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Profissionais investem em negócios de consertos para superar crise econômica

Caline Galvão em 02 de Setembro de 2015

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Setores de vendas de alimentos, “marido de aluguel” e conserto e reparos em calçados e roupas ganham destaque

Tecnicamente, o Brasil já vive uma recessão econômica e a mais difícil crise financeira enfrentada nos últimos vinte anos. Nesse período, onde a esfera privada e a administração pública estão cortando gastos, alguns setores da economia permanecem firmes e realizando investimentos. Profissionais que apostam na comida rápida e em conserto de produtos provam que há como driblar a crise e sobreviver em meio à dificuldade enfrentada por todas as profissões.

A criação de um negócio muitas vezes surge mais por necessidade do que de maneira voluntária. Parte dos profissionais que tem se tornado empreendedor atravessa situações como falta de emprego ou necessita complementar renda, como aconteceu com Noemi Bachega que abriu um brechó ao lado da empresa de telefonia onde trabalha. “O brechó foi uma segunda opção, eu tinha muita roupa. Foi uma aposta que deu certo e é uma moda também. Muita gente gosta de roupa de brechó, eu tenho clientes que vêm todos os dias”, afirmou Noemi.

Com o cenário econômico desfavorável, sem data prevista para o fim, as famílias brasileiras estão buscando diversas maneiras de remediar os efeitos da crise. Segundo o professor universitário Anderson Luís do Espírito Santo, esse é um bom período para as pessoas investirem em um novo micro ou pequeno negócio. Ele afirmou que três setores vêm ganhando destaque no território nacional neste ano de 2015: comércio de vendas de alimentos e foodtruck, “marido de aluguel” e conserto e reparos em calçados e roupas.

“O setor de alimentação sempre é o último a sentir os efeitos de uma crise e o primeiro a sair dela, afinal, as pessoas precisam comer”, afirma o professor do curso de Administração na UFMS. Ele disse que há diversas possibilidades a serem exploradas neste ramo e uma delas é o trabalho de “foodtruck”. “Trata-se de um caminhão, mas no Brasil ônibus e kombis também vêm sendo muito utilizados, que oferece comidas e lanches a preço baixo. As pessoas que procuram esse tipo de serviço querem passear, se alimentar e economizar ao mesmo tempo. Para um pós-crise, a tendência é a permanência e fortalecimento dos foodtruck”, Anderson Luís.

Em loja de conserto de celulares e notebooks o aumento pela procura dos serviços foi de aproximadamente 20%

Ele citou também o “marido de aluguel” como saída para quem trabalha como eletricista e tem conhecimento em conserto de materiais domésticos e reparos em residências. “Os reparos nas casas e apartamentos sempre foram, e continuam sendo, necessários. Além disso, a restrição ao crédito e as dificuldades em se conseguir linhas de financiamento levam as pessoas a reformarem as casas ao invés de vendê-las, encarar um novo financiamento ou aquisição”, explicou o professor que afirmou também que mesmo em época de estabilidade econômica, a atividade de trabalhar com reparos e pequenas obras em Corumbá se mostra como “excelente oportunidade”, visto a dificuldade sinalizada pelos moradores para encontrar mão de obra especializada nesse setor.

Há cinco meses trabalhando como “marido de aluguel”, o pastor evangélico Eduardo Gomes é técnico em ar-condicionado e eletricista predial e residencial. Ele afirmou que já trabalhava na área antes de se tornar “marido de aluguel”. “Comecei para complementar renda e dar uma segunda opção aos moradores da cidade”, contou. Ele disse que a atividade principal é conserto de ar-condicionado, mas realiza pequenos reparos e serviços elétricos. “De abril para cá, a procura subiu cerca de 70%. É uma opção para sair da crise ou para você se manter mesmo com ela”, comentou ao Diário Corumbaense.

A terceira opção para se investir na época de crise é em conserto de roupas e calçados, segundo o professor da UFMS, Anderson Luís. “Os setores do vestuário, calçados e acessórios são os que mais sofrem em épocas de crise, pois as pessoas começam a gastar menos com esses produtos e partem para as reformas e customizações. Assim, cabe uma atenção especial para este setor que está em alta”, frisou. 

Proprietária de uma loja de conserto e confecção de roupas localizada na 7 de Setembro, Lenise de Arruda Viégas afirmou que a crise financeira que o País enfrenta não afetou os seus negócios. “O conserto de roupas ficou na mesma, na verdade acredito que a procura até aumentou, mas não diminuiu de forma alguma”, assegurou. “Já estava assim. As pessoas procuram reutilizar roupas, principalmente porque aqui nós reformamos totalmente. Nosso conserto não é só fazer barra, não é só apertar”, destacou. A empresária contou também que a crise não está gerando grande impacto sobre a confecção de roupas sob medida e uniformes.

No setor de conserto de roupas não houve queda pela procura do serviço

Outro setor que está superando a crise é o conserto de eletrônicos e eletrodomésticos. Há vinte anos trabalhando com conserto de eletrônicos na Dom Aquino, José Carlos de Araújo percebeu nos últimos meses a quantidade de clientes aumentar. “Graças a Deus, a quantidade de serviço aumentou bastante. De maio pra cá, cresceu na média de 30% a 40%, tanto que eu tive que aumentar a loja porque não tinha mais espaço. As coisas estão começando a melhorar. Não sei se é por causa da crise que as pessoas estão preferindo consertar  do que comprar, até por causa dos juros, então, realmente, para mim, melhorou bastante”, afirmou. O profissional chegou a parar de trabalhar durante três semanas para poder ampliar o estabelecimento comercial que não comportava mais a quantidade de materiais que estavam chegando. A maioria dos clientes deixa para conserto televisões do estilo antigo, com monitor em tubo, mas há também muitos DVDs e aparelhos de som.

A empresária Gislene Arruda, proprietária de uma loja de informática na 13 de Junho, disse que a quantidade de serviço também cresceu em sua empresa. Nos últimos três meses, os serviços aumentaram aproximadamente 20%. “Com o aumento do dólar, o valor das peças aumentou muito e os produtos que vendemos na parte de informática e celular também aumentaram, então, a gente teve que aumentar um pouquinho também o valor do conserto, mas a procura ainda é grande”, frisou. A loja trabalha com vendas de materiais de informática e celular e também oferece serviço de conserto de eletrônicos como tablet, celular e computador.

Planejamento e pesquisa

O professor Anderson Luís ressaltou que antes de empreender em qualquer atividade, é necessário planejamento e muita pesquisa. “As pessoas precisam trabalhar com aquelas atividades que gostam, que sentem prazer em realizar. Conversas com fornecedores, empresários que já possuam alguma atividade que você esteja planejando e até com contadores, e buscar orientação com o próprio Sebrae, são sempre recomendados”, alertou o professor que concluiu frisando que esse é um período em que as famílias devem economizar e evitar parcelas e financiamentos.

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