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Assaltos em horários e locais incomuns deixam taxistas em alerta

Rosana Nunes e Ricardo Albertoni em 19 de Novembro de 2014

“Eram 19 horas, quatro pessoas vieram até o ponto de táxi solicitar uma corrida até a parte alta da cidade. Quando cheguei no destino, vi que se tratava de um assalto. Próximo à rua Paraná, os supostos passageiros, três homens e uma mulher,  anunciaram o assalto já me golpeando com uma facada na barriga, e outra na garganta. Queriam me tirar à força, mas como havia movimento na rua acabaram fugindo. Foi Deus quem me salvou.” O crime relatado por um taxista que prefere não ter a identidade informada, ocorreu em 2010, mas as marcas ainda  continuam presentes no corpo e na vida dele, assim como no cotidiano de muitos outros trabalhadores que ganham a vida transportando pessoas, que na maioria das vezes mal conhecem.

Após quatro anos, a insegurança entre os profissionais que atuam na área continua, porém, o padrão dos assaltos mudou. Em menos de 10 dias, dois assaltos a taxistas foram registrados em Corumbá. O que chama a atenção e coloca os profissionais e autoridades da segurança pública em alerta, é o fato de os crimes terem acontecido durante o dia, em horários diferentes dos considerados de risco. “Três homens, armados com faca, me renderam às 09h da manhã e me liberaram a 01h da tarde. Colocaram um capuz na minha cabeça, me deixaram no banco de trás e ficaram rodando com o veículo. Eu pensei no pior. Passei a agir com mais cautela em relação a horários e passageiros, apesar de que não existe mais hora pra esse tipo de crime”, disse a vítima de assalto no dia 10 de novembro ao Diário Corumbaense.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Crimes aconteceram durante o dia, em horários diferentes dos considerados de risco

O taxista contou com a ajuda dos colegas de trabalho para recuperar o veículo, um Cobalt, na Bolívia um dia depois. “Eles (os assaltantes) passaram para o outro lado da fronteira, minha sorte é que a bateria descarregou e o veículo foi abandonado. Um taxista boliviano viu o carro e avisou aos taxistas brasileiros, que foram até o local, viram a chave no contato, conseguiram dar um ‘tranco’ no veículo e o trouxeram de volta”, relatou o taxista que ainda disse estar revoltado com a burocracia que está encontrando para regularizar novamente o táxi junto aos órgãos de trânsito. “O meu veículo está sem placa, porque os bandidos arrancaram ecorro o risco de ser multado. Ainda tenho que ir na Agetrat fazer nova vistoria, a vítima é que acaba sendo penalizada”, concluiu.

Outro assalto

Em outro roubo, na segunda-feira (17) pela manhã, um taxista foi assaltado próximo ao portal de entrada da cidade. Ele recebeu um telefonema por volta das 08h solicitando uma corrida. Chegando ao local, os supostos passageiros entraram no carro e anunciaram o assalto. Um deles colocou uma faca no pescoço da vítima e fizeram com que ele passasse para o banco de trás. O taxista que trabalhava com um veículo arrendado, foi deixado próximo ao anel viário e os bandidos fugiram levando o carro. Na delegacia, a vítima informou que os assaltantes aparentavam ser menores de idade. Desta vez, o veículo, um Prisma, não foi levado para a Bolívia e foi encontrado abandonado, na tarde de terça-feira (18) na alameda Vasco da Gama, no Morro da Carlinda, parte alta de Corumbá.

Para outro taxista, que mesmo não tendo passado pela experiência de ser assaltado, cautela deve ser também a palavra adotada para tentar escapar de situações como essas. “Procuro não levar pessoas suspeitas, e em telefonemas, costumo fazer perguntas como: quem deu a referência, nome, entre outras. Geralmente quando a pessoa está mal intencionada, ela se entrega”, afirmou.

Os profissionais apontam a flexibilidadeda lei penal e a falta de frequentes fiscalizações na fronteira como principais fatores para o aumento de crimes. “Eles — a Polícia — falam que já escaparam do flagrante. Prende e no outro dia está solto ou horas depois, e a Justiça não toma providência. Os bandidos estão aí; as pessoas dão informação e eles não vão atrás porque sabem que não vai dar em nada”, disse uma das vítimas.

Procurado pela reportagem, o delegado da Polícia Civil, Pablo Gabriel Farias da Silva, preferiu não entrar no mérito da discussão sobre a lei penal brasileira. Ele informou que a equipe de investigação tem trabalhado para identificar os autores dos roubos com base nas informações repassadas pelas vítimas. O delegado não acredita que as ações dos bandidos sejam coordenadas, mas também os assaltos intrigam pelo fato de que geralmente o bandido não rouba táxi porque sabe que no lado boliviano, os receptadores não compram esses veículos. “Mas estamos investigando para chegar à autoria desses crimes”, afirmou o delegado adjunto do 1º Distrito Policial.