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Amizade entre jornalista e poeta Manoel de Barros gera livro

O livro de contos-reportagens “Vaso de Colher Flores”, do escritor e jornalista corumbaense Luiz Taques, é um apanhado de momentos ao lado do poeta Manoel de Barros

Lívia Gaertner em 10 de Agosto de 2009

Divulgação

Poeta Manoel de Barros e o jornalista Luiz Taques nutrem longos anos de amizade

Ao folhear cada página, a sensação de estarmos numa conversa descompromissada, mas cheia de confissões que somente o tom de uma amizade nutrida há muitos anos pode proporcionar. O livro de contos-reportagens “Vaso de Colher Flores”, do escritor e jornalista corumbaense Luiz Taques, é um apanhado desses momentos ao lado do poeta Manoel de Barros, aquele que é considerado pela crítica o maior poeta brasileiro vivo. Em entrevista ao Diário, Taques contou como surgiu essa amizade com o poeta que, apesar de ter nascido em Cuiabá, no antigo estado de Mato Grosso integrado, considera Corumbá, onde foi criado nas fazendas de gado da família, como sua cidade de coração. 

“Fui do partido comunista e um advogado, também do partido, chamado Ismael, veio para Campo Grande na década de 80 e me trouxe um livro do poeta que achou num sebo em São Paulo. Quando eu li a palavra cansanção, lembrei que na rua da minha casa aqui em Corumbá, a Edu Rocha,  tinha um pé de cansanção. Puxa, daí falei: ‘esse cara tem tudo a ver comigo’. E fui atrás de outros livros dele - ele já tinha publicado uns seis - e, depois fui visitá-lo. Li mais um outro livro dele em que falava do Bola Sete, personagem que conheci e expus essa afinidade, o fato de ser corumbaense”, lembra o jornalista.

Como o poeta se considera avesso a entrevistas, só poderia deixar chegar ao leitor detalhes de sua vida através de um amigo como Taques. Numa das 55 páginas do livro de contos-reportagens a explicação de Manoel para evitar a interpelação falada. “Entrevista precisa ser uma obra de arte. Para mim, não me satisfaz uma entrevista falada. Falando, a gente está jogando conversa fora.” E assim, jogando “conversa fora”, geralmente regada a um bom chopp, que Taques foi recolhendo informações sobre a vida pessoal e detalhes do processo de criação e personagens da poética manoelina.  “Eu não o entrevisto, eu nunca entrevistei o Manoel. Eu converso, não anoto nada, mas vou tirando os elementos pro conto. Dependendo do conto, eu mostrava pra ele ou pra Dona Stella (esposa do poeta) para verem se tinha algum dado, alguma coisa incorreta”, confidencia o jornalista corumbaense. 

A aproximação rendeu, por exemplo, revelar a figura humana por trás do personagem Bernardo, citado pelo próprio poeta como seu alter ego. O velho peão Bernardo aparece em muitos poemas como a continuidade do espaço natural, simples e repleto de significações. Em “Vaso de Colher Flores” a foto daquele que o poeta gostaria de ter sido a sua história. “É que na fazenda, quando se aborrecia com qualquer besteira, ele subia em cima de uma árvore e dormia. Em cima da árvore, ele tinha feito uma cama – uma cama de tábua, apoiada entre galhos. Ele dormia horas nessa cama. Jamais despencou”. Esse relato nos faz pensar que, talvez, por isso o poeta tenha escrito no Livro da Ignorãças (1993) que “Bernardo é quase árvore”. 

Outra figura importante para o poeta, a esposa Stella, com quem é casado há 61 anos é revelada no conto-reportagem Senhora Poesia. Assim como o poeta, a senhora é discreta e convencê-la só foi possível, mais uma vez, por meio da amizade do jornalista com o poeta. “Eu nunca tinha ouvido falar que alguém tinha entrevistado dona Estela. Aí, foi uma luta convencê-la. Ela falou: 'Só se o Manoel deixar'. E ele disse: 'Ah, o Taques, eu deixo'. Até porque ele já tinha se tornado meu amigo de boteco, cerca de duas vezes por mês, eu o pegava na casa dele e, enquanto a dona Estela estava fazendo compras, a gente ficava tomando chopp”, revela Luiz Taques. 

Descrito no livro como “um senhor miudinho de estatura, porém sobejo de candura”, o jornalista reafirmou na entrevista ao Diário essa que considera ser uma das grandes características da personalidade do poeta. “Se existe um santo na Terra é esse cara, ele é de uma bondade, uma generosidade que você não encontra nas pessoas. Um cara muito bacana como pai, como amigo, como companheiro porque ele está com a dona Stella tem 60 e poucos anos, e até hoje ele tem ciúmes dela”, conta. Os contos-reportagem trazidos em “Vaso de Colher Flores” foram publicados no jornal Folha de Londrina, cidade onde atualmente reside o jornalista, e na Revista Caros Amigos entre os anos de 1995 e 2005. Exemplares da publicação podem ser adquiridos por reembolso postal através do endereço da editora Letradágua (rua Henrique Tamanini, 303, Iririú. CEP: 89227-482 – Joinville – SC). Telefone e e-mail para informações são: (47) 3437-9537 e letradagua@terra.com.br.