoas e que a mãe fica muito feliz em saber que ele joga tênis. O que ele mais gostou no primeiro torneio que participou, em 2015, foi conhecer novas pessoas. Ele assegurou que dificilmente falta às aulas porque sabe que essa é uma oportunidade única.

Maurício de Souza, de 16 anos, afirmou que certo dia em 2012 estava sentado no muro da associação observando os atletas jogarem, até que o juiz Emerson Fernandes, que treinava no dia, perguntou se ele não queria treinar também. “Ele disse que ia começar o projeto e pegou meus dados e eu vim”, explicou o estudante que afirmou que o esporte mudou seu comportamento. “Eu não parava muito em casa, mas como o professor tinha dito que eu tinha que estudar para continuar no tênis, fiquei mais tempo em casa estudando”, disse Maurício que gosta de jogar em torneios contra atletas mais avançados. “Se eu pegar um mais forte, posso aplicar minhas técnicas e posso acabar vencendo ele”, disse.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Alunos de tênis melhoram comportamento com relação aos estudos na escola

Ageu Quevedo Soares, de 15 anos, soube do projeto através de um amigo que já participava. Ele ingressou no Saque de Ouro em 2015 e já participou de torneio. “Eu acho muito bom por terem dado essa oportunidade para a gente aprender outro tipo de esporte que não é tão conhecido em Corumbá”, frisou o estudante. Segundo ele, seu comportamento melhorou bastante depois que passou a treinar tênis. “É uma oportunidade única e que a gente tem que aproveitar o máximo”, disse.