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APAE de Corumbá desenvolve programa de estimulação precoce

Caline Galvão em 27 de Abril de 2016

Depois do crescente número de crianças nascidas com microcefalia no Brasil, a estimulação precoce passou a ser amplamente discutida no País ao ponto de o Ministério da Saúde ter emitido cartilha sobre o assunto em janeiro deste ano. No entanto, a estimulação precoce não ajuda apenas bebês com essa deficiência, mas toda criança que já nasce com qualquer tipo de dificuldade de aprendizagem. O objetivo desse procedimento é promover o desenvolvimento psicomotor dessas crianças o quanto mais cedo possível, para que possam ser mais independentes e, ao chegarem à fase adulta, serem cidadãos com autonomia.

Na APAE de Corumbá (Associação de Pais e Alunos dos Excepcionais), vinte crianças entre zero e cinco anos de idade estão inseridas no programa de estimulação precoce que acontece todas as manhãs na entidade, desde o final de março. Todas elas já nasceram com alguma dificuldade em seu desenvolvimento, como as crianças com paralisia cerebral, hidrocefalia, microcefalia e Síndrome de Down. Essas crianças estão divididas em dois grupos e cada equipe participa do programa duas vezes por semana. Um grupo nas manhãs de segunda e quarta e outro no mesmo turno das terças e quintas-feiras, das 07h às 11h. Na sexta-feira, as profissionais envolvidas no programa discutem ações e preparam aulas.

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Do programa fazem parte crianças de zero a cinco anos que tenham deficiências que dificultam o desenvolvimento psicomotor

O programa conta com os serviços de duas psicólogas e uma terapeuta ocupacional que fazem parte do Centro de Especialidades em Reabilitação (CER), uma fonoaudióloga que trabalha voluntariamente no local, e uma psicopedagoga, que faz parte da escola da APAE e que trabalha conforme contrato com o município. Em cada dia do programa, a psicóloga permanece uma hora com as crianças e as mães, a fonoaudióloga passa os próximos 60 minutos estimulando a linguagem e as outras horas são ocupadas por aulas com a pedagoga e com a terapeuta ocupacional. Durante o programa, as mães são orientadas a também estimularem seus filhos em casa.

Élida Campos, psicopedagoga que trabalha no programa explicou ao Diário Corumbaense que essas crianças recebem muitos estímulos através de contação de histórias e cantigas de roda porque estimulam muito a oralidade e o desenvolvimento psicomotor através das palmas. “São coisas que parecem simples, mas que elas sentem muita dificuldade. O maior objetivo dessa sala é trabalhar com as mães, para que elas façam esses exercícios em casa porque a gente sabe que na verdade essas quatro horas aqui são pouco tempo, principalmente porque são só duas vezes na semana. Todas que trabalham nessa sala fazem muito o trabalho de orientação para os pais porque esse é um trabalho contínuo”, afirmou Élida.

Ela frisou que quanto menor a idade das crianças, maior o estímulo e maior o desenvolvimento. “Quanto mais cedo começar esse trabalho, melhor o desenvolvimento, ou vai amenizar ou muitas crianças conseguem melhorar quase cem por cento”, garantiu Élida ao frisar que tudo isso depende muito da família porque sem a parceria dos pais, fica impossível. A psicopedagoga explicou que esse trabalho é muito importante para a inclusão dessas crianças na escola e na sociedade.

Programa é realizado em parceria com o município

A diretora pedagógica da APAE de Corumbá, Maria Estela Kerr de Souza, explicou que as crianças já estavam sendo atendidas pelo Centro de Especialidades em Reabilitação (CER), vinculado ao Governo Federal, mas que a demanda era grande no local. Por causa disso, a coordenadora do CER, Sônia Sabatel, se reuniu com a diretora-pedagógica da APAE para abrir essa sala de estimulação precoce. O CER disponibiliza diversos serviços com o objetivo de promover autonomia e independência de pessoas com deficiência. Dentistas, fonoaudiólogas, clínicos gerais, psiquiatras, psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais e enfermeiros são exemplos de profissionais que prestam serviço no Centro.

Crianças ouvem cantigas de roda e contação de histórias com a pedagoga, isso estimula a oralidade, o desenvolvimento do raciocínio e da locomoção

“O programa de estimulação precoce foi desenvolvido também porque essas mães estavam preocupadas com o desenvolvimento de seus filhos, já que essas crianças precisam de autonomia e ser incluídas nas escolas, ou seja, é uma necessidade urgente de trabalhar juntamente com as mães”, afirmou a diretora pedagógica da APAE, Maria Estela.

“Corumbá está sendo privilegiada porque é a única cidade do Mato Grosso do Sul que está com esse programa, onde nós trabalhamos muito o fortalecimento dos vínculos familiares. O Governo Federal, através do SUS, começou com esse programa em Fortaleza, por causa dos casos de microcefalia, e nós estamos aqui não só com microcefalia, mas com outros tipos de deficiências”, afirmou Maria Estela que explicou que o programa funciona em parceria com a Prefeitura de Corumbá.

Lílian Guimarães, mãe de Júlia Ananda, de três anos de idade, leva todas as segundas e quartas-feiras sua filha à sala do programa de estimulação precoce. Júlia nasceu com paralisia cerebral e precisa ser estimulada para poder ter uma vida mais autônoma. “A estimulação é muito boa para o desenvolvimento dela. Em casa tenho estimulado todos os dias depois do banho dela, fazendo a shantala, passando óleo por todo o corpo dela”, disse Lílian. A shantala é uma massagem que alivia tensões no bebê, previne cólicas, facilita a adaptação da criança ao novo ambiente e funciona como estimulação precoce no desenvolvimento psicomotor. É ensinada junto à terapeuta ocupacional.

Lílian afirmou que já viu melhoras na filha e espera que na adolescência Júlia seja uma garota independente. “Eu espero que ela se desenvolva a cada dia e que viva bem e com autonomia, sem precisar da ajuda de ninguém, por isso faço o possível para não faltar nenhum dia”, afirmou a mãe que confessou que o que Júlia mais gosta é quando há cantigas.

Ana Cláudia Ferreira leva a filha Kássia, de 2 anos, desde que ela nasceu ao Centro de Especialidades em Reabilitação (CER). Agora com o programa de estimulação precoce, ela espera que a menina se desenvolva e consiga andar o quanto antes. “Quando ela veio para cá, o desenvolvimento dela cresceu bastante. Essa estimulação é muito interessante com cânticos, tem o trabalho da fonoaudióloga, a massagem de estimulação. Eu faço massagens nela em casa, eu fiz a ‘calça da vovó’ para arrumar o corpinho dela, para não ficar torta”, contou a mãe.

O programa também visa orientar as mães e estreitar vínculos familiares

A “calça da vovó” é uma boia de pano feita com uma calça comprida preenchida de retalhos com o objetivo de promover o controle vertical da criança. O intuito é fazer com que a criança apoie os cotovelos no rolo de pano e seja estimulada com objetos coloridos para proporcionar a extensão vertical.

“Eu espero que daqui  a dez anos minha filha esteja boa, correndo, andando, falando, se Deus quiser, minha filha vai ficar bem. Por isso eu estou aqui, me esforçando, trazendo-a aqui”, disse esperançosa a mãe de Kássia a este Diário.

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