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Há quase um ano pedalando pela América do Sul, ciclista paulista chega a Corumbá

Caline Galvão em 08 de Novembro de 2016

Chegou a Corumbá, por volta de meio-dia de domingo (06), o ciclista Luís Antônio Soares Botelho Cunha que já pedalou pelo Sul do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Bolívia fotografando belas paisagens. Aos 24 anos, Luís começou sua aventura no dia 13 de janeiro saindo de casa, na capital paulista. Montado em sua bicicleta, iniciou a viagem pela BR-116 e chegou a uma praia no sul de São Paulo chamada Cananeia, atravessando para o Paraná pelas ilhas do Superagui, comunidade de pescadores. De lá, subiu para Curitiba, centro do montanhismo brasileiro, de onde saiu para pedalar na Serra Catarinense e desceu a Serra do Rio do Rastro chegando à costa do Rio Grande do Sul. De lá, foi a Porto Alegre, onde permaneceu por dez dias trabalhando e então seguiu para os Pampas Gaúchos.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

O ciclista está pedalando desde o dia 13 de janeiro

Na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em Caçapava do Sul, com um amigo ele conseguiu ter conhecimentos geológicos da região. De lá, atravessou a fronteira do Brasil em Aceguá, divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai, entre os dias 12 e 13 de maio. No norte daquele país, o ciclista desceu até Melo, capital do Departamento de Cerro Largo, e depois passou por mais três capitais no noroeste do Uruguai, onde cruzou cerca de 500 quilômetros até a fronteira da Argentina, na cidade de Salto. Na Argentina, percorreu pelo sul e foi pelo leste até Córdoba e, a partir dali, começou a seguir pelo norte daquele país.

Da província de Jujuy, na Argentina, Luís foi para o Chile pelo Paso de Jama, na altura do deserto do Atacama. A primeira cidade chilena aonde chegou foi em São Pedro de Atacama e seguiu para Calama e de lá para Ollagüé, fronteira entre o Chile e a Bolívia. Em território boliviano, o ciclista pedalou por Chiguana, foi até Uyuni. “De lá, por problemas de saúde, por causa do clima de Puna que é muito duro, há uma variação climática absurda, chegando a 15°C de dia e -15°C à noite e muito seco, tudo sangrava, meu nariz, unhas, boca, aí resolvi pegar um ônibus de Uyuni até Cochabamba, viagem de 700 quilômetros”, disse Luís ao Diário Corumbaense.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Luís Antônio faz postais para vender com fotografias realizadas durante sua viagem

De Cochabamba, ele pedalou até Corumbá, retornando ao Brasil pela fronteira por volta de meio-dia do dia 06 de novembro. “O que me levou a começar a viagem principalmente foi querer conhecer os povos vizinhos porque eu tenho esse sentimento de que todo nosso desenvolvimento intelectual é sempre voltado para a Europa e Estados Unidos e a gente nunca fala sobre esses países vizinhos. Eu falo inglês fluente, mas não sei espanhol. Eu fui para isso, para aprender espanhol, conhecer as culturas e de bicicleta porque dessa forma se faz trechos pequenos, de 60 a 100 quilômetros por dia, então você vai conhecendo os vilarejos e vai percebendo toda a mudança socioeconômica, cultural, mudanças de sotaques, costumes de comidas”, disse Luís Antônio.

Ciclista sentiu medo ao passar pelo deserto do Atacama, no Chile

Aliada a essa vontade de conhecer nações vizinhas, depois de se formar em junho de 2015 pela Universidade Mackenzie, de São Paulo, no curso de Desenho Industrial, ele já estava trabalhando, mas acabou sendo demitido. “É muito difícil conseguir trabalho em São Paulo, ainda mais na minha área, mas com fotografia já vinha trabalhando desde 2012. Aliei isso a um projeto de fotografia e a minha proposta é fazer um retrato das diversas paisagens da América Latina”, afirmou Luís. Ele está arquivando todas as fotografias em duas linhas: uma de paisagens, que também se transformam em postais para venda, e outra de registrar o próprio cotidiano, as dificuldades, a forma de descanso, os amigos que faz pelo caminho.

“Posso falar de dois lugares que me impressionaram de forma distinta. O primeiro foi Santa Catarina, a Serra Catarinense me impressionou pela qualidade de vida totalmente diferente de tudo o que já vi no Brasil. Qualidade dos rios, qualidade dos lugares para você acampar, é uma região de pequenas propriedades, então tem muita gente em todo lado, o pessoal cuida da região, local colonizado por povoamento, bem distinta. Nas escolas públicas se ensina alemão por ter muitos descendentes de alemães e italianos. Tem ônibus que leva as crianças dos povoados para as escolas, elas vão sozinhas, crianças de seis, sete anos, isso me impressionou”, disse o ciclista a este Diário.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

O projeto fotográfico do ciclista deve ser concluído em 2018

Luís se impressionou também com a fronteira da Argentina com o Chile e toda a região do Chile ao sudoeste boliviano. “Não tem nenhum lugar para se abrigar na sombra, o vento é fortíssimo, você não consegue se locomover de bicicleta, não tem água. Naquela área do Chile, as únicas coisas que têm são estações de minas e trem”, destacou. O ciclista contou que antes de sair de São Paulo tinha uma parte do caminho esquematizada, mas o cansaço e as questões climáticas fizeram com que mudasse de rota algumas vezes.

O aventureiro confessou que por muitas vezes sentiu medo, mas sempre seguia seus percursos à base do estudo. “Eu vou angariando informações para superar esse medo. No deserto, no Chile, cheguei em Chiu Chiu e fiquei na casa de uns arquitetos alguns dias e eu estava com muito medo porque os dois trajetos que fiz no Chile precisei de ajuda de carona, o vento mudou e não dava para andar, aí parou um caminhão e me levou por 30 quilômetros. Eu estava com muito medo porque tinha ainda uns 200 quilômetros pela frente para chegar a Bolívia e eu sabia que lá não tinha muito carro e não tinha nenhum abastecimento de água, tinha sempre que levar cinco litros e meio de água. Subidas e descidas muito largas, foi a parte que tive mais medo foi lá, em São Francisco de Chiu Chiu, no deserto do Atacama”, contou Luís Antônio.

Daqui de Corumbá, ele segue viagem na manhã desta terça-feira (08) para o sul do Pantanal, vai pegar a Estrada Parque, vai ao Porto da Manga, segue para Bonito e depois para Campo Grande. Na capital, vai tentar apoio de ônibus ou caminhão que o leve para São Paulo para passar as festas de fim de ano com sua família. A ideia é retornar às viagens na primeira ou segunda semana de janeiro quando deve retornar a Campo Grande e pedalar até Rondônia. Ele quer passar pela Chapada dos Guimarães, conhecer o pantanal norte e entrar na Amazônia.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Luís Antônio é formado em Desenho Industrial pela Mackenzie, é ilustrador e fotógrafo

“De lá vou decidir se do Acre vou para o Peru e cruzo novamente as cordilheiras até o Equador, depois Colômbia e de lá para América Central de avião ou de Rondônia vou para o Amazonas, Venezuela e cruzo para a Colômbia. Creio que para chegar ao norte do México e concluir meu projeto fotográfico vai levar mais um ano e meio. Acho que até julho de 2018 devo concluir”, finalizou.

O ciclista tem um blog (www.umrisco.wordpress.com) e uma página no facebook chamada “A vida virou um risco” onde relata seu cotidiano e expõe inúmeras fotografias dos locais por onde passa. Aprendendo aos poucos o espanhol, ele redige os textos em português e na língua estrangeira. Pelo site, o leitor pode ajudá-lo comprando fotografias de diferentes tamanhos. O dinheiro é revertido para o seu projeto.

Comentários:

Sonia Dadda: Tivemos o prazer de receber o Luiz LM aqui em casa no litoral do Rio Grande do Sul.Grande projeto! Recebemos muitos ciclistas...muitas histórias vem junto.Viajamos sem sair de casa...Luiz LM volte sempre...

Claudia Cunha: Caline Galvão parabéns! Excelente reportagem onde o Luis pode falar dos seus sentimentos e desafios nesse projeto. Além disso mostrou bem a intenção do Luis em buscar esse desafio, não foi ao acaso, ele planejou e estudou o projeto. Como todo projeto ele tende a ser adaptado por várias condições adversas. Luis é meu filho, e estou muito feliz em vê-lo com esse lindo projeto que busca mostrar um mundo mais humanizado. Ele só está onde está graças a sua determinação e coragem e também a humanidade de todos com quem encontrou e todos que o incentivam. Gratidão a todos! Claudia Cunha

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