Ricardo Albertoni e Marcelo Fernandes em 08 de Junho de 2016
Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense
De acordo com o coordenador municipal de Defesa Civil, tenente Isaque do Nascimento, existe um movimento lento, sucessivo e gradual que recomenda uma intervenção para correção dos problemas
A Defesa Civil de Corumbá realizou nesta terça-feira (07) vistoria técnica no prédio da igreja centenária Matriz de Nossa Senhora da Candelária, padroeira de Corumbá. A inspeção atendeu solicitação formal da Diocese do município, após no dia 31 de maio, uma parte da estrutura de gesso do teto cair.
A Defesa Civil fez levantamento fotográfico, da funcionalidade da estrutura que compõe o prédio da igreja, além da identificação das anomalias visíveis. Entre as situações detectadas pelo órgão destacam-se a formação de fendas em paredes, corrosão metálica, degradação de elemento de madeira em paredes, eflorescência em paredes e teto.
De acordo com o coordenador municipal de Defesa Civil, tenente Isaque do Nascimento, a ausência continuada de manutenção contribuiu para o desgaste da estrutura e que a queda de parte do teto na última semana confirma isso. “Existe um movimento lento, sucessivo e gradual que recomenda uma intervenção para correção, recuperação desses pontos que em princípio são os mais importantes", afirmou ao Diário Corumbaense.
A Defesa Civil identificou diversos pontos com problemas visíveis no prédio
A fiação elétrica, que não faz parte do projeto inicial do prédio inaugurado em 1877, mas foi implantada ainda no século passado com a utilização de materiais obsoletos, além das condições da estrutura do teto original do prédio composta em sua totalidade de madeira, são as situações que exigem maior cuidado. Durante a inspeção foram encontradas colônias de cupins em estruturas de madeira e em alguns pontos da fiação foi observada a presença de tecido usado no revestimento dos fios.
“Nas áreas em que pudemos observar, os problemas estão aparentes, está se desenhando um quadro de risco, ou seja, ele está em evolução. Diante da incerteza sobre a real condição do teto, que não tivemos acesso completo, nos leva a dizer que esse risco não deve ser subestimado. É possível que ali tenha presença de fungos, apodrecimento da madeira, presença de cupins. Há sim a probabilidade de ocorrer um desabamento”, afirmou Isaque do Nascimento.
Após a vistoria técnica, a Defesa Civil irá elaborar um documento apontando os problemas e será formalizado um termo de interdição parcial.
PAC das Cidades Históricas e mobilização da comunidade
O prédio da igreja, que recebeu a última reforma completa na década de 1960, é um dos dez projetos contemplados pelo PAC das Cidades Históricas do Governo Federal, conforme anunciado em janeiro de 2014. Ao todo, estavam previstos R$ 19,6 milhões para restauração e requalificação de prédios e equipamentos históricos, localizados na área tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, e de entorno. De acordo com a Fuphan, o projeto de restauro total da Igreja Matriz, enviado ao PAC das Cidades Históricas, tem custo de R$ 1,8 milhão e prazo de execução de 10 meses a 1 ano.
Porém, a incerteza sobre a liberação dos recursos, devido a instabilidade do cenário político e econômico, além da urgência em iniciar a recuperação, levaram a Diocese de Corumbá a solicitar à Prefeitura autorização para dar início à obra, gradualmente, com a captação de recursos por intermédio de campanhas na cidade.
O bispo diocesano, Dom Segismundo Martinez Álvarez, disse a este Diário que a Paróquia de Nossa Senhora da Candelária criou uma comissão de gerenciamento e captação de recursos para o início das obras de recuperação. "Sabemos que não é do dia para a noite que vamos conseguir viabilizar os recursos, mas estamos contando com o envolvimento de toda a sociedade corumbaense, pois a Matriz não é somente um patrimônio da igreja, mas de toda a cidade de Corumbá", destacou.
Segundo a diretora-presidente da Fundação de Desenvolvimento Urbano e Patrimônio Histórico, Maria Clara Scardini, há pelo menos dois anos e meio que o Município trabalha para que os recursos sejam liberados e as obras possam ser executadas. “A Igreja Matriz, devido a sua importância, o estado de conservação, apresentamos o projeto, que foi aprovado e a partir daí começamos a cumprir uma série de exigências que o IPHAN faz para que pudéssemos aprovar, de fato, o recurso. Trabalhamos em cima de pesquisa, prospecção pictórica e de uma série de quesitos técnicos, desenho, elaboração de planilhas, orçamento. A Fuphan encaminha para o IPHAN, que analisa e devolve com pendência, corrigimos, vai, volta, mas isso é um trâmite normal. Precisava adequar às normas do Ministério da Cultura, nisso foram dois anos e meio”, revelou ao comentar a barreira burocrática enfrentada.
Ao Diário, Maria Clara explicou ainda que os projetos aprovados por Corumbá no PAC Cidades Históricas aguardam a liberação de recursos. Estão em andamento as readequações do Jardim da Independência e da Praça da República. Os outros oito, incluindo o restauro da Igreja Nossa Senhora da Candelária, estão na fila esperando a liberação dos recursos pelo Governo Federal.
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