Terra Notícias em 14 de Janeiro de 2015
A edição da revista satírica Charlie Hebdo desta semana, a primeira lançada após o atentado contra sua sede na última quarta-feira, se esgotou rapidamente nesta manhã nas bancas de jornal da França. Em Paris, a maioria das bancas do centro da cidade ficou sem exemplares antes das 08h (05h de Brasília), logo depois que abriam. Nas estações do metrô, também se formaram filas em frente aos pontos de venda até que era anunciado o fim dos exemplares.
Às 09h (06h de Brasília), o diretor da empresa responsável pela distribuição, Patrick André, anunciava que a tiragem seria aumentada de 3 para 5 milhões, quando 700 mil exemplares já haviam sido vendidos. “Há poucos Charlies em Paris neste momento”, disse, antes do esgotamento da edição nas bancas. No Twitter, um dos cronistas do jornal, Patrick Pelloux, confirmou a reimpressão.
Por volta das 06h30 (03h30 de Brasília), uma banca perto da estação de metrô Parmentier já havia vendido as 50 edições que recebera, frustrando clientes. “Umas 25 pessoas estavam esperando aqui às 6h. Foi tudo muito rápido”, disse Hassan, proprietário do local, que disse ter vendido apenas um exemplar para cada pessoa.
Perto dali, na Place de la République, onde começou a grande manifestação do último sábado, algumas bancas ainda estavam fechadas no horário. Numa delas, franceses e alguns estrangeiros, como este repórter, começavam a improvisar uma fila em frente a um quiosque fechado.
“Minha prima é americana e pediu para eu comprar. É uma edição histórica – e vai custar caro daqui 10 anos”, disse Charlotte Ghevart, enquanto aguardava numa manhã em que os termômetros marcavam 6ºC.
Depois de abrir seu quiosque e organizar mostruários, por volta das 7h, o vendedor colocou uma pequena pilha com dezenas de edições do Charlie e iniciou a venda. “Acho que não vou ter o suficiente”, disse, contando as edições e olhando para as cerca de 30 pessoas que aguardavam, fazendo-me desistir de levar três cópias e ficar com apenas uma.
"Queria comprar pelo menos cinco para mandar para alguns amigos”, disse o americano Michael Moshman, que garantiu seu exemplar e saiu à procura de outros. Nas ruas de Paris, quem carregava uma cópia do Charlie Hebdo era abordado por outros passantes, que procuravam saber onde ainda havia cópias à venda.
Edição tem Maomé chorando na capa
A edição após o massacre na redação do Charlie Hebdo tem o profeta Maomé chorando na capa, portando o cartaz Je Suis Charlie (Eu sou Charlie). Ao topo, a frase: “tudo está perdoado”.
O jornal, no entanto, não deixou de fazer piada com a própria situação. Na contracapa, um desenho do cartunista Luz mostra jihadistas chegando ao Paraíso. “Onde estão nossas 70 virgens”, perguntam. “Com a equipe do Charlie, perdedores.” Outro mostra um terrorista sentando em um lápis: “nossos lápis serão sempre mais afiados que suas balas”.
As páginas centrais trazem referências à marcha que reuniu mais de 1,5 milhão de pessoas em Paris e cerca de 3,7 milhões em toda a França. “Mais gente por Charlie que para a missa”, diz. A edição também publicou desenhos dos cartunistas Cabu, Charb, Tignoux e Wolinski.
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