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"Quero nova oportunidade para corrigir meus erros", diz Zeca

Ex-governador fala sobre a decisão de disputar o Governo do Estado em 2010

Rosana Nunes em 01 de Maio de 2009

Diário Online

Zeca diz estar buscando unidade do PT

O ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, que comandou o estado em dois mandatos (1999 a 2002 e 2003 a 2006)  iniciou uma maratona de visitas aos municípios do Estado, incluindo Corumbá e Ladário, para discutir com militantes do partido as eleições internas, marcadas para novembro, e que vão definir os novos diretórios municipais, estaduais e nacional, além das eleições 2010. Nesta entrevista ao Diário Online, Zeca fala sobre a decisão de colocar o seu nome como candidato do PT ao Governo do Estado em 2010, faz duras críticas ao governador André Puccinelli, do PMDB e diz que ele e o senador Delcídio do Amaral, já deram passos importantes para um entendimento.  Confira. 

Diário: O que o senhor tem buscado nessas visitas aos municípios?

Zeca: Primeiro fazer uma avaliação mais precisa de toda a incapacidade politica e administrativa do atual governo e estou percebendo que não existe praticamente nenhum setor da comunidade sul-mato-grossense contente com  o governo do PMDB. Desde a semana passada estou caminhando, dialogando com  todos os setores. Não só com o PT, mas com as autoridades políticas, vereadores, prefeitos, lideranças de classes, empresariais ou trabalhadores. Há um desgaste cada vez mais profundo, um desmonte da imagem do atual governador, que fez uma campanha eleitoral prometendo que ia fazer no Estado o que fez em Campo Grande e na verdade não fez. Tenho dialogado com os produtores rurais e vejo muitos desses envergonhados porque maciçamente apoiaram o André e a primeira coisa que ele fez foi leiloar a Agesul. Tínhamos comprado 186 máquinas e equipamentos novos e ele entregou absolutamente de graça às empreiteiras. Com empresários urbanos vejo donos de comércios desesperados com o terror fiscal, em cada loja existe um fiscal e estão esfolando vivo aquele que gera emprego nas cidades. Tenho conversado com servidores públicos e percebo profissionais da educação, da saúde, da segurança, desmotivados pela falta de diálogo e perspectiva e do autoritarismo do atual governador. Converso com os prefeitos e eles reclamam que o que tinha de convênio, o governo tirou tudo e deixou só o ônus para os prefeitos tocarem. E por último tenho dialogado com as minorias, com os indios, assentados, e estes estão absolutamente abandonados. Este é meu diagnóstico. É lamentável perceber que o governo, em 2 anos e meio, se desmontou. 

Diário: No carnaval, o senhor esteve com o presidente Lula.  Ele avalizou sua candidatura ao governo?

Zeca:  Eu disse ao presidente Lula que aqui em Mato Grosso do Sul, não cabe aliança com o PMDB  porque é um suicídio político. Disse que pensava isso porque 'a mão que afaga o senhor quando vai lá, presidente Lula, é a mão que bate no PT, que atribuiu ao senhor as mazelas das lutas das causas indígenas e pela reforma agrária'. Por outro lado, fui comunicar a ele que não quero ser senador. Não me interessa ir para Brasília. 'Vim  pedir sua autorização, senhor presidente, para percorrer o Estado e colocar meu nome a disposição do PT'. E é isto que estou fazendo. 

Diário: Mas o governador André disse que Lula teria dito à ele, em Corumbá, quando veio à fronteira com a Bolívia, que queria a aliança PT-PMDB...

Zeca: O presidente Lula me garantiu que não houve esta conversa. Isso é pura invenção. O Lula me disse que ele sabe que Estados como Rio Grande do Sul,  Pernambuco, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul não tem como ter aliança. Vim para cá absolutamente tranquilo, confortável e autorizado a fazer minha caminhada. Sou 'lulista', se não fosse assim não estaria fazendo essa empreitada.

Diário: A sua relação com o senador Delcídio do Amaral é um ponto fundamental para a unidade do partido. Há possibilidade de entendimento?

Zeca:  Conversei com o senador Delcídio, demos passos importantes para um entendimento que seja capaz de harmonizar, apaziguar e tranquilizar o PT e, a partir daí, trazer outros partidos políticos para fazer uma grande composição democrática e popular.  Na época do nosso encontro, em Brasília, disse ao Delcídio que se o problema para o entendimento é meu nome como candidato a presidente do PT, eu abro mão. Mas isso em torno de um nome em comum, que não seja a derrota dele e nem a minha. Que seja uma vitória em comum, que mantenha uma candidatura própria e um nome que não tenha pretensões para o ano que vem, porque senão contamina, perde a autoridade. E falei mais. Tamanho o desgaste do André, se continuar assim e ele, Delcídio, achar que tem que ser o candidato a governador, eu abro mão de minha candidatura pra ele.

Diário: O senhor faria isso?

Zeca: Faria porque já fui muito além de que um dia eu sonhei.  O que eu não posso é depois de tudo que eu ganhei, com a generosidade do povo, é me omitir num momento desses. Tem uma frase, de Mao Tese-Tung, que diz que para fazer a revolução alguém tem que dar o primeiro passo para ganhar a guerra. Acho que eu dei um passo, o Delcídio também está dando seus passos e depende muito da humildade, da maturidade de nós dois, construirmos um momento novo, harmonioso.

Diário: O senhor como petista histórico, como recebeu as declarações do governador André de que levou o PT, para o "motel eleitoral"?

Zeca: Eu me sinto ofendido por isso como um cidadão. Ninguém espera que o governador tenha este comportamento arrogante, violento, ameaçando a tudo e a todos, falando as coisas mais absurdas que ninguém imagina saídas daquele que é o chefe de Estado. Eu acho que são três os problemas do André:  o desgaste do atual governador e a ausência de investimentos do Estado, fora os do Lula, através do PAC, que ele não bota propaganda; a incapacidade gerencial do atual governo e mais do que qualquer coisa é o palavreado chulo, de baixo calão que ele utiliza.

Diário:  A administração de André em Campo Grande, é sempre lembrada. Mas é diferente governar um Estado?

Zeca: Acho que ele ainda não demonstrou nenhuma competência. A verdade é que ele pegou em Campo Grande uma administração arrumada pelo Lúdio (Coelho) e pelo Juvêncio (da Fonseca). E ele pegou o nosso governo que, em dois anos, quadruplicou a arrecadação do ICMS e portanto, pode fazer os investimentos que ele queria. O Estado tem um orçamento bom, mas engessado. O que ele arrecada, a maioria tem vinculação obrigatória e percentual. De tudo que o Estado arrecada, sobram 40% para pagar folha, para fazer a vinculação da educação e da saúde, e para fazer os investimentos. Se não souber governar, não governa. E ele está demonstrando que não sabe governar com dificuldades.

Diário: O sul-mato-grossense hoje está mais triste?

Zeca: Eu acho que sim. Porque se alimentou de uma expectativa extraordinária em torno da candidatura do André. A propaganda deles é de que o André faria no Estado o que fez em Campo Grande. Ele não fez absolutamente nada, nem na Capital e nem no interior do Estado. Ao contrário,  acabou o relacionamento harmonioso e democrático.

Diário: Corumbá e Ladário são administradas pelo PT hoje. O senhor se sente à vontade aqui?

Zeca: Sim. Eu criei ao longo de minha trajetória política uma empatia, uma relação de carinho generoso do povo de Corumbá e Ladário comigo. Todos dizem e eu acredito que se nós saírmos candidatos contra ele (André) ou contra quem for, se nós unificarmos o PT, nós saímos aqui em Corumbá e Ladário com mais de 80% dos votos. No passado eu fiz isso e Delcídio também fez. A tendência nossa é repetir essa votação extraordinária em consequência da credibilidade que construímos nas duas cidades. 

Diário: Por que o senhor quer voltar a governar Mato Grosso do Sul?

Zeca: Quero uma nova oportunidade para corrigir meus erros.  Meu pai dizia muito para nós que errar é humano. E isso é verdade. Somos humanos, falíveis. Mas ele também dizia que persistir no erro é burrice. E eu detesto ser burro. Quero, sem nenhum deslumbramento, sem nenhum egoísmo, com humildade e a virtude que Deus me deu, voltar a governar. Agora, que estou prestes a completar  60 nos, e a maturidade que os dois governos me deram, quero fazer um governo capaz de atrair investimentos e tornar o Mato Grosso do Sul forte, industrializado, poderoso, mas que também seja um governo generoso para estender a mão a quem precisa.

Diário: Qual o maior erro que acha que cometeu?

Zeca: Acho que, principalmente, alguns comportamentos devem ser corrigidos. A humildade é um componente importante na vida do ser humano. Quero repetir isso para fazer melhor ao Mato Grosso do Sul.