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“Propostas educativas cativam e afastam crianças do crime”, diz padre

Nelson Urt - Agência Navepress em 03 de Agosto de 2015

Mais de 4 mil crianças e adolescentes são atendidas nos projetos sociais da Missão Salesiana em Corumbá, que tem como ícone padre Ernesto Sassida, que faleceu em 2013, aos 93 anos, deixando um grande legado como missionário salesiano das obras de Dom Bosco. São projetos de reforço escolar, cursos de artes, música, informática, esportes e qualificação que oferecem uma oportunidade de encaminhamento profissional às classes menos favorecidas economicamente, muitas delas em situação de vulnerabilidade.

Agência Navepress

Padre Jair Marques de Araújo vê nas propostas educativas uma saída para tirar adolescentes das drogas e violência

“Quando você oferece uma estrutura de atendimento, quando tem propostas educativas capazes de cativar e gerenciar o processo educativo dos jovens, eles aceitam essas opções”, afirma o padre Jair Marques de Araújo, nesta entrevista ao Diário Corumbaense. “Aqui, por exemplo, as crianças que ficam conosco estão longe de qualquer experiência de crime”, acrescenta. Corumbaense de 45 anos, Jair é formado em filosofia e teologia, com mestrado em educação superior. Formado em Araçatuba, São Paulo, ele retornou a Corumbá para atuar na coordenação da Faculdade Salesiana Santa Teresa, nos projetos sociais da Cidade Dom Bosco, nos assentamentos Tamarineiro e Taquaral e na comunidade de São Pedro.

Diário Corumbaense – Quais são os principais parceiros da Missão Salesiana em Corumbá?

Padre Jair - Temos um parceiro muito forte hoje, a Prefeitura de Corumbá, que tem nos ajudado na condução desses projetos sociais. Contamos também com o apoio do governo do Estado. Temos benfeitores no Brasil e nos países europeus, a Fundação Dom Bosco na Espanha e a Mizzione Salesiana na Itália, que foram trabalhos deixados pelo padre Ernesto Sassida. Na Europa os padrinhos são famílias.

Diário - O apoio é suficiente para manter os projetos?

Padre Jair - Se tivéssemos mais recursos poderíamos oferecer mais qualidade e atender um número maior de crianças. Temos demandas: o Poliesportivo Dom Bosco está precário, precisa ser reformado, e o antigo teatro da Cidade Dom Bosco também precisa passar por reforma. Com os recursos que recebemos, ou atendemos a criança ou mantemos a estrutura. Se usarmos recursos para reformas, ficamos sem atender as crianças, que precisam de material escolar, refeições, café da manhã, almoço, lanche da tarde, educadores que acompanham. Os professores do Colégio Dom Bosco são da rede estadual. Os educadores pertencem aos projetos sociais. Temos parceria com a Prefeitura no Projeto Crianças e Adolescentes Felizes. E outros funcionários mantidos pela Missão Salesiana.

Diário - A crise socioeconômica do País afeta os projetos sociais?

Padre Jair – Sim, principalmente nas doações de benfeitores. E também afetam os recursos provenientes de órgãos públicos, pela contenção de despesas. Além disso, existe a crise das instituições sociais e de famílias que, se já estavam em situação difícil, ficam piores, a crise reflete nelas. 

Diário - Quais são hoje os principais projetos da Missão Salesiana em Corumbá?

Padre Jair – Atendemos mais de 4 mil crianças e adolescentes em projetos sociais. O “Criança e Adolescente Feliz” recebe crianças e adolescentes no contraturno, com reforço escolar, artes, música, esporte, curso de informática, e no ano que vem teremos curso de línguas. No Projeto de Adoção à Distância contamos com 800 crianças. Temos ainda o Adolescente Aprendiz, em que jovens na faixa dos 15 aos 18 anos recebem formação para serem aprendizes nas empresas. Duas vezes por semana fazem curso de formação administrativa e no restante do período eles trabalham nas empresas durante quatro horas como aprendizes.

Diário – O senhor acredita que a redução da maioridade penal vai ajudar a conter a violência entre adolescentes?

Padre Jair – Não vai resolver o problema. O problema não está na criança e no adolescente, mas na estrutura familiar que ele tem, e na ausência do Estado no combate sério ao crime, que acaba vendo na criança uma vítima fácil para ser seduzida para realização de crimes. Existe trabalho infantil que precisa ser combatido, é a mesma coisa que o crime faz, agencia a criança para situações de violência. Ocorre que famílias em situação de vulnerabilidade estão expostas a drogas e acabam entrando para caminho da violência. A gente percebe que o jovem pode ser vítima de droga tanto nas classes elevadas como nas classes baixas. Mas droga associada à violência comumente está na questão de pobreza.

Diário – O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) restringe o trabalho infantil, impede que adolescentes troquem o trabalho pela escola. Como o senhor analisa essa situação?

Padre Jair - Essa restrição se deve aos abusos, porque muitos jovens eram impedidos de estudar, lançados no mercado de trabalho para sustentar a família. Alguns usaram essa experiência e alcançaram ascensão profissional, mas a maioria ficou restrita a serviços braçais e sem qualificação. O espírito da lei é no sentido de preservar ao jovem o direito de se qualificar para o mercado de trabalho, não para ele viver no ócio. As pessoas interpretam que o adolescente é um vagabundo, mas não é isso. O sentido da lei não é esse. É preservar o direito ao estudo e à qualificação do trabalho.