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Idosa vai reencontrar filhos que não vê há mais de 20 anos; padre localizou família em SP

Marcelo Fernandes em 31 de Julho de 2014

Morando sozinha numa casa simples, na verdade um barraco ou um casebre de uma peça, no sopé de um morro no prolongamento da rua Marechal Floriano, na região do Guanã, com problemas cardíacos e sem qualquer tipo de renda, Margarida Lopes, 64 anos, viúva, sobrevive com a esperança de reencontrar os sete filhos, que não vê há 21 anos, quando deixou Guarulhos, no estado de São Paulo, com destino ao Paraguai para seguir a vida ao lado do companheiro, que havia conhecido após separar-se do pai de seus filhos.

Essa espera de mais de duas décadas vai terminar no final de semana, quando parte da família chegará de São Paulo. O reencontro só foi possível porque o padre Rosalino de Jesus dos Santos, pároco da igreja São Bartolomeu, localizou – com auxílio da internet – filhos e netos de dona Margarida.

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Dona Margarida, com as fotos dos filhos, leva vida bastante humilde e sobrevive com apoio de famílias, igreja e assistência social

Viúva há mais de um ano, dona Margarida não titubeia e pronuncia num fôlego só os nomes de todos os filhos: “Izilda, Estela, Wilson, Nilson, Ailson, Elisângela e Maria Elisabete” disse.

“Tive 11 filhos, morreram quatro. Tenho sete vivos, que são quatro mulheres e três homens”, completou a idosa sentada num toco de árvore, que serve de banco do lado de fora de sua casa.

Ela contou ao Diário Corumbaense, com a voz um pouco fraca (ela deixou na
segunda-feira passada o hospital, onde chegou a ser internada na UTI por conta de problemas cardíacos) que saiu de São Paulo nos anos 90 e desde então sempre tentou retomar contato com filhos e filhas, mas nunca teve meios para localizá-los. O medo de ser rejeitada por eles também emperrava qualquer iniciativa.

“Achava que iriam me receber mal, eu queria localizar, mas tinha medo do que podiam falar, jogar na minha cara que eu abandonei todos, que fui embora. Mas, me falaram que já está tudo normal. Tinha uns 40 anos quando saí”, disse.

Dona Margarida explicou o que a fez deixar o convívio com a família. “Saí porque vim com meu companheiro, perguntei se queriam vir comigo, não quiseram e eu vim com ele. Eu já era separada do pai deles, fazia mais de dois anos. Essa outra pessoa era daqui e vim para cá, primeiro fomos para o Paraguai, na cidade onde fui não tinha nem correio. Nesse período eu tentei localizar muitas vezes, mas só o padre que conseguiu”, disse. “Todos estão em São Paulo, não tem ninguém aqui”, completou.

Tendo um cotidiano “complicado”, como ela mesma definiu, a vida agora se resume à espera pelo final de semana, quando deve acontecer o reencontro entre mãe e filhos e filhas. Parte dos filhos sai de São Paulo nesta sexta-feira e deve chegar a Corumbá no sábado, 02 de agosto, quando o padre Rosalino deve promover a reunião da família passados mais de 20 anos da última vez que se viram. “Agora estou esperando meus filhos”, declarou quando questionada sobre o que esperava para sua vida.

Dona Margarida já conversou por telefone com praticamente todos os filhos, que aguardam ansiosos a chance de reencontrarem a mãe. Elisângela Lopes, 28 anos, conversou por telefone com a mãe na manhã de quarta, dia 30. O padre Rosalino ligou para ela em São Paulo. Elisângela disse ao Diário que não conseguia dormir de tamanha felicidade e já contava as horas para viajar até Corumbá.

“É uma emoção muito boa, sempre esperei por isso, era pequenininha quando ela foi embora e sempre esperei por ela. Depois desse contato não consigo nem dormir, não vejo a hora de encontrar com ela, nem durmo direito. Falei na terça-feira, dia 29, pela primeira vez com ela. Não tem como não chorar, quando ouvi a voz da minha mãe, que eu nem lembrava como era, fiquei emocionada”, disse contando que tem três filhos e quer apresenta-los à mãe para que ela os abençoe.

Padre encontrou família através das redes sociais

O reencontro só está sendo possível porque a história de vida da dona Margarida chamou atenção do padre Rosalino de Jesus dos Santos e da comunidade da paróquia São Bartolomeu. Ele a conheceu no final do ano passado, quando ela foi pegar sacolão, que a igreja distribui. De lá para cá, aos poucos, ela foi se sentindo à vontade e gradativamente contando um pouco de como era sua vida.

“A história dela com a gente começou com o trabalho social que nossa paróquia de São Bartolomeu faz. Quando chegou dezembro, do ano passado, nossa intenção era entregar cestas básicas para famílias carentes, os coordenadores da comunidade Nossa Senhora do Pantanal a localizaram e viram que ela necessitava muito, sobretudo de alimentação e ela foi no dia da missa, próximo do Natal, receber a cesta”, disse o religioso.

Padre Rosalino viu que dona Margarida precisava de muito mais que cesta básica; precisava do amor dos filhos

Como ela não tinha forças para transportar o sacolão, o próprio padre levou na casa dela. “Fiquei comovido, percebi que necessitava de muita ajuda, que a situação carecia de muito mais que uma cesta básica, Ela precisava de carinho e atenção, era sozinha e bastante doente”, contou. O pároco pediu que a Pastoral da igreja acompanhasse com atenção a vida dela, que foi contando “aos poucos a história dela e falando os nomes dos filhos. Como ela foi para  a UTI decidi arriscar todas as possibilidades, sentia no coração que encontraria a família dela”, contou o padre. Sem qualquer documento, o primeiro passo foi localizar o registro de nascimento dela, que foi localizado em Santos. De posse da segunda via, a documentação pessoal será emitida. O segundo passo foi buscar na internet uma ferramenta que pudesse ajudar a encontrar algum familiar.

“A partir da certidão fui buscando nomes dos filhos e até que encontrei no Facebook uma suposta filha dela, a adicionei e veio um sinal muito interessante, percebi que a filha não entrava naquela página há mais de anos e seria por Deus esse contato. Adicionei possíveis netos e um deles informou e ela me adicionou. Então, disse que havia uma senhora em Corumbá que podia ser a mãe dela. Imediatamente me contou que há anos procurava pela mãe, Tudo isso foi no domingo passado, dia 27 de julho. Depois que localizei a filha mais velha, eles lá se acionaram e foram me adicionando. Pensei inicialmente em não contar para ela e deixar os filhos chegarem para o encontro, mas como ela teve esse problema de saúde decidi preparar o coração dela para recebê-los, para o momento. Sempre pregueio que devemos ajudar quem precisa da gente. Ela está adotada por uma família que a ajuda com alimentos e estamos sempre buscando o apoio da assistência social do município, que também ajuda, lá do CRAS 2. Como cristão, como filhos de Deus podemos ir muito longe e podemos dar o mínimo de dignidade para as pessoas, que é o que queremos oferecer para ela. Estamos emocionados em poder devolver para dona Margarida o que ela tanto buscou, que era a família”, finalizou o religioso. 

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Comentários:

Leandro José Monteiro: Parabéns Padre Rosalino, isso é ser um Pastor segundo o Coração de Jesus. Alegria de ter convivido com o senhor no seminário e saber que você realizar coisas boas na vida do povo de Deus.

Rosalene Rondon : Olá Padre Rosalino, eu sou da comunidade Dom Bosco, que Deus lhe dê muita coragem, muita sabedoria, o mundo precisa disso, que Deus o abençoe, o senhor e esta família que vão se reencontrar novamente estão nas minhas orações.

Esdras de Paula: Meus parabéns padre Rosalino. Como é tão fácil fazer uma pessoa feliz, basta ter amor no coração. Muitos cristãos podem fazer muito mais.

sergio cunha: Parabéns ao Pe Rosalino, temos orgulho de tê-lo como filho da nossa terra, agora é claro só Deus pode julgar, porém é difícil entender uma mãe que abandona os filhos ainda criança para viver com um companheiro. Que bom que agora ela vai poder reencontrar os filhos e ter uma velhice feliz. Como Deus é misericordioso.

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